A História de Tangalimlibo - Folclore da Tribo Xhosa, África do Sul

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   Era uma vez um homem que tinha duas esposas. Com uma delas ele não tinha filho algum. Justo por isso, ela sofria muito.
   Um dia, um pássaro voou até ela e deu-lhe algumas pequenas pelotas. Disse que ela deveria comê-las, uma a uma, sempre antes de cada refeição, e que, depois disso, ela daria à luz uma criança.
   A mulher não cabia em si de contentamento, e ofereceu ao pássaro alguns grãos de milho-miúdo. Mas o pássaro recusou a oferta.
   A mulher, em seguida, lhe ofereceu sua isidanga, que é a faixa ornamental que as mulheres usam no peito, mas o pássaro disse que aquilo não teria nenhuma serventia para ele, e continuou sem aceitar nada. A mulher, então, pegou algumas pedrinhas, arrumou-as diante do pássaro, e ele, enfim, aproximou-se e pousou em suas mãos. Comeu e voou.
   Depois disso, a mulher teve uma filha. Seu marido não ficou sabendo nada do que havia acontecido, porque nunca ia à casa da esposa. Ele não a amava até então, pela simples razão de que ela  ainda não lhe tinha dado nenhum filho. Então, ela prometeu a si mesma:
   - Eu manterei minha filha dentro de casa até que meu marido tenha vindo aqui. Ele certamente me amará, quando descobrir que eu lhe dei uma criança tão bonita.
   E deu à filha o nome de Tangalimlibo.
   A mulher continuou com seus afazeres. O homem ia com frequência à casa de sua outra esposa e nunca vinha visitar a mãe de Tangalimlibo. O tempo foi passando e, quando ele viu a filha pela primeira vez, ela já era uma jovem mulher. Ele ficou muito contente e disse:
  - Minha querida esposa, você deveria ter-me contado antes!
   O que o homem não sabia é que a moça nunca tinha posto os pés fora de casa durante o dia. Somente à noite ela se aventurava a sair, quando as pessoas não podiam vê-la. Por isso o segredo durou tanto!
   O homem, depois de conhecer a filha, disse para sua esposa:
  - Você deve preparar muita cerveja e convidar muitas pessoas para comemorarem comigo essa maravilha que me aconteceu!
   A mulher concordou. Havia uma árvore grande em frente ao vilarejo e, no dia marcado para a festa, várias esteiras foram espalhadas sob ela. Aquele dia foi de muita felicidade e muita comemoração. Muitos homens vieram comemorar com eles, até o filho de um chefe, que se apaixonou por Tangalimlibo assim que a viu pela primeira vez.
   Quando o jovem filho do chefe voltou para casa, enviou uma mensagem ao pai de Tangalimlibo, dizendo que ele deveria mandar a filha para ser sua esposa. O homem contou a novidade para todos os amigos. Aproveitou para dizer-lhes também que estivessem prontos para em breve o ajudarem a conduzir a filha até o chefe. Só então chamou a filha e contou a ela a boa-nova.
   A festa do casamento foi verdadeiramente grande, e mataram muitos bois para as bodas. Tangalimlibo ganhou de seu pai um boi gordo e bonito. No auge da felicidade, ela deu seu próprio nome ao boi e ainda tirou um pedaço da sua própria roupa e deu ao boi para comê-la. Era um pacto!
   Tangalimlibo era muito amada por seu marido; e era ainda uma mulher linda e habilidosa. Algum tempo depois de casada, teve um filho, mas continuava com aquele problema de nunca sair de casa durante o dia, por isso passou a ser chamada Sihamba Ngenyanga, que quer dizer "aquela que caminha ao luar".
   Um belo dia, o marido de Tangalimlibo e os outros homens foram caçar bem longe. A esposa ficou na companhia do sogro, da sogra, e de uma menina que cuidava do bebê.
   O sogro começou a repara nos hábitos da moça e da casa, e acabou por comentar.
  - Por que ela não faz nada durante o dia?
   O sogro, então, inventou que estava sedento, e mandou a moça que cuidava do bebê dizer a Tangalimlibo que ele ia morrer de sede naquela casa se não lhe dessem água fresca.
   A mulher, imediatamente, enviou água ao seu sogro, mas ele derramou tudo no chão, dizendo:
  - Só bebo água do rio!
   Ela, então, disse:
  - Mas eu nunca me atrevo a ir ao rio durante o dia!
   O sogro continuou insistindo:
  - Assim eu vou morrer de sede!
   Tangalimlibo passou a mão na vasilha do leite, numa cabaça, e foi chorando até o rio. Quando ela mergulhou a cabaça na água, o pote escapuliu de sua mão. Rapidamente ela enfiou a vasilha do leite na água so rio, mas esta também escapou de suas mãos. Então, ela tentou pegar água com o manto e, desta vez, foi puxada para dentro d'água.
   A menina que cuidava do bebê, ao perceber que Tangalimlibo não voltava do rio, saiu à sua procura. Não teve êxito algum e voltou correndo e dizendo:
  - Não consegui encontrá-la! Eu sabia! Ela só estava acostumada a sair para buscar água de noite.
   O sogro de Tangalimlibo dirigiu os bois rapidamente para o rio. Pegou o grande boi de pertencia à nora- e que até tinha o mesmo nome dela - e matou-o. Foi então lançando as carnes e as partes do boi no rio, dizendo:
   - Leve isso em vez da minha criança. Leve isso em vez da minha criança.
   E uma voz, por fim, respondeu:
  - Vá até meu pai e minha mãe e diga a eles que fui levada pelo rio.
   Naquela mesma noite, o pequeno bebê de Tangalimlibo chorou desesperadamente. Seu pai ainda não tinha voltado para casa. Sua avó tentou de tudo para fazê-lo parar de chorar, mas nada deu resultado. Então, ela deu a crianças para a menina que cuidava dela, e a moça ficou segurando a criança nos braços. Como o bebê não calava a boca de jeito nenhum, a moça foi até a beirada do rio, embalando o menino, e cantando para ele:
  - "Ele chora, ele chora,
    O filho de Sihamba Ngenyanga;
    ele chora e não vai parar"

   Com isso, a mãe do menino saiu de dentro do rio e cantou, lamentando:


   "Ele chora, ele chora,

    o filho da andarilha do luar.
    Tudo foi planejado
    por aqueles que
    nem ouso nomear.
    Ainda era de dia.
    e ela foi obrigada a buscar água na bacia.
    Tentou com a vasilha do leite,
    que afundou.
    Tentou com a cabaça,
    que também afundou.
    Tentou mais uma vez, com seu manto, e este também afundou e a levou...
    Quanto pranto".

   Ao final de cada verso, ela repetia seu nome, como um coro:

   - A andarilha do luar... A andarilha do luar...
   E ao findar da cantoria, ela pegou seu próprio filho no colo e colocou-o para mamar.
   Quando a criança acabou de sugar e sugar, ela devolveu-o para a moça que cuidava dele, recomendando-lhe que levasse o menino para casa com o maior dos cuidados. Fez também a moça prometer que não contaria nada a ninguém, muito menos que ela tinha saído das águas. E ainda completou:
  - Se perguntarem como o menino matou a fome, diga que deu a ele alguns grãos...
   Isso se repetiu por muitos e muitos dias: todas as noites, a moça levava o menino até o rio, Tangalimlibo saía das águas, olhava ao redor, para certificar-se de que não havia mais ninguém por perto, amamentava seu próprio filho e dava sempre as mesmas ordens à moça.
   Muito tempo depois, o marido de Tangalimlibo, finalmente, voltou da caçada. Os pais contaram a ele que a esposa tinha ido ao rio e nunca mais tinha voltado. O homem pediu então para ver o filho, e a criada veio com a criança. Quando ele perguntou o que estavam dando para o menino comer, e contaram a ele que o menino se alimentava de grãos, ele disse:
   - Não pode ser! Tragam aqui esses grãos e deem a ele na minha frente, que eu quero ver...
   A moça foi buscar os grãos e fez o que seu patrão pedia. O menino não comeu um grão sequer. Então, o pai da criança exigiu que a moça contasse a verdade: as idas noturnas ao rio e os encontros com Tangalimlibo, que saía das águas para acariciar e dar de mamar a seu bebê.
   Emfim, eles combinaram uma maneira de salvar Tangalimlibo: quando ela saísse do rio para amamentar a criança, o marido, que estaria escondido entre os juncos, deveria agarrá-la e conduzi-la de volta para casa.
   Foi longa a espera e longos os preparativos. Na noite marcada, o homem pegou o couro de um boi, cortou uma longa tira e amarrou, cortou uma longa tira, deu para os homens da aldeia, que tinham ido junto para ajudar, caso fosse necessário, dizendo que deveriam segurar com força e puxar ainda mais , se sentissem algo arrastando-os na direção contrária. Feito isso, esconderam-se entre os juncos e esperaram.
   Tangalimlibo saiu das águas e olhou em volta, enquanto cantava sua música. Perguntou à moça se havia alguém mais por perto e, quando a moça disse que não, ela finalmente tomou seu filho nos braços.
   Imediatamente, o marido saltou em cima dela, e abraçou-a bem apertado. Ela tentou se soltar, mas os homens da aldeia puxaram a faixa com toda a força do mundo. E ela foi sendo puxada e arrastada, arrastada e puxada. Mas inexplicavelmente, o rio vinha junto, bem atrás da moça, e suas águas logo tingiram-se de vermelho-sangue.
   Quando finalmente chegaram perto da aldeia, os homens que estavam puxando a faixa viram a mulher, o rio, o sangue, e se assustaram. ENtão, soltaram a corda na mesma hora, e o rio regressou a seu lugar, levando Tangalimlibo com ele.
   Nesse momento, o esposo foi chamado por uma voz, que vinha das águas, dizendo:
  - Vá procurar meu pai e minha mãe e diga a eles que fui levada pelo rio.
   O marido, imediatamente, chamou seu boi mais veloz e deu a seguinte ordem:
  - Vá, meu boi veloz, vá. Leve essa mensagem par ao pai e para a mãe de Tangalimlibo!
   E disse ao boi o que ele deveria repetir quando chegasse lá. O boi se pôs a mugir muito alto e nem saiu do lugar. O homem então chamou seu cachorro e disse:
  - Vá você, meu cão fiel, vá. Leve esse recado para o pai e para a mãe de Tangalimlibo!
   E disse o que o cão deveria dizer. Mas o cachorro se pôs a latir desesperadamente e também nem se mexeu.
   Por fim, ele chamou o galo e disse:
  - Vá, meu galo cantador. Vá e leve o recado para o pai e a mãe de Tangalimlido.
   E o galo respondeu:
  - É o que farei meu mestre.
   E o patrão continuou:
  - Então me diga, o que você vai contar a eles?
   E o galo finalmente respondeu:
  - Eu cantarei assim:
   "Eu sou um galo que não pode ser morto,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Eu vim por Tangalimlibo,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Ela está morta,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Ela mergulhou na água,
   Por quem, é bom nem falar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   O boi vinha avisar, mugiu e não saiu do lugar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   O cão vinha avisar, latiu e não saiu do lugar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Agora, então, sou eu quem vai contar!"
 
   O filho do chefe, satisfeito, disse:
  - Assim está bem, meu galinho, agora vá!
   E quando o galo estava seguindo seu caminho, foi visto por uns moços que estavam cuidando de uns bezerros.
   Um deles chamou os outros correndo e disse:
  - Venham logo, venham, meus amigos, olhem ali um galo para a nossa janta!
   Então o galo se sacudiu , se aprumou todo e cantou. Quando chegou ao fim da canção, os rapazes disseram, maliciosamente:
  - Cante novamente, nós ainda não escutamos bem!
   Então o galo cantou de novo:
    "Eu sou um galo que não pode ser morto,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Eu vim por Tangalimlibo,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Ela está morta,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Ela mergulhou na água,
   Por quem, é bom nem falar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   O boi vinha avisar, mugiu e não saiu do lugar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   O cão vinha avisar, latiu e não saiu do lugar,
   Galo-ê-aluê-aluê
   Agora, então, sou eu quem vai contar!"

   Então os rapazes deixaram o galo seguir seu caminho.

   Ele andou muito desde que partiu da casa de seu dono, em busca da aldeia dos pais de Tangalimlibo. E passou por diversos lugares, onde viu muitos homens sentados nas vilas. Numa de suas paradas para descansar, alguns homens notaram a sua presença e perguntaram:
   - Mas de onde vem e para onde vai esse galo?
   E se atiraram em cima da ave.
   - Nós costumamos comer todos os galos que encontramos!
   E perseguiram-no sem sossego:
  - Venham, meninos, depressa! Vamos matá-lo!
   Mas o galo começou a cantar sua canção. E aí alguém disse:
  - Esperem, vamos ouvir o que ele tem a nos dizer!
   Ao final, eles pediram:
  - Cante novamente, nós não conseguimos ouvi-lo direito!
  O galo concordou, com uma condição:
  - Deem-me comida. Estou quase morto de fome!
   Os homens mandaram os meninos buscar um pouco de milho-miúdo e deram ao galo. Depois de comer e se fartar, ele cantou de novo sua canção.
   Foi o suficiente para os homens chegarem à conclusão:
  - Vamos deixar que ele siga seu caminho!
   Finalmente ele chegou à aldeia onde viviam os pais de Tangalimlibo e pôs-se a procurar a casa dos pais da moça. Quando a achou, transmitiu o recado, tal qual havia cantado todas as outras vezes.
   Os pais da moça sabiam exatamente o que deveriam fazer quando recebessem aquele recado em forma de canção. A mãe de Tangalimlido era uma mulher habilidosa e sabia usar os chás, as ervas, os remédios. Na mesma hora, e disse para seu marido:
  - Vamos até lá. Temos de levar conosco um boi gordo!
   Nem é preciso dizer que logo estavam todos à beira do rio, na aldeia em que Tangalimlibo vivia com seu marido. Eles finalmente mataram o boi gordo, e a mãe da moça preparou as ervas, enquanto os outros iam colocando a carne do boi dentro da água. Houve um grande tremor, o rio se abriu e, de dentro dele, saiu Tangalimlibo.
   E foi com imensa alegria que todos daquela aldeia receberam a moça de volta a seu lar.
   E agora, deixem o galinho contar! Pra lá e pra cá! Cocorocó!!!



        Sobre a Tribo Xhosa

   O povo Xhosa é um grupo étnico da África Austral. Vivem no sudeste da África do Sul, e nos dois últimos séculos, em todas as partes do sul e centro-sul do país. O povo Xhosa é dividido em várias tribos com heranças distintas, porém relacionadas. As principais tribos são o Mpondo, Mpondomise, Bomvana, Xesibe, e Thembu. Além disso, o Bhaca e Mfengu adotaram a língua Xhosa.  O nome “Xhosa” vem de um líder lendário chamado Uxhosa. Há também uma teoria que, antes disso, o nome xhosa veio de uma palavra que significa “forte” ou “irritado” em algumas línguas San. Os Xhosa referem a si mesmos como Amaxhosa, e à sua língua como Isixhosa. Atualmente, cerca de 8 milhões de indivíduos Xhosa estão distribuídos em todo o país, e a língua Xhosa é o segundo idioma mais falado da África do Sul, depois do Zulu, o qual está diretamente relacionado.






       Fonte: 

       SISTO, Celso. Mãe África: Mitos, Lendas, Fábulas e Contos. São Paulo: Editora Paulus, 2008.


A Origem da Noite - Folclore Tupi-Guarani

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   Há muito tempo, a noite ainda não existia na Terra. Escondida no fundo do rio, ela ficava dormindo no reino da Cobra Grande. O único que já a tinha visto, num sonho, era o pajé, numa ocasião em que havia chamado as almas dos mortos. Ninguém sabia como ela era, porque a noite não fazia parte do reino dos vivos.
   Os animais também não existiam. Ainda não tinham sido criados, mas todos os objetos falavam como os homens. Os brinquedos conversavam com as crianças, e as armas com os guerreiros.
   Um dia, a filha da Cobra Grande, que reinava no Grande Rio escuro, abandonou seu reino e foi viver na floresta. Ia se casar com Tacunha, o filho mais velho do cacique.
   Tacunha tinha três fiéis servidores que o acompanhavam por toda a aparte. No dia do casamento, pediu a eles que o deixasse sozinho com a noiva. Quando eles foram caçar, Tacunha chamou a mulher e disse:
   - Venha dormir perto de mim.
   - Agora não, não é possível - disse ela. - Ainda não é noite.
   O rapaz, espantadíssimo com a resposta, exclamou:
   - Noite? O que é isso? Você está falando de uma coisa que não existe...
   - Existe, sim - respondeu ela. - Minha mãe mantém a noite prisioneira, no fundo do Grande Rio escuro onde você me encontrou. Se quiser, peça a seus servidores para irem à procura dela. Mas eles não podem, de maneira alguma, saber o que estarão transportando. Se desobedecerem, ficarão enfeitiçados para sempre.
   O rapaz chamou os servidores e lhes disse:
   - Quero que vocês três partam para o reino da Cobra Grande, no Grande Rio. Digam a ela que sua filha mandou pedir o coco de tucumã* que ela está guardando com todo o cuidado desde o início dos tempos.



   Ao ouvir o nome da Cobra Grande, os três começaram a tremer. Jamais alguém ousara ir até o fundo das águas escuras que cortam o inferno verde. Mas partiram, embora estivessem aterrorizados. Naquele dia, todos os barulhos da floresta pareciam assustadores. Por causa da umidade, os três estavam com o cabelo colado na cabeça. Sentiam falta de ar, não conseguiam respirar direito. De vez em quando olhavam para cima, em direção à copa das árvores, para tentar ver um pedacinho do céu, e a claridade os acalmava um pouco. Depois continuavam a caminhar pelo coração daquela floresta fechada, onde tinham de andar juntos para não de perder. Quando finalmente chegaram ao reino da Cobra Grande, ela lhes deu com imenso cuidado um grande coco de tucumã, e com sua voz ríspida e assustadora, que assobiava todas as letras, disse:
   - Aqui está, podem levar. Mas prestem muita atenção e tenham cuidado. Principalmente, não deixem que o coco se abra no caminho, pois senão vocês perdem a vida no mesmo instante.
   Os três servidores partiram, intrigados com as recomendações da Cobra Grande. O que poderia existir dentro daquele coco, fechado por uma resina? Temiam que lá dentro estivesse guardado um espírito, daqueles que aparecem de repente numa encruzilhada para castigar as pessoas. A não ser que fosse um espírito bom, daqueles que vêm ajudar quem está doente ou faminto... Será que era? Como poderiam saber? Só se abrissem o coco, mas a Cobra Grande proibira...
   Prosseguiram, remando sem dizer uma palavra e foram ficando cada vez mais curiosos com um barulho esquisito. Dentro do coco havia alguma coisa que parecia cantar:
   - Ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi...
   Na memória deles, agitavam-se todas as histórias que o pajé costumava contar.
   - Ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi...
   Já fazia muito tempo que estavam remando quando um dos servidores disse aos outros:
   - Não aguento mais. Tenho que saber o que há dentro deste coco tucumã. Vamos abrir. Não precisamos contar a ninguém. Vou fazer um buraquinho para ver. Eu esquento bem a resina e enfio uma palhinha oca. Então olho pelo canudo e vejo o que há lá dentro. A Cobra Grande e a filha nunca vão saber.
   - Não, não - protestaram juntos os outros dois servidores de Tacunha - A Cobra Grande proibiu. Disse até que perderíamos nossa vida no mesmo instante...
   Ainda pareciam ouvir a voz ríspida e ameaçadora da Cobra Grande ressoando em suas cabeças. Entre os galhos das árvores que se debruçavam sobre a margem, sentiam que milhares de olhos os espiavam. Um brilho estranho os  seguia, no fundo do rio escuro, desde que haviam deixado o reino da Cobra Grande.
    Sem dizer mais nada, continuaram a remar.
   - Ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi... - fazia o coco no silêncio da canoa. - Ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi...
   O que será que havia dentro do coco? O que podia ser aquilo? O barulho estranho os fascinava cada vez mais. A curiosidade acabou ficando maior que o medo. Até os dois que antes haviam rejeitado a ideia de abrir o coco não tinham mais tanta certeza. No fundo, talvez estivessem levando um tesouro, e podia ser que a Cobra Grande só os tivesse assustado para que eles não o roubassem. Ou talvez se tratasse de um gênio benfazejo que fazia milagres e que poderia transformá-los em senhores da aldeia. Até mesmo o pajé teria de obedecê-los se a nova mágica fosse mais poderosa que a dele! A tentação era grande. A curiosidade, maior ainda. Mas nenhum dos três se decidia a pegar o coco e abri-lo.
   Ao pararem alguns instantes para descansar e comer alguma coisa, avivaram o fogo que sempre levam na canoa quando viajam pelas inúmeras estradas de água que atravessam  o mundo em todos os sentidos. Mas não conseguiam tirar os olhos daquele coco que cantava sem parar:
   - Ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi, ten-ten-ten-tchi...
   Subitamente, um deles, o mais jovem, não conseguiu mais resistir à tentação. Num impulso, pegou o coco e o aproximou do fogo. Pouco a pouco a resina foi derretendo, exalando um cheiro acre que foi se tornando insuportável. De repente, foram atingidos por um jato de resina, que lhes queimou os braços. Depois tudo escureceu. As árvores ao longo da margem desapareceram como se uma imensa nuvem negra tivesse caído sobre a Terra, engolindo todas elas. E essa nuvem saíra do coco!


   Sobre as brasas ainda quentes, a única luz desse novo mundo de trevas, jazia o coco de tucumã, vazio.
   Durante um longo tempo, os três ficaram imóveis e calados. Olhavam uns para os outros, como se quisessem saber se ainda estavam vivos. Não ousavam se mexer, com medo de apagar aquele fogo que parecia mantê-los no mundo dos vivos. Finalmente, o mais velho ousou romper o silêncio e disse:
   - Estamos perdidos! A filha da Cobra grande já deve saber que nós a desobedecemos e abrimos o coco de tucumã. Ela vai nos enfeitiçar. Nossa vida está se acabando. Vamos depressa para a aldeia pedir perdão
   De fato, na aldeia, a filha da Cobra Grande disse ao marido:
   - Seus servidores abriram o coco mágico e deixaram a noite escapar. Vamos dormir e esperar que a manhã chegue.
   Enquanto dormiam, todas as coisas da floresta foram sofrendo metamorfoses: as pedras e os tocos viraram peixes e patos; o cesto que a moça tecera na véspera se transformou em onça; a canoa e o pescador também viraram patos. As petras e tocos que não se transformaram deixaram de falar e se tornaram inanimados. Os índios não compreendiam. Seu mundo não era mais o mesmo. A floresta agora estava cheia de ruídos que eles não conheciam.
   Só a filha da Cobra Grande não ficou preocupada: aquele mundo era igual ao dela...
   Quando acordou e viu brilhar a estrela-d'alva, ela disse ao marido:
   - Veja só aquela fagulha maravilhosa na noite. Ela anuncia a chegada da aurora. Vou separar o dia da noite.
   Saiu da oca para colher folhas, flores, grãos, cascas de árvore e frutinhas. Num pote colocou argila clara. Ao regressar à aldeia, ajoelhou-se numa esteira e arrumou em volta vários cestos e tabuleiros. Pegou um pilão e começou a esmagar as coisas que tinha colhido na floresta. Depois, fez umas misturas e foi produzindo diferentes tons de azul e verde, mais claros ou mais escuros. Com o urucum* chegou a um vermelho lindo e com o jenipapo* conseguiu um preto profundo, que lhe agradou muito. Estava orgulhosa de suas tintas...
   Então pegou um fiapo de palha, enrolou no dedo e lhe disse:
   - Você vai ser o cujubim, o pássaro que anuncia o dia.
   Pintou a cabeça dele de branco com a argila, e as patas de vermelho, usando a pasta de urucum que acabara de fazer. Depois, deixou-o voar, enquanto dizia:
   - Vá... todas as manhãs é você quem vai cantar para anunciar o dia.
   Depois, enrolou outro fio no dedo e falou:
   - Você sera o inhambu, o pássaro que anuncia a noite.
   Em seguida, pegou um cesto cheio de cinzas, que havia recolhido ao atravessar a clareira aberta pelo marido para que eles plantassem. Salpicou de cinzas o pássaro que acabara de criar e o deixou voar, dizendo:
   - Vá... você vai cantar ao entardecer, para anunciar que a noite está chegando.
   E o pássaro levantou voo, entoando uma melodia doce e triste.
   - Vou fazer todas essas cores dançarem e cantarem pela floresta. Vou criar pássaros de todo o tipo, tão bonitos quanto as flores e as frutas.
   Começou por uma ave meio esquisita, com um rabo bem comprido e um bico grande, que fez rir todos os índios que estavam olhando. Pintou o pássaro de vermelho e azul e o chamou de arara. A ave parecia mansa e foi pousar num galho bem em frente. Não parara de repetir:
   - Arara! Arara!
   Para o segundo pássaro, a moça criou um bico ainda maior, e escolheu para ele o verde, o azul e o amarelo. Resolveu chamá-lo de tucano-de-bico-manchado.
   Quando criou o pássaro seguinte, resolveu divertir-se um pouco. Colocou na cabeça dele uma crista vermelha muito engraçada. E o cabeça-de-fogo foi se juntar aos outros, sobre um galho. Quando ficava sozinha, a moça olhava muito para o céu e os mil tons de azul, que mudavam de acordo com a altura do Sol, a luz do luar, a chuva ou as nuvens. O azul era sua cor favorita, e ela escolheu o azul mais bonito para criar o manaquim-de-dorso-azul. Para o jacamar, pensou na clareira com todos os seus tons de verde...
   Depois foi a vez de outros tucanos, com preto, laranja e amarelo. E do tangará, todo colorido. De saíra, do gaturamo e de pequeninos beija-flores, vermelhos, verdes e azuis. Todos iam se juntar à arara, em cima do galho, e cantavam ao mesmo tempo.
   De repente, fez-se completo silêncio. Três homens estavam chegando à aldeia, com o rosto escondido pelas mãos. Eram os três servidores de Tacunha, que vinham pedir perdão a seu senhor. Os pássaros pressentiram um drama. Por isso haviam se calado.
   - Vocês desobedeceram à Cobra Grande! - exclamou Tacunha - Abriram o coco e soltaram a noite, que come todas as coisas. Vocês foram avisados, e agora estão perdidos. A filha dela vai transformar vocês em macacos. E serão condenados a pular de galho até o final dos tempos.
   E até hoje os índios sabem que são os servidores de Tacunha e os reconhecem por uma risca amarela que certos macacos têm nas costas, lembrando a resina que se derramou sobre os três quando eles abriram o coco de tucumã...




  • O mito da Criação da Noite é uma lenda inspirada nos contos indígenas da mitologia tupi-
  • * Tucumã é uma espécie de palmeira;
  • * Urucum: tintura vermelha obtida a partir da cera que recobre as sementes do urucunzeiro.
  • * Jenipapo: tintura quase preta (com tons azuis, roxos, e marrons), obtida a partir da polpa do jenipapeiro;
  • Guarani - Walmiri-atroari (Amazonas e Roraima);

    Fonte: livro A Amazônia: Mitos e Lendas, de Danièle Küss e Jean Torton, tradução de Ana Maria Machado.

Curta-Metragem: Calango Lengo - Morte e Vida Sem Ver Água

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"Calango Lengo, nordestino, tem que cumprir seu destino, sem ter o que pôr no prato. Na seca não há outra sorte: viver fugindo da morte, como foge o rato do gato."

    Eis aqui um curta-metragem de animação sobre um jovem calango que luta pela sobrevivência em meio á seca do nordeste. O curta aborda humor e drama de uma maneira equilibrada, e por meio de um desenho animado mostra a dura realidade do povo nordestino na época de seca. É inspirador e emocionante!


     Direção: Fernando Miller
Edição: Alessandro Monnerat
Edição de som: Ana Luiza Pereira

Produção Executiva: Érica Valle
Finalização: Alessandro Monnerat
Dublagem: Chica Xavier
Mixagem: Luiz Adelmo
Música: Marcos Campello
Cenários: Luciano do Amaral

Amanojaku - Folclore Japonês

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   Amanojaku (天邪鬼, ou あまのじゃく) são monstros perversos conhecidos no Japão desde os tempos antes de existirem histórias escritas. Seu nome significa "espírito celestial perverso", e também pode ser chamado de Amanjaku. São descritos como Kami perversos, um tipo menor de Oni, ou Yokai, que fazem travessuras maldosas e ações maléficas. Em particular, eles fazem os seres humanos praticarem más ações, manifestarem seus mais ímpios desejos enterrados dentro de seus corações.
Por mais que precedam do Budismo japonês, os Amanojaku são frequentemente descritos nas imagens budistas como símbolos da maldade sendo derrotados pela justiça. Em particular, os Quatro Reis Celestiais são retratados pisando em cima dos demônios, esmagando-os. É dito que esses demônios esmagados são Amanojaku. A armadura do deus budista Bishamonten é decorada com feições demoníacas que dizem ser de Amanojaku.
Sua origem provém da Mitologia Antiga, é apenas o que se sabe. É aparente que tenham evoluído das divindades maléficas dos antigos mitos xintoístas: Amazonako, Amenosagume, e Amenowakahiko compartilham semelhanças compatíveis com a natureza dessa entidade, por isso acredita-se que sua lenda tenha surgido de um deles, ou até mesmo da junção dos três.
A história mais conhecida envolvendo um Amanojaku é a de Uriko hime. Nessa história, um casal de meia idade e sem filhos descobre uma bebezinha dentro de um melão. Eles a levaram para casa, a chamaram Uriko hime e a criaram como se fosse deles. Ela se tornou uma bela moça, e um dia, um rapaz pediu sua mão em casamento. Contentes, seus pais foram para fora da cidade a fim de comprar-lhe um dote e prepará-la para o casamento. Antes de saírem, eles a alertaram para que não abrissem a porta para ninguém, não importava quem fosse!
Pouco depois, Uriko hime ouviu batidas na porta da frente. E disse uma voz: "Uriko hime, por favor deixa-me entrar!". E ela recusou. A voz respondeu "Se não vai abrir a porta, ao menos abra uma fresta na janela...".
Relutante, Uriko hime abriu apenas uma fresta na janela. Assim que ela o fez, apareceu um longo dedo com uma unha grande e afiada pela fresta, e escancarou a janela. Era Amanojaku! Ele pulou em cima de Uriko hime, rasgando suas roupas. A moça lutou por sua vida, mordendo e chutando o demônio, mas ela não era forte o bastante. Amanojaku então rasgou sua garganta com seus dentes afiados com uma mordida, e ela acabou morrendo.
Amanojaku não parou por ali, ele arrancou a pele de Uriko hime e a vestiu, como se fosse uma traje, e também vestiu suas roupas, para fingir que era a jovem. Quando os pais de Uriko chegaram em casa, foram enganados pensando que sua filha ainda estava viva.
Finalmente chegou o dia do casamento. O casal levou Amanojaku disfarçado de Uriko hime até seu futuro marido, porém um corvo que estava em uma árvore os chamou, avisando-os de que sua filha não era o que parecia ser. Eles agarraram firme a noiva para que pudessem contê-la. Lavaram seu corpo até que sua pele descolou por completo, revelando Amanojaku.
O Amanojaku correu pela sua vida, mas o casal correu atrás dele. Mais e mais pessoas foram juntando-se a eles, até formarem um grande grupo de pessoas da vila. Quando finalmente o alcançaram, o espancaram com pedras, pedaços de madeira e vários tipos de ferramentas, até que virasse uma grande massa ensanguentada e morresse.



No anime Histórias de Fantasmas (em japonês: Gakkō no Kaidan, 学校の怪談), que inclusive passava no Cartoon Network há alguns anos atrás, tem como personagem um Amanojaku, que no começo do anime é aprisionado no corpo de um gato preto:



Amanojaku em sua forma original, no primeiro episódio do anime



Amanojaku em forma de gato: o típico gato babaca que é ao mesmo tempo amigo e inimigo



Fonte: http://yokai.com/amanojaku/

Iele - Mitologia Romena

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   Iele é uma espécie de fada da Mitologia Romena, frequentemente são descritas como ninfas com grandes habilidades mágicas, ou Zâne, que significa fada virgem em romeno, e possuem grande poder de sedução sobre os homens. Aparecem tipicamente como lindas mulheres nuas, com cabelos longos o bastante para cobrir seus seios, usando sinos em seus tornozelos e carregando velas. Dizem que vivem no céu, em florestas, cavernas e brejos durante o dia, e durante a noite podem ser vistas se banhando nas nascentes dos rios ou dançando em encruzilhadas, e andam sempre em grupo. Podem também aparecer como seres espirituais não materializados, parecidos com fantasmas. Os trechos nos quais as Ieles já dançaram, ficam secos e chamuscados, e nada mais cresce por lá, exceto grama, que nasce de cor vermelha ou verde escura, e cogumelos, que os animais não se atrevem a comer. Em algumas lendas é dito que foram enviadas para a Terra por Deus, ou pelo diabo, para punir as pessoas más.


   As Ieles não costumam ser malvadas, porém podem buscar vingança se forem provocadas. Podem ficar ofendidas se alguém as ver dançando, se pisar no chão onde elas dançaram, dormir embaixo de uma de suas árvores favoritas, ou beber água da nascente de seus rios. Podem também punir severamente quem recusar seu convite para dançar ou quem copia seus movimentos de dança. Suas formas de punição podem ser através de feitiços, ou de seu canto, pois quem ouvi-las cantar torna-se mudo para sempre. Podem também sequestrar pessoas enquanto dormem, a fim de dançar em volta delas até que desapareçam. Sua dança também tem o poder de deixar as pessoas num frenesi de loucura e tormento, até a morte. E sua voz também possui o poder de seduzir, assim como as sereias da Mitologia Grega.
   Acredita-se que algumas mortes misteriosas e desastres naturais podem ser causados pelas Ieles, caso seus dias de festa não sejam celebrados corretamente.
   Há algumas maneiras de se proteger das Ieles, o principal método é usar uma guirlanda de alho, ou artemísia, ao redor de alguma parte do corpo (mais frequente ao redor da cintura ou do tórax), pendurar um crânio de cavalo na frente de casa também pode funcionar, além de alguns rituais de exorcismo. E o método mais importante para se curar de alguma de suas maldições é a dança dos Călușari, membros das fraternidades secretas romenas.






       Fonte: http://yorickscall.blogspot.com.br/2010/01/in-romanian-mythology-iele-are-feminine.html
        http://they-hide-in-the-dark.tumblr.com/post/145675147815/iele-a-female-fairy-from-romanian-mythology
        http://www.rolandia.eu/iele-ladies-woods/

Kali - Mitologia Hindu

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    Kali, Kali Ma (काली मां) ou Kālikā (कालिका), nascida da testa da deusa Durga durante uma de suas batalhas contra as forças do mal, é uma das deusas mais conhecidas e adoradas do Panteão Hindu. Seu nome é derivado de uma palavra em Hindu que significa "tempo", e ao mesmo tempo "negro". No Hinduísmo é a manifestação da Mãe Divina, que representa o princípio feminino.
  Conhecida como "Mãe Negra", é a deusa da criação, preservação e destruição, porém ela só destrói para recriar, e com isso ela destrói o pecado, a ignorância e a decadência. Ela é comparada á luz eterna, é o transcendente poder do tempo, e a consorte do deus Shiva. Dizem que é Shiva quem destrói, e Kali é o poder e a energia na qual ele age.
   Tanto Shiva como Kali costumam habitar os locais de cremação, e seus devotos costumam ir até esses lugares para meditar, porém não é "adoração á morte", mas sim para reforçar a consciência de que a vida é passageira, e nossa estadia em nossos corpos não durará para sempre. Shiva e Kali habitam nesse lugares porque sabem que o apego ao próprio corpo é o que alimenta nosso ego, e ambos oferecem libertação a partir do momento que a ilusão do ego é destruída.
   Dizem que Kali aparece em sua forma monstruosa e temível para aqueles que são apegados a seu próprio ego, mas aparece em sua forma doce e bela para aqueles que possuem a alma madura, e se empenham em praticar sua espiritualidade para se livrar do próprio ego.
   Kali é representada tendo quatro braços; três olhos, que representam o passado, o presente, e o futuro; a pele negra ou azul escuro; olhos vermelhos; a língua protuberante para fora, que representa sua natureza onívora; usando uma guirlanda de 50 crânios, representando as 50 letras do alfabeto Sânscrito, que simboliza a sabedoria infinita; e uma saia de braços decepados, que representa o desapego com o próprio corpo e o apego com a espiritualidade. Traz consigo uma espada em uma mão, e em outra, uma cabeça de demônio recém-decepada pingando sangue, que segundo a história, representa a grande batalha na qual ela destruiu o demônio Raktabija. As outras duas mãos abençoam seus adoradores com um gesto de "não temam!". Um de seus pés fica pousado sob o peito de Shiva (que representa o fato de que sem ela, Shiva é inerte),  e o outro sob sua coxa (ou no chão, ás vezes).
   É uma das poucas deusas do Hinduísmo que pratica o celibato, a austeridade e renunciação. Seu aspecto negro simboliza sua vasta e transcendental natureza.



      Fonte:

       http://hinduism.about.com/od/hindugoddesses/a/makali.htm
       http://www.goddess.ws/kali.html
       http://www.dollsofindia.com/library/kali/
       http://www.themystica.com/mythical-folk/articles/kali_ma.html

Banshee - Folclore Celta

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   Banshee é um dos vários tipos de espíritos presentes no folclore Irlandês e Escocês, é um presságio de morte e um mensageiro do Além que aparece para lamentar, chorando e gemendo, debaixo das janelas das casas onde há alguém prestes a morrer. Lendas como essa confirmam a crença dos Celtas no Mundo dos Espíritos e na existência de seres espirituais, tanto de pessoas que morreram jovem, como a de seres inteiramente espirituais (que nunca foram humanos), como divindades e etc., que podem se comunicar com os seres viventes.
   O termo "Banshee" vem do gaélico irlandês Bean Sídhe ou Bean Sí, que significa "mulher fada". A versão gaélica escocesa é Bean Nighe, que significa "mulher lavadeira", e cuja lenda difere um pouco da Banshee irlandesa. Eu já até havia feito um post sobre a Bean Nighe, para lê-lo clique aqui!

   Às vezes Banshees aparecem como lavadeiras, lavando a roupa ou armadura manchada de sangue pertencente á pessoa que está prestes á morrer, e pode aparecer também como uma linda e jovem mulher com um leve brilho celestial. A característica mais distintiva de uma Banshee é o seu choro, que pode variar, pois cada Banshee tem o seu próprio. Pode ser um choro gemido e leve, ou um choro agudo e gritante. A maioria delas tem um choro alto e melancólico, que não chega a ser assustador, mas que entristece quem o ouvir. Porém o choro de todas as Banshees, independente de como forem, são presságios de morte.

   Uma Banshee pode aparecer de diversas formas:

  •  Dizem que a mais comum é a de uma velha senhora enrugada, com um longo cabelo branco despenteado, vestindo uma longa mortalha (robe mortuário). 
  • Pode aparece também como uma mulher jovem, muito pálida, com um longo cabelo vermelho, vestida de branco; 
  • Como uma velha senhora com um longo cabelo branco, olhos vermelhos, e com um vestido verde; 
  • Uma jovem e linda mulher, com longos cabelos prateados, vestindo um vestido cinza cintilante; 
  • Uma velha senhora com longos cabelos cinza, vestindo um vestido preto e um véu cobrindo o rosto;
  • E etc.

   Em fim, há uma longa lista de como uma Banshee pode se parecer. Já que há várias Banshees, e provavelmente uma para cada família, é compreensível que apareçam em diversas formas.

   Há uma lenda que diz que há um tipo de Banshee que surge do espírito de uma mulher jovem, que foi morta brutalmente e teve uma morte tão horrível que acabou presa nesse mundo, destinada a vagar sob a Terra. Seu destino é vigiar sua família e aqueles a quem ama, os avisando quando a morte de alguém está por vir.
   Esse tipo específico de Banshee descrito á cima, aparece como uma velha senhora, vestida em farrapos, com um sujo cabelo cinza, unhas compridas e dentes pontudos. Seus olhos são vermelhos e tão cheios de ódio e tristeza que olhar para eles causa morte instantânea. Sua boca fica constantemente aberta, emitindo um longo e doloroso grito que tortura a alma dos vivos


   Sobre a sua origem, o que se sabe, é que surgiu primeiro nas antigas lendas Gaélicas. Quando várias Banshees apareciam de uma vez, era para alertar sobre a morte de alguém importante socialmente ou religiosamente.
   Tradicionalmente, quando algum cidadão morria, era de costume que uma mulher cantasse para que fosse velado. A música, nesses tempos, era frequentemente associada á espíritos e fadas, que acreditava-se que habitavam ás florestas. Diz-se que geralmente uma fada costumava chorar a morte de alguém, e que seu choro alcançava longas distâncias, até ser ouvido pela família da pessoa.




Os Gigantes de Pedra - Mitologia Inca

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   Antes  mesmo de o mundo existir, vivia Viracocha, o deus que criou a primeira terra. Não havia sol, nem lua, nem estrelas. Viracocha havia esculpido e pintado uns gigantes mas, no momento de lhes dar vida, hesitara muito em povoar a terra com homens maiores que ele. Destruiu então todos os gigantes e recomeçou seu trabalho, tendo cuidado de só esculpir homens que tivessem, no máximo, o seu tamanho. Depois, lhes deu vida. Em seguida, os reuniu e disse:
  - O principal é que não me esqueçam, mas me adorem até o final dos tempos. Sejam honestos, trabalhadores e bons. Senão, eu destruirei vocês todos!
   Durante algum tempo, os homens obedeceram às ordens de Viracocha, mas aos poucos foram se esquecendo de tudo. Até mesmo da existência do deus!
   Viracocha então ficou furioso. Não aguentava ver os homens se portando assim tão mal. Cumpriu então sua maldição: alguns foram transformados em pedra, outros foram engolidos pela terra. Finalmente, para apagar qualquer vestígio daquela vida maldita, desencadeou um dilúvio geral que afogou todos os que sobraram. Viracocha só guardou três criados, para ajudá-lo a recriar o mundo.
   Quando a terra secou totalmente, ele começou a trabalhar. Resolveu criar primeiro a luz, para que os homens não passassem a vida toda na noite absoluta. Para isso, foi até a margem de um lago imenso, que mais tarde seria chamado de Titicaca. Com um gesto, fez aparecer o sol, a lua e as estrelas. O sol era resplandescente mas, quando viu a lua subir no céu e brilhar mais do que ele, fico com ciúmes e jogou um monte de cinzas na cara dela. Por isso é que ela ficou menos brilhante e marcada de manchas cinzentas.
   Um dos três criados de Viracocha era mito desobediente, deixando o deus muito zangado. Como ele queria que o mundo fosse perfeito, não podia tolerar erros. Preferiu, então, livrar-se do criado. Com a ajuda dos outros dois, amarrou os pés e mãos dele, colocou-o sobre uma balsa e o abandonou no meio do lago. Em seguida, voltou para a margem com seus dois servidores fiéis e partiu para Tiahuanaco.
   Assim que chegaram, começaram a trabalhar. Viracocha era de uma exigência insuportável. Suas ordens eram estritas e precisas, e ele estava sempre atento para que fossem cumpridas literalmente, nos menores detalhes.
   Em pedra, ele esculpiu os diferentes tipos de homens que iam povoar esse novo mundo. Em seguida, deu-lhes uma alma e ordenou que se espalhassem em todas as direções e escolhessem as regiões em que queriam morar.


   Os homens que viram Viracocha contam que ele é branco, veste uma túnica branca com uma faixa na cintura e segura nas mãos um bastão comprido e um livro.
   Quando terminou sua obra, Viracocha se pôs a caminho para visitar a terra e ver como se comportavam os novos homens. Chegou assim a Cacha, mas os habitantes não o reconheceram. Pior ainda, vendo que era tão diferente deles, tentaram matá-lo. Ninguém na aldeia tinha a pele daquela cor, nem aquelas roupas, nem aqueles objetos nas mãos... já tinham se esquecido dele! Então Viracocha se ajoelhou e levantou o rosto para o céu. Um fogo violento escorreu pelas encostas da colina e incendiou toda a aldeia. Até as pedras queimaram como se fossem de palha. Então todos os índios, assustados, o reconheceram. Correram para ele implorando sua misericórdia, fizeram sacrifícios a seus pés e juraram adorá-lo até o fim do mundo.
   Viracocha teve pena deles e deteve o incêndio com seu bastão. Para que os homens não esquecessem esse momento, deixou que uma das colinas queimasse durante muito tempo. As enormes pedras que lá existiam arderam nas chamas durante vários dias. Quando o incêndio se extinguiu, elas tinham se tornado tão leves que um homem sozinho era capaz de levantá-las, enquanto antes eram necessários muitos apenas para deslocá-las um pouquinho! Durante muito tempo os homens levaram oferendas para Viracocha, deixando-as sobre essas pedras estranhas.
   Depois, Viracocha retomou seu caminho em direção ao oceano, para ir se encontrar com seus criados. Também eles já tinham cumprido suas tarefas, e vários dias que o esperavam.
   Viram quando ele chegou, cercado de homens e mulheres que o haviam seguido até a praia, para ouvir suas últimas palavras.
   E ele lhes disse que ia partir para sempre, mas enviaria um mensageiro divino para velar por eles e lhes ensonar tudo o que necessitavam saber. Depois virou-se, avançou par ao oceano e desapareceu no horizonte, caminhando sobre a água. Pouco a pouco, foi se confundindo com a espuma das ondas. Por isso é que os índios o chamam de Viracocha, que quer dizer "espuma do mar". E durante muito tempo, esperaram naquela praia que aparecesse o mensageiro de Viracocha.

   Viracocha, o deus mais importante do panteão Inca, representa ao mesmo tempo o deus criador e o herói civilizador. Muitas vezes se faz acompanhar de um herói "transformador", que completa sua obra e ensina aos homens os rudimentos da civilização.


   Fonte: livro Os Incas - Mitos e Lendas, de Danièle Küss e Jean Torton, Tradução de Ana Maria Machado

O Mundo dos Espíritos - Folclore do Povo Chippewa, Canadá

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   Havia vários dias que o curandeiro se desesperava, afundado em sua dor: sua única filha acabava de morrer e, por isso, a existência ficara insuportável para ele. reuniu todos os amigos e lhes participou que desejava ir se reunir à filha no mundo dos Espíritos. Cinco homens se ofereceram para acompanhá-lo. No entanto, não conheciam a estrada que levava àquele país longínquo. Primeiro tinham de encontrar Winabojo, o único que poderia lhes indicar o caminho.
   Winabojo era um Manitu dotado de poderes extraordinários. Antigamente, já havia viajado pela Terra, realizando inúmeras proezas. Agora, já havia muitas luas que, sentindo que estava envelhecendo, resolvera se retirar para longe dos olhares dos homens. Mas para onde? Esse era um novo problema! O curandeiro foi até o túmulo de seus ancestrais. Invocou seus espíritos, que não demoraram a lhe responder: Winabojo estava morando numa ilha, situada na direção do sol nascente. E lá ficaria, enquanto os rios corressem e o capim fosse verde. Satisfeito com essa resposta, o curandeiro reuniu seus companheiros e partiram todos.
   Lançando suas canoas no maior dos lagos, remaram vigorosamente. Após uma longa travessia, finalmente desembarcaram na ilha que buscavam. Lá estava Winabojo. Sua altura e robustez eram impressionantes. Estava perfeitamente imóvel. Sobre sua cabeça crescia um cedro magnífico que lhe servia de cabeleira - as raízes cobriam suas costas perfeitamente e rodeavam todo o seu corpo. Após cumprimentá-lo respeitosamente, os seis homens explicaram o que desejavam. Winabojo lhes indicou o caminho do país dos Espíritos, e os advertiu sobre os perigos que iam enfrentar:
  - Aqui estão os colares contra as serpentes. Vocês devem usá-los. Não os retirem, a pretexto de nada. Quando estiverem entre os espíritos, não demorem mais de quatro dias e quatro noites. De dia, os Espíritos não se mostram. Mas de noite, reunidos na maior das tendas, eles dançam. Juntem-se a eles, sentem-se entre eles. Quando a moça aparecer, seu pai deve agarrá-la, fechá-la num saco e guardá-la lá dentro com firmeza, até voltarem ao país dos homens. Boa sorte!


   O curandeiro e seus amigos agradeceram a Winabojo e seguiram seu caminho. Não tardaram a entrar no mundo Espíritos e a descobrir qual era a maior tenda de lá. Quando a noite caiu, os Espíritos entraram na tenda e nossos heróis se sentaram no meio deles. Passaram a noite toda assistindo à dança dos Espíritos, mas a moça não apareceu. Voltaram na noite seguinte. Apesar dos conselhos expressos de Winabojo, um dos índios tirou o colar que o protegia das serpentes. Na mesma hora, transformou-se em Espírito. Os sobreviventes continuaram a procurar a moça na multidão, mas não a encontraram. Aconteceu o mesmo na terceira noite. Só no decorrer da quarta noite, quando já estava quase amanhecendo, o pai reparou numa mulher com o rosto coberto. Pelo andar, reconheceu que era sua filha. Esperou que ela passasse perto dele, deu um salto e a agarrou. A jovem tentou escapar dos braços que a agarravam mas, ajudado pelos amigos, ele conseguiu metê-la num saco, que fechou hermeticamente. E já era hora de partir, pois vinha chegando o amanhecer e aquela estada não podia durar mais. Carregando seu fardo, os índios se afastaram de pressa.
   No caminho de volta, deram uma parada junto a Winabojo e este disse:
  - Toda noite vocês devem deixar o saco num lugar bem protegido. Cuidem para que fique bem amarrado. Em seguida, andem para trás, à distância de um grito, e instalem seu acampamento. Façam isso todas as vezes que o sol se puser, até chegarem em casa.
   Os índios respeitaram essas recomendações, o que lhes permitiu voltar à aldeia sem maiores problemas. O pai então construiu uma bela moradia e preparou lá dentro um lugar, de galhos de cedro, para depositar o saco. Depois saiu, e ficou lá fora esperando. Daí a pouco, ouviu a voz da filha chamando:
  - Pai, venha cá me soltar!
   Louco de esperança, o curandeiro correu para a cabana e soltou os nós com mãos febris. A jovem apareceu, bem viva e resplandecente de saúde. Graças ao amor paterno e com a ajuda de Winabojo, ela ressuscitara!







  * Manitu: entre os índios algonquinos, é uma espécie de força mágica pertencente não só aos seres vivos em geral, mas também aos fenômenos naturais. Algumas outras vezes, "Manitu" pode significar, também, uma entidade ou uma divindade segundo as crenças e religiões desses povos.

Sobre a tribo Chippewa

   São uma tribo de índios algonquinos, cujo nome provém de adaawe “comerciante” ou de ahtuhwuh. Originariamente viviam nas margens dos rios Ottawa e French, na baía Georgian, na orla setentrional do Lago Hurón e ao Norte de Michigan. Atualmente vivem em Ontário , Kansas, e Oklahoma.
São o terceiro maior grupo de nativos americanos nos Estados Unidos, superado apenas por Cherokee e Navajo.
Os Chippewa, são um importante grupo de nativos americanos, dividido igualmente entre os Estados Unidos e Canadá. O nome popular é uma modificação de Ojibwa, porém também se chamam Anishinabek, ou “homens originais”, e porque tinham a sua residência principal em Sault Sainte Marie, na saída do Lago Superior, os franceses os conheciam pelo nome de Saulteurs.
 Pertencem ao grande grupo dos algonquinos e estão relacionados com as tribos Ottawa e Cree. Vieram do leste, avançando ao longo da região dos Grandes Lagos, e tiveram sua primeira morada em Sault Sainte Marie e Shaugawaumikong (Chegoimegon francês) na costa sul do Lago Superior, perto da atual  Lapointe Bayfield, Wisconsin.




    Fonte: livro Índios da América do Norte - Mitos e Lendas, série dirigida por Gilles Ragache, texto de Alain Quesnel, tradução por Ana Maria Machado.

El Sombrerón - Folclore Latino-Americano

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  El Sombrerón é um personagem mítico do folclore de alguns países latino-americanos, em especial Colômbia, Guatemala e México. Em cada país há uma variação da lenda, porém na maioria delas ele é descrito como um homem que se veste de preto, cavalga um cavalo da mesma cor e está sempre com um enorme chapéu de abas grandes.

    Na Colômbia

    Se trata de um homem com que se veste de preto e anda com um enorme chapéu. Aparece sempre montado em um cavalo preto que se confundia com a noite e algumas vezes é visto acompanhado de dois cachorros enormes, também pretos, presos por correntes bem grossas. É descrito como um homem maduro, com um rosto sombrio, que vive em atitude de observação permanente, sendo uma pessoa seca e resignada, que não fala com ninguém, e tampouco faz mal ás pessoas; aparece e desaparece sem se saber como.
    Por mais que se diga que ele já havia morrido, ainda sente-se sua presença. Costuma aparecer no meio do caminho aos viajantes noturnos, bêbados, encrenqueiros, trapaceiros e viciados em jogos para persegui-los. Aproveita os lugares mais ermos, em noites de lua cheia é fácil confundi-lo com as sombras que os galhos e arbustos projetam. Chega sempre de noite, a todo o galope, acompanhado de um forte vento gelado, e desaparece rapidamente.
   No ano de 1837, foi famoso na cidade de Medellín, que era um de seus lugares preferidos, onde aparecia por várias sextas-feiras seguidas percorrendo todas as ruas.
   Há histórias também de suas andanças pelos povoados do sudoeste, como os Andes, Bolívar e Jardín. E pelos povoados á beira dos rios San Juan e Baudó. Em outras regiões colombianas como Tolima, Huila e o oriente do Valle del Cauca, onde também é conhecido como "El Jinete Negro".
   Pelo sudoeste da Antioquia, o chamam também de "El Jinete sin Zamarros", e o descrevem com características distintas das conhecidas em outras regiões. A forma mais comum  atribuída a ele nessa região é de um homem alto e corpulento, com roupas de luto, revelando ser uma caveira, vestindo um enorme chapéu de abas grandes.



    Na Guatemala

    No folclore guatemalteca, El Sombrerón, também conhecido como Tzitzimite, é um anão com um chapéu enorme e um violão. Viaja em uma mula com carbono (não me pergunte o porquê), e aparece para as mulheres para cantar-lhes serenatas. Quando ele escolhe uma mulher, lhe trança o cabelo, a enlouquece e a leva consigo.
   Uma dessas mulheres encantadas por El Sombrerón, foi uma moça muito bonita, de cabelos longos, que vivia em um bairro da Antiga Guatemala. Quando a viu, logo se apaixonou por ela, procurou saber onde morava e desde então a visitou por muitas noites. Com suas serenatas fez com que ela se apaixona-se por ele. Ela não disse nada a seus pais, porém eles notaram que ela havia deixado de comer e estava a ponto de morrer. Sua mãe descobriu a causa e a levou a um convento, pensando que assim talvez ela pudesse melhorar,  porém de nada adiantou, a moça continuou sem comer, e uma certa manhã apareceu morta, com uma trança em seus cabelos. Dizem que em seu velório El Sombrerón apareceu chorando muito, e suas lágrimas eram cristalinas. Ele nunca se esquece das moças que já amou.
   Também contam que ele costuma fazer trança na crina dos cavalos e mulas da região. Os cavalga durante toda a madrugada fazendo com que fiquem exaustos, com o pretexto de que podem se tornar hostis aos humanos  durante o dia se não trabalharem bastante.
   Uma maneira dos guatemaltecos descobrirem se El Sombrerón ronda o lugar é colocando uma mesa e uma cadeira de pinho recém fabricadas perto de um estábulo ou uma sacada, colocar em cima da mesa um copo e uma garrafa de aguardente, e ao lado um violão, em noites de lua cheia. Todos devem ficar em silêncio para ouvir se ele começa a cantar e tocar.
   Ele adora moças de cabelo longo e olhos grandes. Quando a família de alguma moça que tem essas características observa que ela está sendo rondada pelo Sombrerón, deve-se imediatamente cortar seus cabelos.



   No México 

   No mito mexicano, mais especificamente no estado de Chiapas, dizem que se veste de charro (vestimenta tradicional de vaqueiros e domandores de cavalos mexicanos) branco, com botões e esporas de prata. Suas aparições vêm precedidas de relâmpagos e sons de gaita.
   Percorre os campos montado em um cavalo branco e tocando sua gaita. Sua música tem um efeito de encantamento nos gados, que os seguem obedientes a todos os celeiros, onde os deixa guardados e vai em bora ao trote de seu cavalo.
   Os rancheiros sabem que El Sombrerón esteve por lá se encontram uma fogueira apagada, uma bituca de cigarro, pegadas de botas e de ferraduras.
   O México é o lugar onde mais se encontra variações da lenda, pois pode muito bem ser contada da maneira tradicional, a qual se conta nos demais países da América Latina, da maneira citada acima, e também há relatos no país de que El Sombrerón na verdade sequestrava crianças, e que em seu enorme chapéu pendurava brinquedos para atraí-las.



    De fato essa história é um ótimo exemplo de como uma lenda do folclore pode variar conforme as regiões mesmo tendo em comum determinados elementos. A diferença da cultura de cada país, dos fatores sociais e o número de pessoas que a contam, também influenciam na metamorfose de uma lenda. É interessante prestar atenção na mudança do enredo de cada versão e comparar o que elas tem em comum. Pode até ser que talvez nunca se chegue á uma conclusão de como essa lenda surgiu, ainda mais abrangendo uma região tão grande da América Central e do Sul, porém todos esses fatores podem fazer com que se chegue a uma teoria, que talvez a explique. E essa é a parte mais legal de estudar o folclore!


   Fonte: http://www.todacolombia.com/folclor-colombia/mitos-y-leyendas/sombreron.html
   http://beethzart-elrinconcillo1.blogspot.com.br/2013/03/el-sombreron.html
   http://www.viajeporguatemala.com/guatemala/cultura/leyendas/elsombreron.html
   https://es.wikipedia.org/wiki/Sombrer%C3%B3n
   https://adameleyendas.wordpress.com/2015/01/29/mitos-y-leyendas-de-chiapas-el-sombreron/