O Whowie - Lenda Australiana

Author: Luiza / Marcadores: , , , ,

 



   Naquele tempo, todos os animais falavam a mesma língua. Foi muito antes do aparecimento do homem na terra.  E muito, muito antes que os animais começassem a discutir uns com os outros por causa de uns negócios esquisitos como casamento, mas isso é uma outra história... Enfim, naquele tempo as tartarugas podiam dar bom-dia aos pássaros, os macacos ajudavam os cangurus a chamar os filhotes para casa, os ratos do banhado e os ornitorrincos organizavam corridas de velocidade no rio... Todos se compreendiam, sem o menor problema. Um dia, essa linguagem universal foi de grande valia para todos eles.
   As margens do rio abrigavam numerosas famílias. Aves faziam ninho no meio dos tufos de caniços, lontras e ratos do banhado cavavam suas tocas no barranco, castores construíam barragens magníficas. Era o paraíso! Entretanto, todas as tardes, na hora em que o sol se escondia no horizonte, o pânico se apossava desse pequeno mundo. Assustadas, as mães chamavam os filhotes para casa, enquanto os machos reforçavam o abrigo familiar com a ajuda de gravetos e pedrinhas. Depois, todos corriam para se esconder no fundo de ninhos e tocas. A noite e o silêncio se instalavam, opressores...
   De repente, de uma caverna tenebrosa cavada numa escarpa rochosa que dominava o rio, surgia uma silhueta gigantesca. Apesar de seu tamanho enorme, essa massa escura se movimentava rapidamente, sem fazer qualquer barulho. Deslizava pela beirada da água, bem onde os ninhos eram mais numerosos, e após revirá-los com uma patada, mergulhava neles seu focinho guloso... Um gemido, um grito ecoava, e depois o silêncio caía novamente: um monstro horrível, o feroz Whowie, tinha satisfeito seu apetite terrível...
   Com mais de sete metros de comprimento, e armado de seis patas com garras de aço e poderosas mandíbulas, o Whowie  parecia um gigantesco lagarto. De dia, dormia no fundo de sua sinistra caverna, mas saía de lá toda noite para devorar os outros animais enquanto dormiam. Era temido por todos...
   Certa manhã, os ratos do banhado descobriram que, mais uma vez, tinham sido as principais vítimas do Whowie, que parecia apreciar particularmente a carninha mais tenra dos mais jovens entre eles. Consternados e desencorajados, ficaram em silêncio, com o focinho entre as patas, ao lado dos ninhos devastados.
   - Chega de chorar! Temos que fazer alguma coisa!
   Todos se voltaram para o lugar de onde tinham brotado essas palavras inesperadas. Quem poderia pensar em enfrentar o Whowie? Era uma ratinha do banhado, uma jovem mãe decidida a não deixar mais que o monstro devorasse seus filhotes.
  - Eu sei que ele é imenso! Mas nós somos numerosos! Vamos nos unir em vez de nos lamenta-nos... Eu tenho um plano: por que não aproveitamos a hora em que ele dorme?
   E poucos instantes depois, todos os animais sabiam que estava sendo preparado um ataque contra o Whowie. Graças à linguagem universal, a mensagem já tinha circulado num raio de quilômetros. Até mesmo os cangurus, que viviam muito longe da margem do rio, se aliaram ao plano audacioso concebido pela mãezinha corajosa.
   De barriga bem cheia, o Whowie dormia profundamente no fundo de seu antro. Tomando cuidado para não fazer barulho, cada um dos animais trazia até a entrada da caverna tufos de caniço seco e gravetos, até acumularem um monte imenso! Depois o beija-flor, que conhecia o segredo do fogo, transformou aquele montão numa fogueira enorme. Uma fumaça espessa invadiu a caverna e logo o Whowie despertou. Assustados, os atacantes ouviram o monstro tossir e se agitar. Cada um de seus movimentos sacudia a caverna e fazia o chão tremer. Durante seis dias, os animais alimentaram o fogo, mas o monstro, resistindo à asfixia, continuava se mexendo. Finalmente, no sétim dia, sufocado, com as escamas queimando, ele se lançou através da parede de fogo e saltou para fora da caverna. Sem ao menos lançar um olhar para os animais que, aterrorizados, saíram correndo para todo lado para se esconder, o Whowie se jogou no rio. Mas estava em tal estado que não tinha mais forças e num instante se afogou! Na  mesma noite, os ratos do banhado organizaram uma grande festa para a qual foram convidados todos aqueles que os ajudaram a aniquilar o monstro.






   Fonte: livro Animais Fantásticos - Mitos e Lendas, por Gilles Ragache, tradução de Ana Maria Machado.
   https://abookofcreatures.com/tag/australian-folklore/

A Serpente Arco-Íris - Folclore da Guiana

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   No começo do mundo, todas as aves da Amazônia tinham uma plumagem igual, escura e fosca. Naquele tempo, os índios da grande floresta respeitavam os pássaros e jamais os caçavam. Infelizmente, no fundo do poderoso rio que atravessava a floresta, vivia uma serpente monstruosa e feroz.
  Nenhum ser vivo ousava se aproximar do rio pois, como se fosse um demônio surgindo das profundezas da água, a cabeça negra do imenso réptil brotava de repente na superfície. Num piscar de olhos, o imprudente desaparecia, engolido por uma goela assustadora. Depois, o monstro mergulhava outra vez no seu antro aquático, à espreita de novas vítimas. Mas, apesar do perigo, os homens tinham de ir até a margem do rio para buscar água ou pescar seu alimento... Resolveram, então, fazer uma aliança com os pássaros. E partiram juntos numa guerra contra a grande serpente da água.
   Ouvindo os índios e as aves se aproximando, a serpente exultou antecipadamente, com a ideia da suculenta refeição que vinha espontaneamente se oferecer a ela. No entanto, assim que tirou a cabeça da água, avaliou o perigo e preferiu mergulhar bem depressa: os homens brandiam flechas bem pontudas e os pássaros, evidentemente afiando os bicos! Prudente, a cobra se recolheu às profundezas do rio e se enrolou em volta de raízes submersas.
   Na margem, os agressores prendiam a respiração: onde estava o monstro carnívoro? Os índios tinham os arcos preparados, os pássaros estavam alertas... mas  a serpente não se mostrava. Compreenderam, então, que teriam de ir buscá-la debaixo d'água.
   Educado, o chefe índio se dirigiu aos pássaros:
  - Queiram desculpar-nos, mas só sabemos lutar em terra. Vocês é que terão a honra de mergulhar.
  - Queiram desculpar-nos... - respondeu o porta-voz das aves. - Mas é que preferimos os combates aéreos. Não vamos mergulhar.
   Logo começou a maior confusão na beira do rio. Seguindo o exemplo de seus respectivos chefes, homens e pássaros começaram a trocar desculpas recíprocas. Felizmente, durante esse falatório, a serpente não apareceu... De repente, uma voz forte interrompeu as discussões:
  - Silêncio, todos vocês! Eu mergulho, apesar de não gostar nada disso! Mas é preciso fazer com que o monstro saia de seu esconderijo! Preparem-se para recebê-lo como ele merece, quando vier à tona!
   Esse voluntário valente era um pássaro cormorã. Acostumado ao mundo aquático, oferecia sua ajuda, mesmo sabendo que não se tratava de uma pescaria tranquila...
   O cormorã tomou distância e mergulhou. Debaixo d' água descobriu um espetáculo maravilhoso: o corpo da serpente, que ele só conhecia pela cabeça negra e horrorosa, era recoberto de escamas brilhantes de todas as cores. Seu reflexo fazia a água cintilar com tons luminosos, de tal modo que o antro do monstro parecia um palácio férrico. Mas nem por isso o pássaro esqueceu sua missão. Mergulhando sobre o inimigo, atacou-o com bicadas e arranhões. Não tendo previsto essa ofensiva, o réptil demorou demais para se desvencilhar das raízes, em volta das quais se enroscara. Quando conseguiu era tarde, pois estava mortalmente ferido, e não chegou a agarrar o cormorã, que logo subiu à tona, anunciando sua vitória. Num instante os índios pegaram uns ganchos compridos e içaram até a marge o corpo pesado e inerte do réptil. Lançaram-se logo aos despojos, mas o cormorã interveio e reclamou sua recompensa pela vitória - a pele maravilhosa.
  - Então venha buscar! - respondeu, rindo o chefe índio, certo de que o pássaro jamais conseguiria erguer aquele troféu tão volumoso.
   Mas sua risada logo se apagou. A um sinal do cormorã, todos os pássaros se precipitaram sobre a pele e, agarrando-a com o pico, levaram-na pelos ares. Quando estavam suficientemente afastados dos índios furiosos que lhes lançavam uma revoada de flechas, partilharam seus despojos multicores. Assim, a plumagem de cada um deles se enfeitou também com os tons brilhantes da serpente.
   Desde então, a floresta escura da Amazônia abriga papagaios e araras verdes, vermelhos azuis e amarelos, beija flores e saíras de todas as cores, tiês cor de sangue, martins-pescadores de barriga azul... Só o valente cormorã tem uma plumagem escura: os companheiros se esqueceram dele e, no fim da partilha, só lhe sobrou a cabeça feia e preta da cobra!, nosso herói contentou-se com ela...
   Quanto aos índios, também guardaram uma lembrança da grande serpente da água: seu corpo gigantesco ainda aparece de vez em quando no céu, sob a forma de um magnífico arco-íris.



               

                    Sobre a Guiana

A Guiana é o único país da América do Sul que foi colônia da Inglaterra, e está localizada no extremo norte da América do Sul, seu território faz fronteiras com o Brasil (ao sul), Venezuela (a oeste) e Suriname (a leste), além de ser banhado pelo oceano Atlântico (ao norte). A maior parte do território é um planalto baixo, coberto por florestas e privilegiado em recursos hídricos. A região litorânea é a que possui maior concentração populacional. O interior do país é ocupado pela densa floresta amazônica.




   Fonte: livro Animais Fantásticos - Mitos e Lendas, por Gilles Ragache, tradução de Ana Maria Machado.

Love Story & Tattoos - Quadrinhos

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   Eis aqui uma pequena história de amor em quadrinhos, feita pela desenhista norte-americana Samantha. A artista ainda não possui um site oficial, porém eis aqui o Tumblr dela: http://charminglyantiquated.tumblr.com/

A Lenda do Arranca-Línguas - Folclore Brasileiro

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   Olá pessoal! Eis aqui um relato do folclorista Marco Aurélio loMonaco sobre a lenda do Arranca-Línguas, retirado de seu livro "Folclore: Mitos e Lendas do Folclore Brasileiro":

   "Existem algumas lendas que são próprias para as nossas crianças, em razão da singeleza de suas estórias, recheadas com muito tom de inocência. Assim são todas as fábulas mitos e lendas do folclore nacional. Aqueles que estudam as lendas e os mitos de nosso folclore têm que saber diferenciar e, de forma geral, separar muito bem o que é de fato mito e lenda do que são estórias de fundo verídico.
   Na região de Aruanã, antigo porto fluvial da conhecida região do Araguaia, lá pelos idos do século XVIII, os habitantes da região viram aparecer no gado uma certa febre aftosa. Mas, no ano de 1929, quando parecia ter desaparecido, ela voltou com muito mais força do que aparecera. Era uma doença com agudos de comichão na língua do gado, o que obrigava os animais a cortá-las com os dentes. Com isso, o sangue esvaía-se lentamente, deixando-os fracos para o abate. Assim, perdia-se muito dinheiro, principalmente os criadores da região.
   Essa febre aftosa talvez atacasse mais esses membros do gado, por causa da alimentação inadequada ou mesmo em razão da terra carregada de salitre, que a deixava salgada dos barreiros. Foi dessa forma que surgiu a lenda do terrível Arranca-Línguas. Essa lenda formou-se na comunidade rural e depois tomou proporções extensas, alcançando toda a região do Estado de Goiás e as que fazem fronteira com ele. Essa calamidade chegou a alarmar todos os pecuaristas do centro-oeste do país.
   A endemia, que apavorou uma grande parcela da população, chegou até a cidade de Caldas Novas, onde algumas pessoas chegaram a afirmar terem visto o arrancamento das línguas bovinas materializam-se por várias vezes e em diversas localidades. Essas pessoas afirmaram terem visto o vulto de um enorme homem arqueado, semelhante a um gigantesco gorila, braços e mãos compridas e a cara achatada, Então, a crendice em torno dos mitos e das lendas, todas as manifestações pela sugestão de seu inconsciente, criou a fantasia e os diálogos em que o tal monstro, com a voz muito fanhosa, pedia que não disparassem contra ele, dizendo:
  - Não me mate, vaqueiro, que você virá arrancar línguas em meu lugar!
  - Quem é você?
  - Sou a personificação do castigo. Venho punir os ladrões de gado! - teria respondido o estranho personagem.
   Continuando o diálogo, teria o pavoroso monstro explicado que fora também um conhecido e célebre ladrão de gado e que agora tinha sido condenado a tomar a forma de um pavoroso monstro até poder cumprir a sua sina. E, falando assim, foi andando para trás como se fosse em marcha-ré, na direção da cidade de Caldas Novas, sem se voltar, e desapareceu. desde então, não ocorreram mais encantamentos.
   Esse fato, relatado e colhido por minha pesquisa em 1981 na cidade de Goiânia, fez parte por muitos anos da crença dos pioneiros que por ali se empenhavam nos serviços e trabalhos de edificação do Palácio do Governo e foi levado ao conhecimento de alguns políticos que decidiram servir-se do acontecido para fazer a propagando de mudança, atraindo a atenção do mundo para Goiás e usando o absurdo desta bizarra estória.
   Nasceu daí a lenda do nosso popular 'King Kong'. Colocaram-no novamente na região do Araguaia, onde estaria desempenhando a sua missão contra os fazendeiros do oeste da velha capital. Muita gente ia ao Araguaia para vê-lo, se possível. Até fotografaram o monstro. Era tanta gente dizendo que o tinham avistado, que acabou por materializar-se numa "realidade virtual". Muitos correram assustados. Chegaram até a pedir providências ao senhor Ministro da Agricultura.
   Esses acontecimentos chegaram até 1935. Os que conseguiram entrevistar o 'King Kong' informaram que se tratava de um homem rude, de modos grosseiros, baixo, arqueado, coberto de pelos escuros por todo o corpo, não tendo nenhuma semelhança com os gorilas africanos.
   Segundo informações, esse Arranca-Línguas operava desde a cabeceira do Xingu até perto da capital de Goiás, por dentro da bela cidade de Goiânia, onde muitos garimpeiros e seringueiros (os que se dedicam à extração do látex) tinham sido agredidos pela criatura. Informaram eles que um certo mateiro da região, ao tentar atacar a criatura, teve a cabeça decepada e espetada numa estaca na entrada do mato. Ela não foi cortada com instrumento cortante, mas sim, quebrada e arrancada a muque."

 

Kamonu, O Imitador - Folclore do Povo Lozi, Zâmbia

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   Quando o deus Nzambi criou a Terra e todos os seres vivos, resolveu viver no local que criara junto com todos os outros seres. Havia, porém, um homem muito inteligente chamado Kamonu, que imitava Nzambi em tudo o que este fazia. Toda vez que o deus seguiam rumo à forja para trabalhar os metais, Kamonu ia atrás. Toda vez que o deus ia para algum lugar, Kamonu também ia. E a maior preocupação veio quando Kamonu forjou uma lança e a usou para matar um antílope.
   Nzambi ficou muito zangado, pois o antílope era um irmão dos homens e não deveria ter sido morto. Repreendeu Kamonu e o expulsou da Terra. Mas tanto Kamonu se desculpou e pediu para voltar, que o deus permitiu que ele retornasse e fosse morar num pedaço de terra. Porém, Kamonu havia aprendido a matar e, na ocasião em que um búfalo invadiu sua plantação de milho, matou-o também. E quando um bando de antílopes também foi comer o milho que plantara, ele os matou a todos. Isso fez com que a má sorte caísse sobre ele e sua casa. Tudo de ruim lhe acontecia: seu cachorro morreu, seu pote de barro se partiu, e seu filho também morreu. Inconformado, Kamonu resolveu ir à presença de Nzambi queixar-se da má sorte.
   A casa do deus ficava num lugar que ninguém conhecia, mas mesmo assim Kamonu a encontrou. E teve uma grande surpresa, pois, quando chegou diante de Nzambi, viu seu filho, seu cachorro, e seu pote ao lado do deus. Pediu-lhe para levar o que era seu de volta, mas Nzambi recusou e o mandou embora. Depois disse aos familiares que, como Kamonu havia descoberto sua morada, eles teriam de mudar-se dali. Todos obedeceram, e escolheram para viver uma ilha, em meio a um grande rio. Mas Kamonu descobriu de novo o paradeiro do deus, construiu uma jangada e remou até a ilha.
   Nzambi estava ficando desanimado com a perseguição de seu imitador. Via, também, os homens se multiplicando sem parar, e a Terra se enchendo de gente que não lhe dava sossego. Chamou, então, várias aves e as mandou voar à procura de um local em que pudesse ficar sozinho, sem ser incomodado pelos seres humanos. Os pássaros, porém, voaram por toda parte e nenhum local isolado encontraram
   Nzambi convocou seu adivinho e pediu-lhe que descobrisse um lugar seguro. O adivinho jogou os ossos de adivinhação e chegou à conclusão de que apenas uma criatura teria como ajudá-los: a Aranha, que era muito sábia.
   A Aranha disse que poderia tecer uma teia ligando a Terra ao Céu. Nzambi e todos os seus familiares poderiam, então, subir por essa teia e chegar ao mundo celeste, onde nada nem ninguém os incomodaria. O deus concordou, mas pediu à Aranha que tecesse a teia de olhos fechados, para que nem mesmo ela ficasse sabendo onde seria sua morada. Foi o que aconteceu. Ela vendou os olhos e teceu a teia, por onde Nzambi subiu, para não mais voltar à Terra.
   Quando soube do que acontecera, Kamonu ficou inconsolável. Resolveu reunir outros homens e pedir sua ajuda para chegar ao Céu. Eles começaram a cortar árvores e empilhar seus troncos um sobre o outro. Aquela torre começou a crescer, crescer, e os homens iam subindo cada vez mais alto. Contudo, o peso dos troncos era muito grane, e chegando a certa altura tudo desabou, arrastando consigo os homens que estavam lá em cima.
   Desde então, Nzambi vive em paz no Céu e não se mistura mais com os homens. E estes aprenderam a saudar Nzambi quando nasce o Sol.




  * Nzâmbi (Zâmbi) ou Nzambi Mpungu (Zambiapongo), o Grande Nzâmbi, é o deus supremo e Criador nos candomblés de Nação Angola, equivalente a Olorun do Candomblé Ketu. Alguns povos bantu o chamam Sukula, outros Kalunga. É sincretizado com o Senhor do Bonfim.
   O culto a Nzâmbi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas se reza a Nzâmbi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios, embaixo de árvores, ao redor de fogueiras. Não tem representação física, pois os Bantu o concebe como o incriado e representá-lo seria um sacrilégio, uma vez que Ele não tem forma. Não recebe nenhum sacrifício ou oferenda, só podendo ser objeto de devoção abstrata.
   No final de todo ritual Nzâmbi é louvado, pois Nzâmbi é o princípio e o fim de tudo. É a força suprema, inacessível e nunca materializada. Ele rege a ordem do mundo e o curso das vidas. Vê tudo e tudo comanda. Deu aos homens as leis fundamentais do universo.



      Sobre Zâmbia

   O Território da Zâmbia, localizado na porção centro-sul do continente africano, não possui saída para o oceano e limita-se com a República Democrática do Congo (ao norte), Angola (a oeste), Namíbia (a sudoeste), Zimbábue (ao sul e a sudoeste), Tanzânia (a nordeste), Moçambique e Malauí (a leste). A maioria da sua área é coberta por savanas e o país também abriga extensos rios, como por exemplo, Luangwa, Kafue e Zambezi, onde estão as famosas cataratas de Vitória.
   Ex-colônia britânica, a Zâmbia (antiga Rodésia do Norte) conquistou a independência no dia 24 de outubro de 1964. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco formado pelo Reino Unido e suas antigas colônias.

   
    Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Dias, de Rosana Rios

Tahina-Can - Folclore da Tribo Karajá, Brasil

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  Os Karajás do rio Araguaia contam que, na época de seus antepassados, a estrela vespertina brilhava tanto, que a jovem e bela Imaherô se apaixonou por ela, julgando que fosse um bravo guerreiro vivendo lá no céu. Tanto ela pediu à estrela que descesse à Terra que um dia isso aconteceu.
   Mas Imaherô se decepcionou muito, pois a estrela vespertina, que se chamava Tahina-Can, veio na forma de um homem velho e fraco. Quando ele disse que viera do céu para casar-se com ela, a moça fugiu espavorida, dizendo que não poderia aceitar um esposo como ele. Porém a irmã de Imaherô, Denakê, sentiu piedade do velho e disse que se casaria com ele. Os dois então passaram a viver juntos, e eram muito felizes.
  Tahina-Can foi um dia ao rio Araguaia e de suas águas retirou as sementes de mandioca, milho e abacaxi. Plantou as primeiras roças; graças a ele, as plantas cresceram para alimentar a tribo. Contudo, quando ia trabalhar na roça ia sempre sozinho, pois para plantar e colher ele se transformava em um belo e forte rapaz, mas não queria que ninguém o visse. Um dia, como ele demorava a voltar, Denakê saiu para procurar pelo esposo e teve a maior surpresa de sua vida, encontrando-o sob aquela forma.
   Depois daquele dia ele não mais se transformou como um velho homem, o que deixou Imaherô desejosa de ser sua esposa. Porém, quando ela lhe pediu que deixasse sua irmã para casar-se com ela, que era mais bela, Tahina-Can negou, pois Denakê o aceitara antes, e somente ela merecia seu amor.
   Imaherô ficou muito triste por ter assim perdido o amor que tanto esperava. Entrou na floresta e nunca mais voltou. Dizem que ela foi transformada no pássaro urutau, e que desde então solta seus lamentos na mata, chorando pela estrela perdida.




   Sobre os Índios Karajá

   Os Karajá ou Iny, como se auto denominam, vivem na região dos rios Araguaia e Javaés, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Hoje contam com cerca de quatro mil indivíduos que apesar de toda a socialização com os não-índios ainda mantêm firme sua cultura, tradições, língua e ensinamentos. A denominação Karajá é datada do ano de 1908, quando foi consagrada após sofrer diversas modificações, mas a auto denominação original dessa etnia sempre foi Iny, que na língua deles significa “Nós”. Em relação a língua original da etnia, classificamos ela como pertencente ao tronco Macro-Jê que engloba também o Javaé e o Xambioá, que apesar de algumas diferenças na pronuncia são facilmente entendidos entre si. Hoje em dia grande parte das tribos Karajá já tiveram contato com o português e o utilizam no seu cotidiano, como forma de facilitar o contato com os não-índios.
Os Karajá têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional, o que, no entanto, não os impediu de manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face. Ao mesmo tempo, buscam a convivência temporária nas cidades para adquirir meios de reivindicar seus direitos territoriais, o acesso à saúde, educação bilingue, entre outros.



Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios