Fadas: Sua Origem Sobrenatural e Mística

Author: Luiza / Marcadores: , , , ,

Arte por Brian Froud

  Introdução: As seguintes informações foram retiradas de uma das partes de um livro que é um guia para o conhecimento de criaturas místicas e sobrenaturais, das autoras:  Carol K. Mack, dramaturga e educadora norte-americana; e Dinah Mack, escritora e antropóloga. Eu apenas traduzi do inglês para o português o excerto que explica sobre as fadas, e expliquei alguns detalhes com as minhas palavras, porém o crédito deve ser dado às autoras. A fonte, com as informações sobre o livro estarão no final do post, como sempre.

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  Fadas encantam suas vítimas como a luz da lua, uma atratividade ilusória tão enfeitiçadora que o indivíduo embriagado pela sua magia nem imagina o que é esse torpor até que seja tarde demais. Fadas geralmente são caracterizadas como seres de luz benevolentes: sendo do sexo feminino, delicadas, atrativas, pequenas criaturas de forma humana com asas transparentes, ou iguais às de borboleta, e às vezes até mesmo angelicais. Mas ao olhar com atenção, percebe-se que têm pés iguais aos de pássaros, com dedos compridos e garras. Tendem mais a desaparecer no ar do que se transformar em animais ou objetos, porém podem adquirir outras formas por meio de metamorfose. Costumam tomar forma humana e se infiltrar em festividades locais e mercados. Não há certeza sobre sua forma natural, mas o mais provável é que sejam transparentes.

  As fadas vivem em seu próprio mundo paralelo subterrâneo, que frequentemente têm suas entradas secretas por meio de buracos no solo, montanhas, ou morros. Também em castelos subaquáticos, com acesso por rios e lagos. O mundo das fadas definitivamente não é uma experiência para qualquer um, só é visível de tempo em tempo para crianças e adultos especiais, não por sua própria vontade, mas pelo acaso de alguma forma caírem lá acidentalmente.

  Fadas, assim como demônios, podem ser o que restaram de entidades antigas, espíritos da natureza menores, e há ainda especulações de que sejam as almas dos mortos (principalmente de bebês não batizados), ou anjos caídos (anjos que não foram considerados “malignos o bastante” para serem aceitos no inferno, e por isso se estabeleceram nas camadas subterrâneas da terra). Lendas sobre fadas são frequentemente interligadas com lendas sobre demônios, por mais que demônios tenham uma reputação bem pior por serem confundidos com “diabos”. O que as pessoas chamam de Diabo provém de uma categorização diferente, que tem origem da palavra grega Diabolos, que significa “caluniador”, ou “adversário”, e se refere a Satanás, ou um Diabo. A maioria desses “diabos”, residem no inferno, e não em outras dimensões. 

   Resumindo: algumas culturas e religiões, diferentes do Cristianismo, acreditam que “demônio” e “diabo” tem significados diferentes e que são indivíduos à parte. Consideram demônios como seres menos nocivos do que os ditos “diabos”, e que possuem bem menos poder. Segundo as crenças populares, tanto fadas quanto demônios pertencem à Classe de Espíritos Sobrenaturais Subversivos, e possuem muitos hábitos, gostos e lendas em comum. Fadas, assim como demônios, são considerados como ajudantes sobrenaturais de tempo em tempo, mas suas ações variam consideravelmente, e são sempre perigosos.

   Com exceção de quando raptam bebês ou capturam homens para reproduzir e propagar a sua espécie, as fadas geralmente preferem não ter nada a ver com a espécie humana. São muito individuais, e quando são incomodadas por curiosos ou intrusos, reagem violentamente. Algumas fadas são categorizadas pelo poeta irlandês William Butler Yeats como “sociáveis” e outras como “solitárias”. As que são solitárias são sempre malevolentes, mas todas elas, apesar de seu tamanho pequeno e aparência adorável, podem ser surpreendentemente sinistras. Fadas são geralmente mais afastadas e tranquilas do que seus parentes enérgicos, que são os demônios, e acabam não tendo tanto contato com humanos, porém são igualmente vingativas quando provocadas ou rejeitadas. 

   Algumas lendas dizem que se um indivíduo ir parar no mundo das fadas e comer a comida de lá, ou se juntar com as fadas para dançar em seu círculo de dança, como as fadas Celtas que sempre dançam em círculos, não vai mais conseguir voltar para o mundo dos humanos. Uma vez que alguém é encantado por esses seres, é muito sofrido para conseguir voltar à vida normal, e as pessoas que conseguem, acabam definhando por falta de interesse em suas vidas normais.

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   Para mais informações, aqui estão links para alguns posts antigos do blog sobre fadas:

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  Fonte:


MACK, Carol K.; MACK, Dinah. A Field Guide to Demons, Fairies, Fallen Angels, and Other Subversive Spirits. Nova York: Owl Books Henry Holt and Company, LLC, 1998.

A Viúva Fantasma - Lenda Sul-Americana

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , ,


   Em várias regiões do Chile, da Argentina, Colômbia e alguns outros países da América do Sul, há histórias sobre viúvas fantasmas. Aparentemente, não se trata do fantasma de uma viúva só e sim de várias, pois cada região tem histórias que descrevem características diferentes. As únicas características predominantes em todas as histórias são: de que as viúvas sempre estão vestidas de preto dos pés à cabeça, cobrindo o rosto com um véu igualmente preto; e de que vagam após o anoitecer em busca de homens sozinhos á cavalo. Versões recentes da lenda dizem que também pedem carona para homens que estão de carro.


   Fantasmas de viúvas são um tipo de fantasma comum nos países hispânicos da América do Sul, porém não se sabe ao certo a origem dessa lenda. Dizem que uma mulher que se torna viúva, e morre com raiva, solidão e angústia, pode não conseguir fazer a passagem para o Além e descansar em paz, por isso fica presa ao mundo terreno penando e vagando pelos lugares, descontando sua dor em qualquer homem que encontrar pela frente. Já algumas versões dizem que a mulher tomada pela raiva e o desconsolo, fez um pacto com o diabo para obter poderes sobrenaturais após a morte e poder assombrar a região. 

   Essas viúvas fantasmas costumam vagar por estradas desertas e escuras, esperando que passem homens à cavalo para aterroriza-los. Algumas delas pulam na garupa do cavalo, e apertam o torso do homem até que este desmaie asfixiado e caia do cavalo, morrendo por asfixia, ou por ferimentos da queda. Outras, possuem o poder de dominar o cavalo mesmo sem montá-lo, e guiá-lo até o penhasco, matando ambos o cavalo e o homem que o montava.

   Apesar das histórias quase sempre serem trágicas, há também as viúvas fantasma que não apresentam tanto perigo, e gostam de apenas aterrorizar os homens. Sobem na garupa do cavalo, mas se deixam cair no chão de propósito, fazendo um barulho de saco de ossos ao atingir o solo, deixando o indivíduo fugir enlouquecido de medo.

   No povoado de Amblayo, na cidade de Salta, na Argentina, há uma lenda de uma viúva fantasma que esconde um tesouro perdido, e que o descobrimento desse tesouro pode libertá-la e fazê-la descansar em paz. A viúva atrai os homens até o lugar do tesouro, porém dominada pelo ódio, os acaba matando asfixiados, dando-lhes um abraço que de início é suave e cálido, mas acaba apertado e asfixiante. E por isso a viúva fantasma do povoado de Amblayo está condenada a vagar pela terra até que alguém descubra seu tesouro.





    Fonte:

    RUEFF, Carlos Keller. Mitos y Leyendas de Chile. Santiago de Chile: Editorial Jerónimo de Vivar, 1972.

    AMORY, Dean. Las principales Leyendas, Mitos, Historias y Cuentos de Chile. Bélgica: Edgard Adriaens, 2013.

Dorotabō - Folclore Japonês

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Dorotabō (どろたぼう) é um tipo de fantasma do Japão. São espíritos de agricultores de arrozais que trabalharam arduamente em vida, mas que após a morte, suas plantações de arroz foram arruinadas e negligenciadas por seus novos donos. Aparecem como figuras humanóides de um olho só e apenas três dedos em cada mão, se rastejando para fora do lamaçal durante a noite.

   Há uma crença de que os cinco dedos humanos representam três vícios e duas virtudes: raiva, ganância, ignorância, sabedoria e compaixão. O fantasma Dorotabō aparece com apenas três dedos representando os vícios. É um espírito de vingança e ira em resposta à ignorância e ganância na qual os novos donos arruinam o que era o trabalho de sua vida.

   Os fantasmas Dorotabō vagam pelos campos de grama alta, clamando em uma voz lutuosa: “Me devolva minha plantação de arroz!”. Assombram os arrozais durante a noite, perturbando e não deixando os novos proprietários do local dormirem. Continuam assombrando até que os vis proprietários mudem de atitude, cuidando devidamente dos campos, ou desistirem e se mudar, vendendo o terreno para proprietários que realmente vão cuidar bem da plantação.

   Observação: muitas regiões do Japão são montanhosas, o que torna impossível cultivar qualquer plantação. Os terrenos nas planícies são extremamente valiosos por serem bons para o plantio. Algumas famílias chegam até a economizar a vida inteira para poder comprar uma pequena porção de terra fértil, na esperança de após a sua morte deixá-la para seus descendentes. Claro, nem sempre os filhos fazem a vontade de seus pais, por isso, o filho que negligenciar o fruto do trabalho árduo de seus pais encontrará um fantasma Dorotabō rondando sua casa.




Fonte:

Manu e o Dilúvio Indiano

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Manu era um grande rishi que, no seio de uma floresta, impôs a si mesmo duras provas e penitências que cumpria com muito rigor. Assim, passou dez mil anos meditando profundamente, postado ereto, sustentando-se em uma só perna e com as mãos para o alto. Num certo dia, enquanto meditava, Manu teve suas vestes encharcadas pelas águas de um riacho, quando um peixe saltou sobre ele pedindo a sua proteção: um outro peixe, maior e muito perigoso queria devorá-lo. Em troca de ajuda. o peixe prometeu a Manu muitas recompensas.

   O grande rishi, então, atendeu ao peixe e o colocou num jarro de barro. Porém, o peixe cresceu e o jarro se tornou pequeno. Manu colocou-o em um tanque, mas o peixe continuou crescendo e o tanque também se tornou pequeno. 

   O peixe pediu a Manu que o levasse para o rio Ganges, “o favorito do oceano” e, mais uma vez, Manu atendeu ao seu pedido. Mas, já no caminho, o peixe considerou: 

   —  Com esse meu tamanho atual, não poderei me movimentar no rio. Leve-me para o oceano.

   E assim fez Manu, seguindo com o peixe até o mar onde pretendia deixá-lo a salvo e vivendo livremente. Mas, antes que Manu se afastasse, o peixe avisou:

   —  Manu! A dissolução do Universo está próxima. É chegado o tempo da purgação do mundo. Eu o aconselho, Manu, protetor adorável que merece ser salvo: construa uma grande e resistente arca e nela amarre uma corda igualmente forte e muito longa. Depois de pronta, vá para o seu interior com os sete rishis, levando consigo todas as diferentes sementes enumeradas pelos brâmanes do passado. Preserve-as com cuidado e espere por mim. Ressurgirei na forma de um animal com chifres. Então, obedeça às minhas instruções, caso contrário, você não sobreviverá. O dilúvio será terrível!

   O grande rishi, seguindo o conselho do peixe, construiu o navio e recolheu todas as diferentes sementes que havia. Logo em seguida, sete sóis abrasadores surgiram no firmamento trazendo uma terrível seca que fez desaparecerem as águas. Depois, movido por um vento forte, o fogo varreu toda a terra e destruiu todas as coisas. Era como se o universo inteiro estivesse em chamas.

   Num só instante, nada mais havia.
   Nuvens multicoloridas e brilhantes, cujos desenhos lembravam manadas de elefantes com coroas de relâmpagos, juntaram-se no céu escurecendo tudo.

   E choveu durante doze anos!
   Somente quando florestas e montanhas foram totalmente cobertas pelas águas, as espessas nuvens desapareceram e o Criador amainou os ventos.

   O Universo era uma apavorante vastidão de água!

   Manu, que havia seguido as instruções do peixe, inexplicavelmente, pode navegar em seu navio, resistindo à força das águas e dos ventos. Navegou sem rumo no mar revolto e ao pensar no peixe, o viu surgir diante de si como uma ilha de salvação. Na sua nova forma, como havia dito que viria, tinha grandes chifres e neles enlaçou  grossa corda atada ao navio. E foi assim que conduziu Manu e sua grande arca.


   Chacoalhando, rangendo, de um lado para outro, o navio navegou como estivesse bêbado. Não havia um único pedaço de terra à vista. Tudo o que havia era Manu, a arca puxada por um animal de chifres enormes, os sete rishis e água, muita água cobrindo tudo, inclusive o firmamento.

   Muitos anos se passaram até chegar o dia em que o navio foi lançado contra o pico mais do Himavat, hoje chamado de Naubandhana.

   Então, solenemente o peixe falou:

   — Eu sou Brahma, o Senhor de todas as criaturas! Nada há que me supere. Nada há que me detenha. Salvei você do cataclisma, Manu! Agora, você criará novamente deuses, homens e todos os seres, sejam aqueles que receberam o dom da locomoção como também aqueles que não se locomovem. Você, Manu, adquiriu esse poder ao passar, durante dez mil anos, por duras penitências. 

   E foi assim que Manu iniciou a criação de todos os seres na ordem própria e exata conforme lhe foi determinado.



Glossário

Rishi: do Sânscrito, sábio santo ou iluminado, vidente.


Fonte:

   FORJAS, Sonia Salerno. A princesa que enganou a morte e outros contos: Contos Mágicos Indianos. DeLeitura. São Paulo. Editora Aquariana LTDA. 2009.