Burdiju Alamassi - Lenda do Deserto do Saara

Author: Luiza / Marcadores: , , , ,

 
  Uma espessa camada de lava negra rangia sob os cascos dos mearis, os dromedários do deserto. Ainda quente, solidificada havia pouco tempo, rachada em milhares de fissuras, ela recobria o solo até se perder de vista. Perdidos num labirinto de desfiladeiros profundos e ravinas abruptas, nove tuaregues subiam lentamente pelo leito seco do riacho Tarabin. Tentavam atingir Burdiju Alamassi, o objetivo final de sua expedição. Para isso, tinham partido do último oásis três luas antes, mas, com o decorrer dos dias, suas forças se enfraqueciam e seu entusiasmo diminuía - bem como as reservas de água. Longe das rotas habituais e das caravanas, escondia muito bem...


 Homens e montarias lutavam contra os obstáculos quando, no coração da montanha, o leito do riacho ficou ainda mais íngreme e apertado, ao ponto de obrigar os tuaregues a continuar a pé. Dois deles, exaustos demais, improvisaram um acampamento ali mesmo e ficaram tomando conta dos animais. Os outros sete prosseguiram, esgueirando-se entre os blocos de pedra que tinham rolado e pelo meio de impenetráveis moitas de espinhos. Ao amanhecer, uma luz intensa os ofuscou, ainda mais viva do que a do Sol: Burdiju Alamassi, finalmente, se erguia diante deles!
Apesar do cansaço extremo, os sete homens escalaram as vertiginosas muralhas de basalto preto que protegiam aquela cidade de diamante. Do outro lado, um lago de águas límpidas, tão calmas que pareciam um espelho, brilhava sob os raios do Sol nascente. Apenas esse obstáculo simples os separava ainda de seu objetivo. Os dois mais ousados não puderam resistir à tentação de atravessá-lo imediatamente e de se refrescar: mergulharam sem hesitar, de cabeça! Logo ecoaram gritos de dor e em seguida se instalou o silêncio: os dois homens haviam morrido, batendo com a cabeça numa superfície lisa e dura. Ilusão mortal, miragem perigosa. O magnífico espelho d'água era de cristal! Apesar de impressionado, o resto do grupo não quis desistir tão perto do alvo. Assim, os cincos homens foram deslizando ao longo de uma corda até a placa de cristal e a atravessaram cautelosamente. Do outro lado, uma monumental placa de bronze lhes barrava o caminho. O mais velho, o ancião Hakkim, bateu sete vezes no metal com o cabo de seu punhal. Após alguns minutos de silêncio, que lhes pareciam intermináveis, os pesados batentes finalmente se abriram bem devagar, rangendo.
Não apareceu ninguém junto à porta para recebê-los, mas uma força misteriosa e uma música suave os incitaram a se aventurar na cidade. Um a um, com o coração batendo forte, foram penetrando em fila indiana numa imensa sala deserta. As paredes, inteiramente recobertas de diamantes, cintilavam como mil fogos. Esse espetáculo feérico os fascinava, mas algumas paredes eram tão luminosas que os deixavam ofuscados. Outros aposentos se comunicavam com o primeiro por meio de pequenas portas. Desorientados naquele labirinto de paredes completamente idênticas, os cinco homens rapidamente perderam o senso de direção. As paredes devolviam apenas uma imagem, multiplicada até o infinito: a deles mesmos! Ninguém conseguia mais distinguir o que era um reflexo do que era um homem de verdade. Três dos nômades, que tinham ficado na primeira sala, conseguiram reencontrar a entrada. Aflitos, os dois outros se perderam, definitivamente prisioneiros daquela armadilha de luz.
Os três que escapaream achavam que estavam salvos, mas no caminho de volta, ouviram uma voz nítida e pura que lhes suplicava que voltassem. Viraram-se e viram uma mulher de deslumbrante beleza, cantando no alto da muralha: era a princesa do Hoggar, a maga dos montes de luz, e os chamava! Fascinados com tanta beleza, os dois mais moços cederam à tentação. Voltaram a Burdiju Alamassi e desapareceram para sempre! Apenas o velho Hakkim, provando sua sabedoria, retornou ao acampamento, retornou ao acampamento, onde encontrou os dois últimos companheiros e seu meari.
Bastante tempo depois, já de volta entre os seus, Hakkim muitas vezes contava suas aventuras. Desde então, muitos outros homens partiram em busca da cidade de diamante e da misteriosa Princesa do Hoggar.


Fonte: livro Terras de Mistério - Mitos e Lendas, por Gilles Ragache e Michael Welply

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