Dr. Gottfried Knoche: Experiências de Mumificação

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Dr. August Gottfried Knoche, nascido em Halberstadt na Alemanha em 1813, foi um cirurgião famoso por inventar um fluido embalsamador com o qual ele mumificou vários cadáveres. Inclusive deu um jeito pra que embalsamassem seu próprio corpo com esse fluido.

   Knoche emigrou da Alemanha para Caracas, na Venezuela em 1840, se estabelecendo na cidade de La Guaira. Assim que se estabeleceu na cidade, começou a trabalhar como médico e trouxe da Alemanha sua esposa. Lá ele viveu na região costeira e fundou o hospital San Juan de Dios entre os anos de 1854 e 1856. Rapidamente ganhou a fama de pessoa caridosa, pois cuidava de pacientes pobres sem lhes cobrar nada, enquanto trabalhava incansavelmente para curar os pacientes infectados pela epidemia de cólera, que afligia muitas pessoas durante aqueles anos. 

   A fascinação e persistência de Knoche em evitar o processo inexorável de decomposição dos corpos após a morte, fez com que ele começasse a testar seus experimentos em cadáveres da Guerra Federal* (algo que não era incomum entre estudiosos da época), levando-os em carroças do Hospital San Juan de Dios até seu laboratório, localizado na Hacienda Buena Vista, em Palmar del Picacho, no pequeno povoado de Galipán. Após algum tempo, Knoche criou um fluido que podia ser injetado nos cadáveres e conservá-los em bom estado sem a necessidade de remover seus órgãos internos. Desta maneira, o Dr. Knoche conservou vários corpos em seu laboratório para estudo.

  Knoche antecipou a chegada de sua própria morte, e se certificou de que Amelie Weismann, sua enfermeira-ajudante encarregada de administrar o fluido embalsamador nos cadáveres, preparasse doses para a preservação infinita de seu próprio corpo. Aparentemente, Dr. Knoche teria feito com que Amelie injetasse o fluido em seu corpo quando ainda estava vivo, e então se isolou em seu mausoléu para sempre.

   Amelie, a enfermeira e ajudante do Dr. Knoche, morreu em 1929 e seu corpo foi posto no mesmo mausoléu onde está o corpo do Dr. Knoche. Hoje em dia, o mausoléu está coberto de vegetação rasteira e pilhado por vândalos, saqueadores e estudantes de medicina que tentam descobrir a fórmula secreta do fluido embalsamador do Dr. Knoche, ou que apenas são atraídos pela história de seu trabalho macabro. Algumas das paredes externas, batentes da porta da entrada principal, estábulos, um tanque, um fogão e o laboratório são tudo o que restaram do mausoléu da Hacienda Buena Vista.

  Até os dias de hoje, a composição exata do fluido embalsamador é um mistério. Alguns cientistas que tentaram reproduzi-la dizem que pode ter sido uma solução potente baseada em Cloreto de Alumínio (AlCl₃).






* Guerra Federal: conflito bélico entre líderes liberais e conservadores entre os anos de 1859 e 1863.



   Fonte:

   Dr. Gottfried Knoche and His Mummies. Atlas Obscura. Disponível em <https://www.atlasobscura.com/places/dr-gottfried-knoche-and-his-mummies>. Acesso em 31 de Maio de 2020.

   MONTANO, Joaquin. Guerra Federal: características, causas, desarrollo, consecuencias. Lifeder. Disponível em:

Vishnu - Mitologia Hindu

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Vishnu (विष्णु) é o segundo deus no triunvirato Hindu. O triunvirato consiste em três deuses que são responsáveis pela criação, conservação e destruição do mundo. Os outros dois deuses são Brahma e Shiva.


   Brahma é o criador do Universo, e Shiva é o destruidor. Essa destruição, no ponto de vista hindu é vista de maneira positiva, já que após a destruição vem o renovo. Shiva destrói o que é necessário para que seja renovado. Vishnu é o preservador e protetor do Universo. 

   Sua missão é voltar para a Terra em tempos difíceis, e restaurar o equilíbrio do bem e do mal. Até os tempos de hoje, Vishnu já reencarnou nove vezes, mas os hindus acreditam que ele reencarnará uma vez mais para a realização do fim dos tempos.

   É representado com uma forma humana, frequentemente com a cor da pele azul e tendo quatro braços. Sempre aparece carregando quatro objetos, um em cada mão, que representam suas responsabilidades. Esses objetos simbolizam várias coisas, aqui estão alguns de seus significados:
  •  A concha: é um objeto que reproduz o som da palavra “Om”, que representa o som primitivo da criação;
  •  O chacra, ou disco: simboliza a mente;
  •  A flor de lótus: um exemplo de existência gloriosa e libertação;
  •  O cetro: simboliza a força física e mental.


   Vishnu também é geralmente representado em duas posições:
  •    Em pé em cima de uma flor de lótus, com sua consorte Lakshmi ao lado;
  •    Envolto pelo Oceano de Leite, reclinado nos espirais formados por uma serpente enrolada, com sua consorte Lakshmi massageando seus pés.
  Os principais devotos de Vishnu são chamados de Vaishnava. Consideram Vishnu o maior dos deuses, louvando apenas a ele, e tendo os outros deuses como inferiores, ou como apenas semideuses. A devoção monoteísta á Vishnu se chama Vaishnavismo. 

   No Rig Veda, uma compilação de hinos antigos em sânscrito, Vishnu é mencionado diversas vezes, assim como outros deuses.

  Vishnu é particularmente associado à luz e especialmente ao Sol. Em textos mais antigos, Vishnu não é mencionado entre os sete principais deuses do Sol (Adityas), mas em textos mais recentes ele é mencionado liderando-os, e desse tempo adiante, começou a ganhar mais proeminência, sendo considerado o mais importante de todos os deuses.

   Sua montaria é uma águia de nome Garuda, considerado o Rei das Aves:



Fonte:

Vishnu. BBC Co. UK, 24 de agosto de 2009. Disponível em: <https://www.bbc.co.uk/religion/religions/hinduism/deities/vishnu.shtml>. Acesso em 28 de maio de 2020.

Ifrit - Mitologia Árabe

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   O Ifrit (عِفْرِيت), no folclore árabe, é um tipo de ser sobrenatural muito poderoso e malevolente. O significado com exatidão da palavra “Ifrit” é desconhecida.

   Lendas populares geralmente retratam esse ser como uma figura alada, formada por fumaça. Vivem debaixo do solo ou em construções em ruínas. Podem ser do sexo feminino (ʿifrītah), ou do sexo masculino (ʿifrīt), e o plural é “ʿafārīt” (عَفَارِيت). São comumente associados ao Submundo e com os espíritos dos mortos. 

   Os Ifrit vem de uma linhagem árabe ancestral de reis, tribos e clãs. Normalmente se casam com outros de sua espécie, porém podem também se casar com humanos. 

   Por mais que espadas e armas não tenham efeito sobre eles, são bem vulneráveis em relação à magia, a qual os humanos usam para matá-los ou capturá-los para servirem como escravos. Os Ifrit podem ser bons ou maus, cada um tem sua personalidade, porém é comum serem retratados como seres rebeldes e maldosos.


Monro Scott Orr (1874-1955), “The Arabian Nights’ Entertainments”, 1913





Observação:

Aqui no blog, eu procuro sempre dar lugar à diversidade, por isso que sempre há posts sobre a cultura de vários lugares do mundo. No caso da cultura árabe, tenho dificuldades de achar fontes confiáveis sobre suas lendas e folclore. É extremamente difícil achar informações precisas sobre a cultura árabe, e por respeito, não vou escrever o que eu não sei. É por isso que as informações que coloco aqui são limitadas. Só vou escrever mais a respeito se eu achar fontes seguras de informações. Quaisquer sugestões ou correções serão bem vindas. Gratidão!



   Fonte:

   TESCH, Noah. Ifrit: Islamic Mitology. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: <https://www.britannica.com/topic/ifrit>. Acesso em 28 de maio de 2020.

   Ifrit. Oxford Islamic Studies. Oxford University Press. Disponível em <http://www.oxfordislamicstudies.com/article/opr/t125/e977>. Acesso em 28 de maio de 2020.

Simbolismo Funerário: O significado das gravuras das lápides

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Para retratar aspectos da vida das pessoas que jazem abaixo das lápides, e as expectativas do que pode acontecer após a morte, alguns simbolismos são muito comuns nas tradições funerárias. Tiradas da revista online Atlas Obscura, aqui estão as explicações de alguns símbolos comuns:   


Crânio alado


  Popular especificamente nos séculos 17 e 18, o crânio voador simboliza o quanto o nosso tempo de vida “voa”depressa, e a alma plana para o além.


Ampulheta alada


  Seu significado é similar a do crânio alado, a ampulheta significa a rapidez com que o tempo passa - às vezes realmente parecendo voar com um par de asas.


Aperto de mãos


   A imagem de mãos é comum em sepulturas, seja apontando para cima, indicando o Paraíso, ou apontando para baixo, como uma mensagem divina para os que jazem abaixo da terra. Muitas vezes, é retratado o aperto de mãos simbolizando uma “última despedida”, especialmente se tratando de um casal, onde um é falecido e o outro continua no mundo dos vivos.


Pomba


  Esse símbolo é utilizado principalmente quando a sepultura é de uma mulher que morreu jovem, a pomba representa paz e pureza. Às vezes a pomba é retratada voando para cima, aos céus. Se a pomba for retratada caída, significa que a morte da pessoa foi súbita, quando ninguém esperava.


Tocha invertida


  Uma tocha de cabeça para baixo demonstra que a alma ainda está em chamas no Pós-Vida. 


Rosas


  O desabrochar de uma rosa simboliza a idade de uma moça no tempo de sua morte, seja em botão ou completamente desabrochada, e seu caule cheio de espinhos significa que a moça faleceu cedo demais. 



Tronco de árvore


   A figura de um tronco de árvore cortado simboliza uma vida ceifada muito cedo e de repente.


Trigo


  O trigo, assim como folhas de carvalho, simbolizam uma vida longa que foi colhida pela morte em seu tempo certo.


Cordeiro


Geralmente encontrado em sepulturas de crianças, o cordeiro simboliza a inocência, e pode muitas vezes se referir à Jesus - o Cordeiro de Deus.


Livro Aberto

  Representa o Livro da Vida, o amor de uma pessoa por literatura, ou uma referência à bíblia. Um livro aberto representa um coração humano aberto à Deus, assim como a vida de alguma pessoa ter sido registrada em livro.


Urna coberta

  Incrivelmente comum em cemitérios da Era Vitoriana, uma urna coberta representa a separação entre os vivos e os mortos, e uma mortalha protetora para a alma. É também uma inspiração clássica para simbolizar a morte.


Portões abertos

  Portas e portões abertos são símbolos da passagem para o Céu, a ida de um indivíduo do mundo dos vivos para o Além.




     Fonte:


  ENEMARK, Michelle; MEIER, Alisson C. A Graphic Guide to Cemetery Symbolism. Atlas Obscura, 2014. Disponível em <https://www.atlasobscura.com/articles/a-graphic-guide-to-cemetery-symbolism>. Acesso em: 27 de maio de 2020.

Jikininki - Folclore Japonês

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  Jikininki (食人鬼, que traduzindo significa fantasma antropófago) é um tipo de fantasma que se alimenta de cadáveres. Habitam em templos antigos e construções em ruínas, aparecem geralmente como humanos normais, porém apresentam características mais monstruosas. Têm dentes pontiagudos, usados para cortar a pele dos corpos recém falecidos.

  Evitam contato excessivo com humanos, mas vivem perto de seus estabelecimentos, já que querendo ou não os humanos são sua fonte de alimento. Têm seu sustento ao devorar a carne e os ossos de pessoas recém falecidas. Os Jikininki não se regozijam pela vida que levam, e muito menos sentem prazer ao comer cadáveres, já que fazem isso apenas para amenizar a dor de sua fome eterna. 

   A existência dos Jikininki fica em algum lugar em meio aos vivos e aos mortos. Possuem algumas características típicas de fantasmas, como por exemplo o fato de serem invisíveis à luz do dia, assim como os estabelecimentos onde vivem, e aparecerem somente à noite para alguns viajantes e andarilhos.Também costumam buscar por alimento somente durante a noite, se esgueirando para dentro dos templos, que no Japão é onde os corpos dos falecidos ficam previamente para receberem orações.

   Segundo a crença popular, uma pessoa se torna em um Jikininki se cometer muitas más ações em vida a ponto de corromper sua alma. Alguns Jikininki foram sacerdotes corruptos que depois da morte não foram capazes de fazer devidamente a passagem para o Além. Outros, são pessoas que de uma maneira ou de outra, se acostumaram a ter que comer carne humana, e conforme o tempo foi passando acabaram se transformando nesses monstros.

   Os Jikininki são frequentemente associados aos “Gaki” (餓鬼), fantasmas condenados à fome, à sede e ao sofrimento eterno. Habitam a região Gakidō, que segundo as crenças budistas e taoístas, é um plano dimensional onde habitam as almas das pessoas que em vida cometeram muitos erros, e por isso estão condenadas a pagar sua pena, sendo o seu sofrimento medido conforme a gravidade de seus pecados. De forma geral, os fantasmas Gaki estão condenados a sentirem fome e sede insaciáveis até cumprirem a sua sina, e depois evoluir espiritualmente para outro plano.

   Não vou entrar muito a fundo no assunto dos Gaki, porque pra entender completamente sobre eles, eu teria que fazer vários posts, já que envolve ideologia budista, outros planos espirituais, reencarnação, evolução espiritual e etc. Mas resumindo o que eu havia mencionado, os Jikininki tem associação com essas criaturas, a diferença é que os Jikininki têm acesso ao mundo dos vivos, algo que os Gaki não tem. 




                Fonte:

                http://yokai.com/jikininki/

Sadko, o Mercador - Folclore Eslavo

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  Há muitos anos vivia na cidade de Novgorod um belo rapaz chamado Sadko. Andava sempre sem dinheiro. Toda a sua fortuna consistia no cabelo encaracolado, olhos azuis e o seu alaúde de madeira, de cujas cordas douradas arrancava doces melodias. Sempre que um nobre cavaleiro dava uma festa, Sadko era chamado para cantar as lendas antigas. Quando um mercador casava a sua filha, Sadko tocava para que a noiva bailasse. Pelo seu trabalho davam-lhe comida, bebida e um fardo de palha para repousar. As moças riam-se da sua túnica esfarrapada e diziam-lhe:
   - Queres dançar, Sadko? Dança com as canas que crescem à beira do rio, que não vão reparar nos farrapos da tua roupa.
 A maior parte das noites via-se Sadko obrigado a passá-las passeando pelas margens do rio Volga e cantar a sua beleza. Dizia ás águas:
   - Não há donzela na grande cidade de Novgorod, meu amado Volga, cuja beleza possa ser comparada com a tua.
 Passavam os anos e Sadko continuava a cantar o rio Volga.


 Um dia em que estava sentado na margem, enquanto a lua prateava as suas águas, surgiu um redemoinho no lugar mais iluminado como, se alguém tivesse lançado uma pedra. Cada vez se tornava maior a circunferência, até que, por fim, apareceu sobre as águas uma cabeça veneranda, de olhos verdes e grande barba, da qual pendiam ervas marinhas e vidros brilhantes. Por esta aparição soube Sadko que tinha diante de si o poderoso czar do Oceano:
 Disse o que emergira:
   - Tenho por ti um grande afeto, Sadko. As tuas canções dedicadas ao Volga comovem-me. Terás a tua recompensa se me jurares visitar-me sob o Oceano Azul para que a minha czarina possa ouvir melodias do teu alaúde.
 Respondeu Sadko:
   - Juro aqui mesmo que te visitarei, poderoso czar, sob o Oceano Azul para que a czarina possa ouvir o meu alaúde.
   - Lança então tua rede de pesca e o que apanhares será o presente que te faço.
 Dizendo isto, o czar desapareceu sob as águas, e depois de um novo redemoinho, como se tivesse sido um sonho.
 Sadko deitou as suas redes à água e apanhou um cofre de madeira. Ao abri-lo ficou maravilhado. Tinha diante dos seus olhos uma montanha de ouro, prata, pérolas, rubis e esmeraldas. Esmeraldas tão verdes que brilhavam como uma chama viva ao fulgor da Lua.
 Sadko voltou à cidade, onde vendeu a sua fortuna. Investiu, transforou-se num mercador. Assim multiplicou e acrescentou as suas riquezas. Continuava, no entanto, passeando pelas noites às margens do Rio Volga, cantando as suas maravilhas e dizendo às águas:
   - Não há donzela em toda a grande cidade de Novgorod, amado Volga, cuja beleza possa comparar-se com a tua.
 Mas o czar do Oceano não voltou a aparecer.
 Durante doze anos Sadko viajou pelo Oceano, negociando com longínquos países. Por fim alcançou tantas riquezas, que ninguém reunia outras que pudesse trocar-se por elas. Em todas as partes armava-se em poderoso, dizendo:
   - Sadko, o mercador, comprará todas as vossas mercadorias e todas as que possam existir em Novgorod. Carregará todos os seus galeões para os levar para fora, e se as suas riquezas não bastarem paa as comprar a todas, permite-vos que o enforqueis numa praça pública.
 E, com efeito, comprou o que se vendia no mercado, metendo tudo em arcas. Isto até que não ficou nada por comprar. Mandou os seus marinheiros que carregassem os galeões e , quando o fizeram, exclamou:
   - Timoneiros, levantem as âncoras, desfraldem as velas e façamo-nos ao mar.
 A frota de galeões zarpou. O primeiro parecia levar com orgulho Sadko, o mercador de Novgorod. Assim viajaram m dia e uma noite. Na tarde da terceira jornada viram-se obrigados a parar. Sadko exclamou:
   - Irmãos, lancem as sondas, meçam a profundidade da água e digam-me se demos com rochas escondidas ou com traiçoeiros bancos de areia.
 Os marinheiros obedeceram e mediram os fundos,mas sem encontrar rochas ou bancos de areia. Sadko chamou os timoneiros da frota. Ordenou-lhes que se reunissem no seu galeão com todos os marinheiros. Quando estavam todos, disse-lhes:
   - Desejo que encham uma medida com prata e outra com pérolas finas para as oferecer em nome de Sadko ao poderoso czar do Oceano. Durante doze anos viajei sobre as suas águas sem lhe pagar nenhum tributo e por isso creio que está zangado comigo.
 Os marinheiros encheram uma medida com prata, outra com ouro, outra com pérolas finas e atiraram-nas à água. Mas esta devolveu os presentes bradando:
   - Sadko, o czar não pede riquezas, mas sim uma vida humana. Que nenhum tronco de pinho cada navegante escreva seu nome e o de seus pais.
 Foi executada a ordem e os troncos rotulados flutuavam sobre as águas. Mas o tronco de Sadko, mercador de Novgorod, afundou-se no mar. Sadko exclamou:
   - Não se serve a madeira de pinho. Tragam-me troncos de carvalho e que cada um escreva o seu nome e o de seus pais.
 Assim se fez e todos os nomes voltaram a flutuar como patos na água. O de Sadko, mercador de Novgorod, afundou-se no mar. E o mercador exclamou uma vez mais:
   - Não serve madeira de carvalho! Tragam ciprestes porque Nosso Senhor foi crucificado num cipreste e abençoou essa madeira.
 Trouxeram pois ciprestes e cortavam-nos transversalmente. Todos escreveram o seu nome na madeira. Deitaram os troncos à água e só o de Sadko, mercador de Novgorod, foi para o fundo como se de chum bo se tratasse. Então, Sadko exclamou:
   - O que não pode ser evitado deve olhar-se de frente. Assim, eu Sadko, seguirei o meu nome às profundezas do Oceano Azul.
 Pôs sobre as costas o seu manto de arminho. Levava na mão esquerda umas medidas de pérolas perfeitas e na direita o alaúde, cujas cordas douradas murmuravam coisas de países longínquos. Os marinheiros lançaram Sadko às ondas e os ventos enfumaram as velas levando galeões a paragens longínquas. Sadko desceu até ao fundo do mar, mais baixo ainda do que os bancos de coral. Viu passar monstros marinhos, brilhar o corpo de um delfim e , por detrás de uma rocha, uma sereia. Por fim distinguiu um palácio de vidro verde, com adornos de jaspe e portas de esmeralda.

 Entrou Sadko no palácio e encontrou o czar do Oceano, sentado no seu trono, tendo ao lado a bela czarina. Perguntou com voz firme:
   - Poderoso czar do Oceano, porque me chamastes?
 Este franziu a testa com ira e respondeu:
   - Não juraste na margem do rio Volga que virias visitar-me? Não te recompensei por isso com riquezas? Durante doze anos viajaste pelos meus mares sem que o juramento te preocupasse. Agora chamei-te aqui contra a tua vontade e tocarás o alaúde até que te mande parar.
 Sadko tocou o seu alaúde diante do czar e o rosto deste alegrou-se como se o sol tivesse saído para iluminar uma passagem sombria. O monarca ergueu-se, colocou as mãos à cinta e começou a bailar ao compasso do alaúde.


Boris Olshansky. Sadko in the Underwater Kingdom. 1999


 Passou uma hora, duas, três. Os movimentos do czar eram lentos e graciosos, mas continuava a bailar sem se cansar, enquanto Sadko tocava também infatigavelmente. Quando o czar tinha dançado durante três horas, disse a czarina a Sadko:
   - Peço-vos que quebreis o vosso alaúde, Sadko. Não calculais o perigo que encerra, pois o czar quer bailar sempre. E quem será capaz de lhe negar a música? Se quiser bailar sobre as ondas convertê-las-á em verdadeiras montanhas e então os barcos ficarão sepultos pelas águas e os marinheiros morrerão.
 Sadko obedeceu à ordem da czarina. Partiu o seu alaúde de madeira e arrancou as suas cordas de ouro.
O czar gritava:
   - Continua a tocar, mercador de Novgorod! Não quero que pares!
 Sadko respondeu:
   - Não posso tocar mais. A madeira do meu instrumento partiu-se. As cordas rebentaram e só em Novgorod se pode compor o instrumento.
 Tão encantado estava o poderoso czar com a música e com a dança que olhou Sadko com simpatia e acabou por lhe dar os tesouros que abundavam no fundo do oceano azul. Por fim, perguntou-lhe:
   - Queres casar-te, Sadko?
 Sadko respondeu:
   - Sim, masjestade, mas não tenho noiva.
 Replicou o czar:
   - Eu tenho muitas filhas, e já que me trouxeste alegria ao coração, podes escolher entre elas a tua futura esposa.
 E chamou as filhas ali à presença deles.
 A czarina disse ao mercador:
   - Obedeceste aos meus desejos, mercador de Novgorod. Quero aconselhar-te. Não escolhas a tua noiva entre o primeiro grupo de formosas donzelas que o czar trará diante de ti, nem te decidas quando vires o segundo grupo. Do terceiro não escolhas uma formosa jovem, branca como o leite e rosada como as flores. Mas se queres ser o dono da Rússia e ver de novo a brilhante luz do sol, decide-te pela que se esconde atrás das suas irmãs, de tez morena e estatura baixa.
 O czar mostrou um grupo de formosas donzelas e convidou-o:
   - Escolhe dentre elas a noiva a teu gosto!
 Sadko respondeu:
   - Entre todas, ainda que sejam muito formosas, não encontro nenhuma que me agrade.
 O czar chamou o segundo grupo e pediu de novo a Sadko que escolhesse entre elas a sua noiva. Respondeu Sadko:
   - Entre todas, apesar da extraordinária beleza, não encontro nenhuma que me agrade.
 O czar voltou pela terceira vez com o último grupo:
   - Escolha agora, Sadko, uma noiva que seja do teu desejo, pois apresentei-te já todas as minhas filhas e uma delas há de ser tua esposa.
 Sadko olhava-as à medida que passavam e tocou naquela que se escondia por detrás de duas irmãs, e tinha tez escura e pequena estatura.
   - Esta moça agrada-me!


Ilya Repin, Sadko.1876 - Oil on canvas. State Russian Museum, Saint Petersburg, Russia.


 O czar deu a donzela por esposa ao mercador, com um dote de prata, ouro e pérolas perfeitas. Foi conduzido Sadko a um quarto espaçoso para descansar, e mal se deitou pôs-se a sonhar. Acordou na margem do Rio Volga, iluminado por um formoso sol. Sadko tinha todos os seus tesouros amontoados aos pés. Mas a filha do poderoso czar do Oceano havia desaparecido.
 Durante doze compridos anos os batéis do mercador subiram e desceram o Rio Volga favorecidos por ventos e mares. Nunca a fortuna o perturbou. Ao fim desse tempo todo, Sadko teve desejos de voltar contemplar a grande cidade de Novgorod. Deitou à água, o pão e o sal, e exclamou:
   - Presto-te este tributo, pai Volga, o teu curso sulcaram os batéis durante doze compridos anos, favorecidos por ventos e mares, Prosperei e floresci e nenhuma fortuna perturbou a minha paz. Agora quero voltar a Novgorod, onde passei a minha juventude.
 O rio respondeu:
   - Vai, digno mercador, e quando chegares à torre onde estão as portas da cidade, saúda o meu irmão Ilmen em nome do Volga.
 Sadko viajou para Novgorod, e quando chegou às portas da cidade, onde se encontrava a torre, fez uma saudação ao lago Ilmen dizendo:
   - És poderoso, Ilmen, saúdo-te em nome do teu irmão Volga e saúdo-te também em nome de Sadko, mercador de Novgorod.
 Um jovem surgiu então sobre a margem e exclamou:
   - Agradeço-te os cumprimentos, amigo, mas gostaria de saber como ganhastes os favores do Volga.
 Sadko respondeu:
   - Durante doze largos anos o percorri. Naveguei desde o lugar onde nasce até o lugar onde desemboca, em Astrakan. Favoreceu-me com eventos e paguei-lhe o tributo.
 O rapaz replicou:
   - Vai a Novgorod e volta esta noite trazendo contigo três pescadores e três redes. Faz com que deitem as suas redes nas minhas águas e eu te recompensarei pelo amor que dedicastes ao meu irmão.
 Sadko voltou pela noite com três pescadores e três redes. Deitaram os aparelhos e ao recolhê-los, na primeira rede havia peixes brancos como a neve; na segunda, peixes de cor vermelha viva, e na terceira outros de cores variadas, que brilhavam à luz da lua. Sadko pegou no presente de Ilmen e enterrou-o numas cavernas,sob a terra, fechando-o com barras de ferro e colocando uma sentinela a guardar o tesouro. Durante três dias não o viu, mas ao quarto dia abriu as grades das cavernas e escancarou as portas de par em par. Oh, surpresa! Os peixes brancos estavam transformados em moedas de prata, os vermelhos em ouro, os de várias cores em pérolas maravilhosas que brilhavam à luz da lua. Sadko em pé na margem do Ilmen saudou profundamente o lago e disse:
   - Obrigado te dou, Pai Ilmen, pelo tesouro de ouro, prata e pérolas maravilhosas que me ofereceste.
 O Ilmen respondeu:
   - Está bem, Sadko. Sê feliz com as tuas riquezas e prepara uma festa na cidade de Novgorod, para que se conheça uma nova glória.
 Sadko cumpriu a ordem de Ilmen. Houve festejos em Novgorod durante três dias e três noites.
 Sadko, o homem mais rico de Novgorod, passeava pela praça do mercado quando descobriu num recanto muito escuro uma pilha de porcelanas quebradas. Sorridente, perguntou aos vendedores:
   - Vocês vendem estas porcelanas?
   - Sim, Sadko.
 Sadko comprou os restos de porcelana e disse:
   - Pode ser que as crianças gostem de brincar com isto e se lembrem mais tarde de Sadko. Dirão: "Rico era Sadko, ou rica era a cidade de Novgorod, que possui tesouros trazidos do fundo dos mares. Mas Novgorod também é rica em porcelanas partidas".


Apollinarii Vasnetsov (1856-1933) - Old Veliky Novgorod, 1901. Óleo sobre tela, 106 x 177 cm.


   Fonte: 

MOUTINHO, Viale. Contos Populares Russos. São Paulo: editora Landy, 2000.

Quando a Morte Vem - Conto Popular Tailandês

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A crença budista aconselha as pessoas a buscarem o livre arbítrio. Uma pessoa deve tentar desenvolver uma atitude indiferente diante certas emoções, seja ela tristeza, desapontamento, raiva, ou irritação, tendo o entendimento de que, independente do que acontecer, vai acontecer de acordo com as forças cármicas e deve ser aceito sem angústia.


  Um indivíduo escolhe livremente melhorar seu futuro ao realizar boas ações, tendo bons méritos. A Vida e a Morte para o Budismo são não mais do que dois opostos da mesma existência cíclica. O Budismo Tailandês almeja desenvolver o plongtok
 (ปลงตก), que é o estado de controle da própria mente, sendo indiferente diante do que quer que aconteça, e aceitando o que vier com atenção, mas sem tristeza. 

   É costume em vários países da Ásia cremar o corpo dos mortos. Preferem queimá-los do que enterrá-los, pois acreditam que é a maneira correta de devolver o corpo humano aos elementos. 

   Há uma lenda na Tailândia, de uma família de 6 membros que morava em uma pequena cabana. Consistia de um pai, uma mãe, um filho, uma filha, uma nora e uma criada. 

   Certo dia, pai e filho foram para a plantação de arroz arar a terra. Era um dia quente, e eles trabalharam arduamente. Então, quando o filho estava arando, ele pisou em uma cobra e foi mordido, logo caiu no chão e morreu. Apesar do pai estar ao seu lado, não havia nada que poderia ser feito, tudo aconteceu tão rápido. Em um momento, o filho estava vivo, trabalhando no campo, então de repente foi picado por uma cobra, caiu e morreu. 

   Quando o pai percebeu que não havia nada que ele podia fazer para salvar a vida de seu filho, carregou o corpo até a sombra de uma grande árvore. Deitando o corpo cuidadosamente na sombra da árvore, o pai se virou e retornou ao trabalho no campo. 

   Ao meio dia, o pai viu um vizinho indo para casa para o almoço. Ele falou ao vizinho: “por favor, vá até a minha casa e diga a minha esposa que mande apenas um almoço. Hoje ela não precisa trazer almoço para o nosso filho. Mas peça a ela que chame cada um da família para vir para cá. Obrigado.”

   O vizinho disse à mãe o que o pai havia pedido. Quando sua família se juntou à ele no campo, o pai os contou sobre o que havia acontecido ao filho. Ninguém da família chorou. Silenciosamente, eles começaram a juntar lenha para fazer uma fogueira crematória. Silenciosamente, eles acenderam a fogueira. Silenciosamente, eles deitaram o corpo do filho sob a fogueira ardente. Silenciosamente, eles assistiram ao corpo do filho ser reduzido à cinzas pelas chamas. 

  Naquele momento, um brâmane passava pelo local. Ele viu a família reunida silenciosamente ao redor das cinzas em chamas e perguntou: “A quem é que vocês estão cremando?”. O pai respondeu: “ É o meu filho, querido brâmane. Nós somos sua família. E esta é sua mãe, sua esposa, sua irmã e sua criada.”

   O brâmane se surpreendeu ao ver que nenhum dos membros da família estava chorando ou parecia desconsolado. E disse: “Perdão, querido fazendeiro, mas é realmente o seu filho quem morreu?. O pai então respondeu: “Sim, é o meu filho. Foi mordido por uma cobra hoje de manhã. Aconteceu aqui mesmo, na plantação de arroz, bem na minha frente.”

 —  “Mas querido fazendeiro, por que você não parece triste?”. Seu filho deve ter sido uma pessoa muito má, para que você nem ao menos lamente sua morte.

 — Não, não é isso, ele era um filho muito obediente, respeitava os mais velhos, era um bom homem. Mas a situação é como a da cobra que renova a sua pele: assim que descama, abandona a pele antiga e não volta mais a pensar nela. Se alguém por acaso pisa em sua pele antiga, a cobra não se zanga, não se preocupa, não se entristece. O mesmo acontece em relação à morte do meu filho. Se eu queimo seu corpo, ele não se zanga, não se entristece por eu ter destruído seu corpo. Isso para mim é verdade. Por isso, eu não me entristeço pela morte do meu filho.

   O brâmane acenou a cabeça em concordância. Então ele se voltou para a mãe: “Mas você choraria pela morte do seu filho se você de fato o amasse?”

   A mãe respondeu: “Eu, como todas as mães, amo muito o meu filho. Mas ainda assim, quando o meu filho veio ao meu ventre, ele não me avisou de sua chegada. E nem eu o convidei. Ele apenas veio. E eu o amei e criei. O ensinei a ser um bom cidadão. Agora que chegou o tempo do meu filho partir, ele não se despediu. Nem eu o pedi que fosse embora. Ele apenas foi. Se eu chorasse ele não saberia que eu chorei. E minhas lágrimas todavia não o ajudariam. Isso para mim é verdade. Por isso eu não choro.”

  Então o brâmane se voltou à esposa: “você e seu marido devem ter brigado muito, por que você nem ao menos chora por ele.” A esposa do falecido filho da família então respondeu: “Querido brâmane, meu marido foi muito amoroso e fiel. Eu o amo muito, mas uma criança, que nada entende, pode chorar pela lua no céu. Porém mesmo assim a criança nunca vai poder ter a lua. Meu marido acabou de falecer. Se eu chorasse até minhas lágrimas se transformarem em sangue, mesmo assim não traria meu marido de volta à vida. Isso eu entendo. Para mim isso é verdade. Eu não choro.

  Então o brâmane perguntou à irmã: “Mas você, irmã dele, você não lamenta pela morte de seu irmão? Era ele tão cruel que você nem ao menos fica em luto diante de sua morte?”

  A irmã então respondeu ao brâmane: Querido brâmane, meu irmão foi um bom irmão para mim. Mas quando uma agulha cai no oceano, é impossível recuperá-la. E é o mesmo com a morte do meu irmão. Sua vida agora se perdeu. Mesmo que eu chorasse até meu corpo cair de exaustão, eu ainda assim não poderia recuperar sua vida perdida. Eu nunca mais vou encontrar a agulha perdida no oceano. Nem nunca mais vou ver meu irmão vivo de novo. O veneno da cobra certamente matou o meu irmão. Isso para mim é verdade. Por isso, eu não choro.

   Para a criada o brâmane disse: “Você não se enlutece por este jovem? Ele deve te tratado muito cruelmente.”

   A criada respondeu: “Meu respeitável brâmane. Este jovem me tratava muito bem. Uma vez que um pote de arroz quebra, nós lamentamos. Nós queremos o pote de volta em sua forma original. Nós choramos até nos cegar. Mas mesmo assim o pote não se torna inteiro novamente. O mesmo acontece quando derramamos lágrimas por causa dos mortos. Nenhuma quantidade de choro traria os mortos de volta à vida. Isso para mim é verdade. Por isso, eu não choro pelos mortos. 

  Uma vez que o brâmane, um homem esclarecido, entendeu a lógica do fazendeiro e sua família, ele os parabenizou. Aplaudiu seu discernimento e sua habilidade de aceitar a morte calmamente e racionalmente. 



  
* Segundo a versão online do dicionário Michaelis, essa é a definição de carma:

 Princípio que rege a filosofia religiosa oriental, no budismo e no hinduísmo, segundo o qual o destino do ser humano é determinado pelo conjunto de suas ações em vidas anteriores. As boas atitudes podem gerar carma positivo e as más podem resultar em carma negativo. 

* Brâmane é um indivíduo da casta dos brâmanes, membros hereditários da casta sacerdotal, a primeira da tradicional estratificação social hindu. Por mais que a grande maioria dos tailandeses sejam budistas, a Tailândia tem uma forte influência hindu.


Fonte:
VATHANAPRIDA, Supaporn.; MACDONALD, Margaret Read; ROHITASUKE, Boonsong.
Thai Tales: Folktales of Thailand. Englewood, Colorado: Libraries Unlimited, Inc., 1994.

O Espírito Grato - Folclore Sul-Coreano

Author: Luiza / Marcadores: , , , ,



  Na época da Dinastia Goryeo “고려” (A.D. 918 - 1392), quando um teste estava para ser feito, um estudante vinha de uma região muito distante para participar. Certa vez em sua jornada, o dia estava chegando ao fim, e ele se encontrou em meio às montanhas. De repente ele ouviu um espirro vindo de entre as plantas trepadeiras e arbustos ao longo da beira da estrada, mas não conseguia ver nada. Achando aquilo muito estranho, ele desmontou de seu cavalo, entrou no matagal e parou para escutar. Ele escutou o espirro de novo, e parecia ter vindo das raízes das trepadeiras bem ao seu lado. Então ele pediu a seu empregado que cavasse o solo e observasse. Ele cavou e achou um crânio, estava cheio de terra e raízes das trepadeiras, que saíam de suas narinas e órbitas oculares. Os espirros estavam sendo causadas em seu espírito pelo fato de suas narinas estarem tão obstruídas. 

  O estudante sentiu pena, lavou o crânio em água limpa, o envolveu em um papel e o enterrou de volta onde o encontrou, ao pé das montanhas. Ele também deixou comida como oferenda ao espírito, ofereceu um sacrifício, e fez uma oração. 
  



Naquela mesma noite, em um sonho, um outro estudante veio até ele, um homem velho de cabelos brancos, que se inclinou em reverência, o agradeceu, e disse: “Por causa de um pecado cometido em vida, eu morri antes que eu pudesse cumprir meus dias. Toda a minha prosperidade também foi-se embora, meu corpo se decompôs de volta ao pó, restando apenas o meu crânio, e foi exatamente o que você encontrou enterrado debaixo da trepadeira. Por causa das raízes crescendo dentro dele, o incômodo que sofri foi grande, e eu não pude evitar de espirrar. Para a minha sorte, você com o seu bom coração abençoado dos Céus, teve dó de mim, enterrou o meu crânio em um lugar limpo e trouxe-me comida. Sua bondade é maior que as montanhas, e é igual à bênção que me deu o primeiro suspiro de vida. Por mais que minha alma não seja de maneira alguma perfeita, eu procura uma forma de poder retribuir-lhe o favor, e por isso eu tenho exercido meus poderes para o seu benefício. Sua atual jornada consiste em realizar o teste oficial, então eu tenho de lhe contar de antemão de que maneira deve ser feita e do que se trata. Serão grupos de cinco, em pares de versos: o som da rima é ‘pong’, e o tema é ‘Picos e Espirais das Nuvens de Verão’. Eu até já compus um verso para você. É assim:”

       “O alvo sol percorreu o alto dos céus,
E as nuvens flutuantes formaram um colina;
O sacerdote lhes perguntou se havia ali um templo,
E a garça lamentou que ali não havia pinheiros;
E os raios eram reflexos do machado de um homem,
E os trovões as badaladas dos sinos do tempo.
Alguém diria então que colinas não se movem?
Na brisa do pôr-do-sol elas velejaram para longe.”

   Após dizer isto, o espírito se curvou em reverência mais uma vez e foi embora.

   O homem, maravilhado, acordou de seu sonho, e foi para Seoul; lembrando dos versos que foram cantados pelo espírito, os anotou em um papel para apresentá-los no teste, e foi premiado como um dos primeiros honorários da ocasião.



Fonte:

PANG, In; YI, Yuk; GALE, James Scarth. Korean Folk Tales: Imps, Ghosts and Fairies. Nova York: E. P. Dutton & Co. 1903.