Zaratustra - Mitologia Persa

Author: Luiza / Marcadores: , , , , ,

 


    Desde os tempos antigos, as profecias diziam que uma criança nasceria entre os persas para trazer grandes ensinamentos aos homens. Não se sabe o dia exato em que essa profecia se cumpriu, mas é dito que, por volta de mil anos antes de Cristo, durante o governo do rei Vishtaspa, nasceu Zaratustra, filho de Purushaspa.
   Ahriman mandou que todas as forças do mal destruíssem a criança, mas Ormazd a protegeu e Zaratustra cresceu com saúde. Quando estava na adolescência, deixou o convívio dos homens e passou muito tempo em meditação, acabando por se tornar um sacerdote. Já adulto, recebeu visões de Ahura Mazda e, como estava predito, decidiu se tornar seu profeta. Passou a espalhar a ideia de que os homens deveriam adorar Ormazd e não dar atenção aos enganos de Ahriman. Segundo seus ensinamentos, todo homem tem liberdade para escolher a qual dos dois irmãos deseja seguir. Também espalhava a noção de que todas as almas deveriam passar pela ponte Chinvat e serem julgadas após a morte.
   Zaratustra foi muito perseguido por suas ideias. Mas não desanimou e foi até a corte do rei Vishtapa, na cidade de Bakhdi, para pregar sua mensagem diante do próprio rei. Lá chegando, soube que o cavalo favorito do soberano estava doente e ninguém conseguia curá-lo. Com a ajuda de Ahura Mazda, ele conseguiu curar o animal, e então caiu nas boas graças do rei. Em pouco tempo, Vishtapa aceitou a reforma religiosa de Zaratustra e seus ensinamentos se tornaram oficiais em todo o reino, dando origem a uma ordem de magos chamados Athravans, os Sacerdotes do Fogo. Mais tarde, o profeta seria chamado Zoroastro, e sua religião, Zoroastrismo.
   O rei Vishtapa dedicou-se a espalhar os ensinamentos de Zaratustra entre os povos vizinhos. Em certa ocasião, suas terras foram invadidas pelos povos turanianos do rio Oxo, que chegaram a saquear a cidade de Bakhdi. Uma versão do mito diz que, durante essa invasão, Zaratustra foi morto pelos inimigos. Outra versão diz que ele teria morrido por assassinato, aos 77 anos, quando estava rezando no templo dedicado a Ormazd
   Seja como for, ele é considerado um dos primeiros profetas da História. Sua vida, cercada de lendas e mistérios, é contada no Zend Avesta, um antiquíssimo livro sagrado.




      Sobre o Zoroastrismo

  •    É conhecida por zoroastrismo ou mazdeísmo a religião monoteísta surgida no Irã, baseada nos ensinamentos do profeta Zaratustra (Zoroastro, na versão grega) (628 – 551 a.C.). De acordo com os relatos tradicionais, Zoroastro viveu viveu no século VI a.C. na Ásia Central, num território que corresponde atualmente ao leste do Irã e a região ocidental do Afeganistão. Ele pertencia ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova.
  •    Ormazd era o princípio ou deus do bem, segundo o zoroastrismo e a Mitologia Persa. Vivia em luta constante contra seu irmão gêmeo, o princípio ou deus do mal conhecido como Ahriman. Ambos eram filhos do primeiro deus criador, Zurvan (o tempo). Ahriman, como filho primogênito, era mais poderoso que Ormazd e teria um reinado de mil anos. Porém, após esse período, ele seria derrotado por Ormazd. Era também o deus do céu, da sabedoria, da abundância e da fertilidade. Podia profetizar. Era defendido por um grupo de espíritos chamados de Amshaspends. Era pai de Atar, o fogo do céu; de Gayomart, o primeiro ser humano mortal (o primeiro ser humano, segundo a mitologia persa, havia sido Yima, que era imortal), criado a partir da luz e que teria dado origem a todos os demais seres humanos; e de Mitra, deus da sabedoria, da guerra e do sol.
  •    Ahriman era o deus das trevas, da destruição, da morte, do mal e da desordem para os seguidores do zoroastrismo. Em oposição a seu irmão gêmeo, Ormazd, Arimã deseja levar os homens à devassidão e corrupção. Ele é o senhor das trevas que cegam os homens que buscam a verdadeira visão - seus métodos são vis e enganadores, ele corrompe os homens com desejos que os desviam da "trilha verdadeira". Ele é o senhor de todos os Devas (deuses malignos), e os utiliza em todos os seus propósitos malignos.


Sinaá - Folclore da Tribo Kamayurá, Brasil

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   Em uma terra onde havia uma grande árvore, tão alta que sustentava o céu, existiu uma vez um pajá chamado Sinaá, filho de mãe índia e pai onça. Ele herdou do pai o poder de enxergar pelas costas, e com isso podia observar tudo o que se passava ao seu redor. Tornou-se o mais poderoso pajé de sua tribo e ensinava muitas coisas a seu povo.
   Os habitantes da tribo se alimentavam apenas com farinha de mandioca, jabutis e cobras sucuri. Certa vez, capturaram uma grande sucuri que havia atacado muitos dos moradores da aldeia. Eles a queimaram, e se surpreenderam ao ver que, das cinzas da cobra queimada, começaram a surgir diversas plantas: a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas árvores de frutas que ninguém ali conhecia. Não sabiam o que fazer com aquilo, até que apareceu do céu um estranho pássaro que lhes ensinou a prepará-los como alimentos e também a plantar suas sementes para que se multiplicassem. A partir daquele dia, o povo começou a fazer as roças.
   Algum tempo depois, houve uma grande chuva, que ameaçava inundar o mundo. Sinaá, o sábio pajé, viu que todos iam morrer na enchente, e resolveu construir uma enorme canoa, para que seu povo sobrevivesse e tivesse como se sustentar. Ele tinha razão em se preocupar: as chuvas aumentaram, o rio transbordou, e a inundação cobriu toda a Terra. Mas Sinaá havia embarcado não apenas seu povo na canoa, levara também uma muda de cada espécie das plantas que cultivavam nas roças. Assim, quando a enchente passou, eles puderam plantar de novo aquelas mudas e viveram livres da fome.
   Sinaá era reverenciado por todos, mas vivia sozinho. Somente quando já estava bem velho foi que decidiu se casar: escolheu então como esposa uma grande aranha, que lhe teceu belas vestes para se aquecer.
   Dizem que até hoje ele percorre as matas, com suas barbas longas e roupas tecidas pela aranha. Por mais velho que fique, Sinaá não morre; tem o poder de remoçar cada vez que toma um banho de cachoeira, porque deseja viver até que seu povo chegue ao fim. Quando isso acontecer, Sinaá será aquele que vai ajudar o mundo a terminar. Para isso, ele irá derrubar o tronco da árvore que sustenta o céu. Sem seu suporte, o céu vai desabar sobre todos os povos, e é assim que a Terra irá acabar.


   Sobre a tribo Kamayurá:

   Os Kamayurá contando com cerca de 467 indivíduos pertencentes a família linguística Tupi-Guarani, constituem uma etnia indígena brasileira, e estão localizados no Mato Grosso. São habitantes do Parque Indígena do Xingu, às margens da zona de confluência entre dois importantes rios da microbacia xinguana São conhecidos pela sua grande importância cultural, fato identificado nas diversas relações intergrupais que eles estabelecem com etnias semelhantes em suas características mas com linguagens diferentes.
   Os Kamayurá possuem um sistema tradicional caracterizado pela heterogeneidade, fruto do intenso processo de matrimônio intertribal e dos enérgicos laços de coesão que mantêm com outras sociedades indígenas do mesmo espaço geográfico.





    Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios

Liu Yu e o Rei Dragão - Mitologia Chinesa

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Arte por Carolina Young

   Conta-se que, nos tempos em que a Dinastia Tang governava a China, um rapaz chamado Liu Yu, natural da região dos lagos no centro do país, foi estudar e fazer exames na importante cidade de Chang'an. Após resolver seus assuntos, cavalgava de volta à sua terra quando encontrou uma bela jovem a cuidar de um rebanho de ovelhas, e que chorava sem parar. Liu Yu apeou-se e perguntou se podia ajudá-la. A moça lhe disse:
  - Sou filha de um poderoso rei dragão do lago Dontig, e me cansei com um filho do rio Jing. Mas meu marido me maltrata e não se importa comigo, e meus sogros acham que tudo que ele faz está certo. Queria pedir ajuda a meu pai, mas como ir sozinha para tão longe? Se você quiser me ajudar, pode ir até o lago e contar a ele o que me acontece!
   Liu Yu concordou em fazer o que ela pedia, mas contestou:
  - Como poderei chegar à presença do rei dragão? Não conseguirei descer às profundezas do lago.
   A filha do rei então explicou:
  - Junto às margens do norte do lago, existe uma grande árvore sagrada. Quando você chegar lá, prenda seu cinto em volta da árvore, bata três vezes no tronco. Alguém aparecerá para levá-lo à presença de meu pai. Então, entregue-lhe uma carta.
   Ela deu ao rapaz uma carta que escrevera ao pai. Ele a guardou e, quando estava montando de novo para segui viagem, comentou:
  - Eu não sabia que os seres celestiais como você cuidavam de rebanhos de ovelhas.
  - Estas não são ovelhas - retrucou a moça. - São trabalhadores da chuva, fabricantes de trovões e relâmpagos.
   Por mais que Liu observasse, porém, não via diferença entre aquelas ovelhas e as comuns. Assim, despediu-se dela e partiu. Quando olhou para trás, não mais viu nem a filha do rei dragão nem suas ovelhas...
   Após passar por sua casa, decidiu ir logo em busca do lago Dontig. Viu a árvore sagrada ao norte, atou em redor dela seu cinturão e por três vezes bateu no tronco. Como ela havia dito, alguém surgiu: um homem saiu das águas do lago e o saudou.
  - Quero ver o seu rei - disse-lhe Liu Yu.
   Sem discutir, o homem tocou nas águas do lago, que se abriram. E pediu:
  - Feche os olhos por um momento.
   O rapaz obedeceu e seguiu o homem. No instante seguinte, voltou a abi-los e viu que se encontrava em um enorme palácio, luxuoso, repleto de colunas, torres, ornamentado por plantas belíssimas, e revestido com pedras preciosas. Uma grande porta se abriu e, entre nuvens, apareceu uma figura nobre: o rei dragão em pessoa.
  - Nossa casa é muito difícil de encontrar, forasteiro. Por que veio até aqui?
   Ajoelhando-se diante do rei, o rapaz explicou que trazia uma carta da filha do rei, e contou a situação em que a encontrara. O dragão tomou a carta, leu-a e começou a chorar.
  - Minha pobre filha! - exclamou. - Foi por minha culpa que ela partiu para se casar. E agora está sofrendo, sem que eu nada fizesse para ajudá-la! Mas você, um estrangeiro, colocou-se ao serviço dela. Nunca esquecerei isso!
   A essa altura, os servos do rei também liam a carta da princesa e também começavam a chorar. Logo levaram a mensagem para os aposentos das mulheres, que desandaram a chorar tão alto que o rei se preocupou. Chamou um criado e disse-lhe:
  - Avise as mulheres para não fazerem tanto barulho, ou Chiantang as ouvirá!
  -  Quem é Chiantang? - indagou o rapaz.
  - É meu irmão, e tem um gênio terrível. Já casou tremendas inundações, e agora tenho que vigiá-lo para que o Deus Celestial não o castigue...
   Mal havia dito isso, e ouviu-se um rugido tremendo, que fez sacudir todo o palácio. E apareceu um imenso dragão vermelho, cercado por trovões e relâmpagos, ocupando quase toda a sala. Liu Yu se apavorou e tornou a ajoelhar-se, mas, em um segundo o dragão deixou o palácio. O rei acudiu o rapaz.


  - Não tenha medo, ele já foi. Agora devemos aguardar que retorne... enquanto isso, vamos beber e conversar.
   Ordenou que os servos servissem bebidas e perguntou ao rapaz tudo sobre sua vida. Ainda estavam conversando quando ambos ouviram suave música invadir a sala. E um grupo de belas jovens entrou. Uma delas foi abraçar o rei; Liu Yu reconheceu a moça que vira cuidando das ovelhas.
  - Eis aqui minha filha, que era prisioneira do rio Jing! - o dragão se alegrou.
   Em seguida, entrou na sala do palácio um senhor nobre, ricamente vestido, que era o aspecto humano de Chiantang, o irmão do rei. Ele agradeceu ao rapaz por ter trazido notícias da sobrinha e explicou:
  - Fui ao rio Jing e lutei com todos os seus soldados para libertar minha sobrinha. Depois fui ao reino do Deus Celestial e expliquei o que houve. Ele me perdoou, pois o que fiz foi para salvar nossa princesa...
  - Você matou muita gente? - perguntou o rei dragão.
  - Umas seiscentas pessoas.
  - Inundou as terras?
  - Destruí tudo.
  - E meu genro?
  - Eu o devorei.
   O rei dragão ficou irritado.
  - Apesar de o marido de minha filha ser um inútil, você se precipitou. Ainda bem que pediu perdão ao Deus Celestial... Precisa controlar seu gênio, meu irmão!
   Chiantang prometeu comportar-se, e Liu Yu foi convidado a ficar no palácio para as festividades do dia seguinte. Foram festas maravilhosas, festejando a volta da filha do rei dragão, com muito luxo, comida e bebida. A certa altura, Chiantang, que já havia bebido muito, chamou o jovem e lhe disse:
  - Minha sobrinha merece alguém melhor do que aquele inútil que eu matei. Você deveria casar-se com ela, eu sei que você a ama!
   Liu Yu ficou preocupado com a proposta do dragão vermelho. Sentia-se atraído pela jovem, mas ela era parte de um povo imortal, e ele um simples homem do povo! Como era muito diplomático, conversou com o irmão do rei tentando não despertar sua fúria ao recusar casar-se com a princesa. No outro dia, despediu-se do rei e preparou-se para partir. O rei mandou que alguns servos o acompanhassem até sua terra, levando presentes riquíssimos. Ao despedir-se da princesa, Liu Yu se arrependeu de não ter aceitado a proposta de Chiantang, pois ela lhe sorria com carinho. Mesmo assim, partiu da corte do rei dragão e voltou para casa.
   Com todos os valores que recebera, Liu Yu se tornou rico e próspero. Casou-se pouco tempo depois, porém sua esposa faleceu. Casou-se uma segunda vez, mas a mulher também veio a morrer. Então propôs casamento à filha de uma família nobre da região, e o casamento se fez com muitas festas.
   Era feliz com sua terceira esposa, embora achasse algo estranho em seu rosto. Com o passar dos meses, percebeu que ela ia se parecendo, cada vez mais, com a filha do rei dragão! Mas nunca lhe disse nada. Contudo, quando seu primeiro filho nasceu, a moça lhe contou a verdade: ela era mesmo a jovem que ele ajudara a salvar, mudara seu rosto por magia e somente aos poucos ia se revelando a ele.
  - Fiquei muito triste quando você recusou o casamento que meu tio lhe propôs - ela disse -, mas sempre acreditei que seríamos felizes juntos.
   Liu Yu e sua esposa tiveram, realmente, uma vida cheia de felicidade. Passaram a visitar a família dela no palácio sob o lago Donting. E, conforme os anos transcorriam, ele percebeu que não envelhecia! Decidiu então ir, com a esposa e os filhos, morar nos domínios do rei dragão.
   Diz a lenda que até hoje ele vive por lá, e que às vezes é visto sobre as águas do lago, contemplando as terras às quais nunca mais voltou.



    Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios

Dica de Filme: O Caminho para El Dorado

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     Hoje resolvi fazer um post sobre um dos filmes que mais marcaram a minha infância: O Caminho para El Dorado. Eu sei que passa direto nos canais abertos da televisão, porém acho que nunca deram tanta importância para esse filme como deveria, já que aborda temas muito interessantes, como a colonização espanhola na América Latina, e a cultura dos antigos povos indígenas lá presentes na época. E creio também que deve haver gente que nunca viu.
   Desde criança eu tinha uma certa obsessão pela história dos antigos povos latino-americanos, e adorava esse filme, portanto eu pedi o DVD de presente, e quando ganhei, assisti umas 20 vezes, fora as que eu havia assistido na televisão kkkkkkkkk.
   Eis aqui a sinopse:
O filme se passa no século XVI, mais especificamente no ano de 1519 no município espanhol de Sevilha, sul do país. A trama desenvolve-se ao redor dos dois personagens principais, Túlio e Miguel, dois vigaristas que vivem de pequenos golpes, que durante um jogo em que usam "dados viciados", ganham um mapa que mostra a suposta localização de Eldorado, cidade de ouro lendária no Novo Mundo. No entanto, a trapaça de ambos os amigos é logo descoberta e como resultado, eles acabam por se tornarem clandestinos seguindo a frota de Hernán Cortés para conquistar o México. Eles são descobertos, porém conseguem escapar em um barco e com um cavalo chamado Altivo. Chegando em Eldorado, os dois são confundidos com deuses.



A verdade por trás do mito do El Dorado

   Bom, para quem não sabe, de fato existiu uma lenda dessa cidade chamada El Dorado, muito popular entre os índios latino-americanos, que logo chamou a atenção dos colonizadores espanhóis no século XV.
O mito europeu inspirado em El Dorado, o de uma cidade perdida, feita de ouro, à espera de ser descoberta por conquistadores aventureiros, condensa a sede infinita dos europeus pelo ouro e sua determinação em explorar financeiramente os novos territórios.

A versão sul-americana do mito, por outro lado, revela a verdadeira natureza deste território e dos povos que ali viviam. Para eles, El Dorado não era um lugar, mas um líder tão rico que se cobria de pó de ouro da cabeça aos pés todas as manhãs, e se lavava em um lago sagrado todas as noites.

Nos últimos anos, com base em textos históricos e pesquisas arqueológicas, especialistas desvendaram a verdadeira história por trás desses mitos.
No âmago dessa história está um ritual, uma cerimônia realizada pelo povo muisca, que desde o ano 800 D.C. habita a região central da Colômbia.
No site da BBC em português há uma matéria excelente, com ricos detalhes, à respeito dessa lenda: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130121_pesquisa_mito_eldorado_mv.shtml

Enuma Elish, O Mito Babilônico da Criação - Mitologia Babilônica

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   Era o nada; nenhuma coisa tinha existência. a não ser as águas. Foi então que a água doce, chamada Apsu, e Tiamat, que era a água salgada, se uniram. Misturaram suas águas e pronunciaram os nomes das coisas. Com seus nomes pronunciados, as coisas puderam surgir. Os primeiros seres a que o casamento de Apsu e Tiamat deu origem foram Lahmu e Lahamu, os deuses originais, o princípio de todos os outros. Desse casal nasceram Mummu, Anshar e Kishar, e deles vieram An, o deus dos céus; Baal, o senhor dos ventos e da terra; e Ea, o senhor das águas. Mas Apsu se aborreceu com todos os filhos de seus filhos, achando que eles faziam muito barulho e não o deixavam descansar, nem durante o dia nem à noite. Então chamou Mummu e juntos planejaram destruir todos.
   Tiamat soube o que ia acontecer e não concordou com a destruição dos filhos de seus filhos. Mesmo assim, Apsu, que tinha prazer em destruir, continuou a planejar. E quando a notícia se espalhou entre todos os deuses, muitos deles se desesperaram, pois nada poderiam fazer contra o poder de Apsu.
   Foi o deus Ea quem impediu que todos fossem destruídos; com sua magia, criou um encantamento que fez Apsu e Mummu dormirem. Então ele os matou e tomou para si o lugar de Apsu, que tinha o mesmo nome do deus morto; lá ele ergue seu palácio e nele habitou, com sua esposa Damkina. Ela deu à luz o filho de Ea, Marduk. E o menino cresceu forte, poderoso e cheio de glória.
   Nesse tempo, An, filho de Anshar, criou os quatro ventos e os deu a Marduk para brincar. Dos ventos vieram os redemoinhos que carregavam o pó, e as grandes ondas que vinham das enxurradas. Tudo isso começou a perturbar Tiamat, arrependida por não ter defendido Apsu diante de Ea e seus aliados. Ela decidiu então vingar-se pela morte do esposo e começou a criar e reunir vários monstros: serpentes gigantes venenosas, dragões dotados de raios mortais, demônios, e misturas de homens com animais. Com eles, formou um exército que deixou sob o comeando do terrível guerreiro Kingu. A ele Tiamat entregou a Tábua dos Destinos, que decreta o destino de cada criatura; e mandou-o para a batalha, ordenando que destruí-se os deuses.
   Ea, sempre astuto, avisou Anshar e An do grande perigo que se aproximava, mandando-os enfrentar o exército de Tiamat. Nenhum dos deuses, porém, tinha o poder para vencer a ameaça. O único ser capaz de enfrentar o ataque seria o filho de Ea.
   Os deuses chamaram Marduk e pediram-lhe que fosse seu campeão. O jovem herói sentiu desejo de guerrear Tiamat, mas fez uma exigência para sair em combate:
   - Se desejam que eu enfrente Tiamat e destrua os monstros que ela criou, devem conceder a mim a supremacia entre todos os deuses. Quero o poder de decretar os destinos, e tudo o que eu fizer não deve jamais ser desfeito.


Marduk


   Reunidos em conselho, os deuses concordaram com o que ele pedira. Elegeram Marduk seu campeão e conferiram-lhe o poder supremo, tornando-o o rei de todo o Apsu. Marduk então partiu para o combate, armado com arco e flecha, a clava e uma rede feita dos quatro ventos, que levou escondida nas costas, junto com o tornado.
   Kingu, comandando o exército de monstros, teve medo quando viu o herói chegar. Tiamat, porém, fingiu recebê-lo com boa vontade. Mas isso não enganou o herói, que disse:
   - Não tente me enganar com boas palavras enquanto planeja a nossa destruição! Você, que deu à luz todos os deuses, agora dirige a sua maldade contra meus pais? Eu a impedirei. Prepare sua hoste e afie suas armas: eu a enfrentarei em combate singular.
   Ao ouvir isso, Tiamat foi tomada de fúria. Cega de ódio, lançou-se contra Marduk num combate corpo a corpo. Ele lançou sua rede, mas ela abriu a imensa boca para devorar os ventos. O herói então lançou uma rajada tão forte que a impediu de fechar a boca e disparou uma flecha em direção do seu ventre. Tiamat caiu; o herói saltou sobre ela, atingiu seu coração e extinguiu sua vida.
   Morta Tiamat, seus seguidores tremeram de medo diante do vencedor. Marduk, porém, matou apenas Kingu, o comandante, para tomar dele a Tábua dos Destinos.
   Foi pela vontade de Marduk que metade do corpo de Tiamat foi transformada no Céu, e a outra metade na Terra. De suas águas ele fez os mares, e de suas entranhas fez as estrelas e a Lua. Na Terra, construiu um grande templo para reverenciar os deuses. Foi ainda s pedido do filho que Ea criou os seres humanos para hbitar a Terra; eles foram criados a partir do sangue de Kingu, misturado com barro.
   Marduk organizou o mundo e distribuiu o poder aos deuses, dando, a cada um, domínio sobre uma parte da criação. E todos o consideraram seu rei e senhor, honrando-o para sempre como aquele que derrotou Tiamat, a mãe de todos os monstros e dragões.

Relevo Assírio mostrando a luta de Marduk e Tiamat


    Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios