A Serpente Arco-Íris - Folclore da Guiana

Author: Luiza / Marcadores: , , , , ,


 
   No começo do mundo, todas as aves da Amazônia tinham uma plumagem igual, escura e fosca. Naquele tempo, os índios da grande floresta respeitavam os pássaros e jamais os caçavam. Infelizmente, no fundo do poderoso rio que atravessava a floresta, vivia uma serpente monstruosa e feroz.
  Nenhum ser vivo ousava se aproximar do rio pois, como se fosse um demônio surgindo das profundezas da água, a cabeça negra do imenso réptil brotava de repente na superfície. Num piscar de olhos, o imprudente desaparecia, engolido por uma goela assustadora. Depois, o monstro mergulhava outra vez no seu antro aquático, à espreita de novas vítimas. Mas, apesar do perigo, os homens tinham de ir até a margem do rio para buscar água ou pescar seu alimento... Resolveram, então, fazer uma aliança com os pássaros. E partiram juntos numa guerra contra a grande serpente da água.
   Ouvindo os índios e as aves se aproximando, a serpente exultou antecipadamente, com a ideia da suculenta refeição que vinha espontaneamente se oferecer a ela. No entanto, assim que tirou a cabeça da água, avaliou o perigo e preferiu mergulhar bem depressa: os homens brandiam flechas bem pontudas e os pássaros, evidentemente afiando os bicos! Prudente, a cobra se recolheu às profundezas do rio e se enrolou em volta de raízes submersas.
   Na margem, os agressores prendiam a respiração: onde estava o monstro carnívoro? Os índios tinham os arcos preparados, os pássaros estavam alertas... mas  a serpente não se mostrava. Compreenderam, então, que teriam de ir buscá-la debaixo d'água.
   Educado, o chefe índio se dirigiu aos pássaros:
  - Queiram desculpar-nos, mas só sabemos lutar em terra. Vocês é que terão a honra de mergulhar.
  - Queiram desculpar-nos... - respondeu o porta-voz das aves. - Mas é que preferimos os combates aéreos. Não vamos mergulhar.
   Logo começou a maior confusão na beira do rio. Seguindo o exemplo de seus respectivos chefes, homens e pássaros começaram a trocar desculpas recíprocas. Felizmente, durante esse falatório, a serpente não apareceu... De repente, uma voz forte interrompeu as discussões:
  - Silêncio, todos vocês! Eu mergulho, apesar de não gostar nada disso! Mas é preciso fazer com que o monstro saia de seu esconderijo! Preparem-se para recebê-lo como ele merece, quando vier à tona!
   Esse voluntário valente era um pássaro cormorã. Acostumado ao mundo aquático, oferecia sua ajuda, mesmo sabendo que não se tratava de uma pescaria tranquila...
   O cormorã tomou distância e mergulhou. Debaixo d' água descobriu um espetáculo maravilhoso: o corpo da serpente, que ele só conhecia pela cabeça negra e horrorosa, era recoberto de escamas brilhantes de todas as cores. Seu reflexo fazia a água cintilar com tons luminosos, de tal modo que o antro do monstro parecia um palácio férrico. Mas nem por isso o pássaro esqueceu sua missão. Mergulhando sobre o inimigo, atacou-o com bicadas e arranhões. Não tendo previsto essa ofensiva, o réptil demorou demais para se desvencilhar das raízes, em volta das quais se enroscara. Quando conseguiu era tarde, pois estava mortalmente ferido, e não chegou a agarrar o cormorã, que logo subiu à tona, anunciando sua vitória. Num instante os índios pegaram uns ganchos compridos e içaram até a marge o corpo pesado e inerte do réptil. Lançaram-se logo aos despojos, mas o cormorã interveio e reclamou sua recompensa pela vitória - a pele maravilhosa.
  - Então venha buscar! - respondeu, rindo o chefe índio, certo de que o pássaro jamais conseguiria erguer aquele troféu tão volumoso.
   Mas sua risada logo se apagou. A um sinal do cormorã, todos os pássaros se precipitaram sobre a pele e, agarrando-a com o pico, levaram-na pelos ares. Quando estavam suficientemente afastados dos índios furiosos que lhes lançavam uma revoada de flechas, partilharam seus despojos multicores. Assim, a plumagem de cada um deles se enfeitou também com os tons brilhantes da serpente.
   Desde então, a floresta escura da Amazônia abriga papagaios e araras verdes, vermelhos azuis e amarelos, beija flores e saíras de todas as cores, tiês cor de sangue, martins-pescadores de barriga azul... Só o valente cormorã tem uma plumagem escura: os companheiros se esqueceram dele e, no fim da partilha, só lhe sobrou a cabeça feia e preta da cobra!, nosso herói contentou-se com ela...
   Quanto aos índios, também guardaram uma lembrança da grande serpente da água: seu corpo gigantesco ainda aparece de vez em quando no céu, sob a forma de um magnífico arco-íris.



               

                    Sobre a Guiana

A Guiana é o único país da América do Sul que foi colônia da Inglaterra, e está localizada no extremo norte da América do Sul, seu território faz fronteiras com o Brasil (ao sul), Venezuela (a oeste) e Suriname (a leste), além de ser banhado pelo oceano Atlântico (ao norte). A maior parte do território é um planalto baixo, coberto por florestas e privilegiado em recursos hídricos. A região litorânea é a que possui maior concentração populacional. O interior do país é ocupado pela densa floresta amazônica.




   Fonte: livro Animais Fantásticos - Mitos e Lendas, por Gilles Ragache, tradução de Ana Maria Machado.

1 comentários:

sirihh disse...

OOOOO

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