O Espírito Grato - Folclore Sul-Coreano

Author: Luiza / Marcadores: , , , ,



  Na época da Dinastia Goryeo “고려” (A.D. 918 - 1392), quando um teste estava para ser feito, um estudante vinha de uma região muito distante para participar. Certa vez em sua jornada, o dia estava chegando ao fim, e ele se encontrou em meio às montanhas. De repente ele ouviu um espirro vindo de entre as plantas trepadeiras e arbustos ao longo da beira da estrada, mas não conseguia ver nada. Achando aquilo muito estranho, ele desmontou de seu cavalo, entrou no matagal e parou para escutar. Ele escutou o espirro de novo, e parecia ter vindo das raízes das trepadeiras bem ao seu lado. Então ele pediu a seu empregado que cavasse o solo e observasse. Ele cavou e achou um crânio, estava cheio de terra e raízes das trepadeiras, que saíam de suas narinas e órbitas oculares. Os espirros estavam sendo causadas em seu espírito pelo fato de suas narinas estarem tão obstruídas. 

  O estudante sentiu pena, lavou o crânio em água limpa, o envolveu em um papel e o enterrou de volta onde o encontrou, ao pé das montanhas. Ele também deixou comida como oferenda ao espírito, ofereceu um sacrifício, e fez uma oração. 
  



Naquela mesma noite, em um sonho, um outro estudante veio até ele, um homem velho de cabelos brancos, que se inclinou em reverência, o agradeceu, e disse: “Por causa de um pecado cometido em vida, eu morri antes que eu pudesse cumprir meus dias. Toda a minha prosperidade também foi-se embora, meu corpo se decompôs de volta ao pó, restando apenas o meu crânio, e foi exatamente o que você encontrou enterrado debaixo da trepadeira. Por causa das raízes crescendo dentro dele, o incômodo que sofri foi grande, e eu não pude evitar de espirrar. Para a minha sorte, você com o seu bom coração abençoado dos Céus, teve dó de mim, enterrou o meu crânio em um lugar limpo e trouxe-me comida. Sua bondade é maior que as montanhas, e é igual à bênção que me deu o primeiro suspiro de vida. Por mais que minha alma não seja de maneira alguma perfeita, eu procura uma forma de poder retribuir-lhe o favor, e por isso eu tenho exercido meus poderes para o seu benefício. Sua atual jornada consiste em realizar o teste oficial, então eu tenho de lhe contar de antemão de que maneira deve ser feita e do que se trata. Serão grupos de cinco, em pares de versos: o som da rima é ‘pong’, e o tema é ‘Picos e Espirais das Nuvens de Verão’. Eu até já compus um verso para você. É assim:”

       “O alvo sol percorreu o alto dos céus,
E as nuvens flutuantes formaram um colina;
O sacerdote lhes perguntou se havia ali um templo,
E a garça lamentou que ali não havia pinheiros;
E os raios eram reflexos do machado de um homem,
E os trovões as badaladas dos sinos do tempo.
Alguém diria então que colinas não se movem?
Na brisa do pôr-do-sol elas velejaram para longe.”

   Após dizer isto, o espírito se curvou em reverência mais uma vez e foi embora.

   O homem, maravilhado, acordou de seu sonho, e foi para Seoul; lembrando dos versos que foram cantados pelo espírito, os anotou em um papel para apresentá-los no teste, e foi premiado como um dos primeiros honorários da ocasião.



Fonte:

PANG, In; YI, Yuk; GALE, James Scarth. Korean Folk Tales: Imps, Ghosts and Fairies. Nova York: E. P. Dutton & Co. 1903.

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