Barba Ruiva - Folclore Brasileiro

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Imagem produzida pelo Instituto Oswaldo Cruz, Piauí, 1912

 Aqui está a Lagoa de Parnaguá, limpa como um espelho e bonita como noiva enfeitada.

  Espraia-se por quinze quilômetros por cinco de largura, mas não era, tempo antigo, assim grande, poderosa como um braço de mar. Cresceu por encanto, cobrindo mato e caminho, por causa do pecado dos homens. 

  Nas Salinas, ponta leste do povoado de Parnaguá, vivia uma viúva com três filhas. O rio Fundo caía numa lagoa pequena no meio da várzea.

  Um dia, não se sabe como, a mais moça das filhas da viúva adoeceu e ninguém atinava com a moléstia. Ficou triste de pensativa. 

  Estava esperando menino e o namorado morrera sem ter ocasião de levar a moça ao altar.

  Chegando o tempo, descansou a moça nos matos e, querendo esconder a vergonha, deitou o filhinho num tacho de cobre e sacudiu-o dentro da lagoa. 

  O tacho desceu e subiu logo, trazido por uma Mãe d’Água, tremendo de raiva na sua beleza feiticeira. Amaldiçoou a moça que chorava e mergulhou.


Ilustração por Jô Oliveira

  As águas foram crescendo, subindo e correndo, numa enchente sem fim, dia e noite, alagando, encharcando, atolando, aumentando sem cessar, cumprindo uma ordem misteriosa. Tomou toda a várzea, passando por cima das carnaubeiras e buritis, dando onda como maré de enchente na lua. 

  Ficou a lagoa encantada, cheia de luzes e de vozes. Ninguém podia morar na beira porque, a noite inteira, subia do fundo d’água um choro de criança, como se chamasse a mãe para amamentar. 

  Ano vai e ano vem, o choro parou e, vez por outra, aparecia um homem moço, airoso, muito claro, menino de manhã, com barbas ruivas ao meio dia e barbado de branco ao anoitecer.

  Muita gente o viu e tem visto. Foge dos homens e procura as mulheres que vão bater roupa. Agarra-as só para abraçar e beijar. Depois, corre e pula na lagoa, desaparecendo.

  Nenhuma mulher bate roupa e toma banho sozinha, com medo do Barba Ruiva. Homem de respeito, doutor formado, tem encontrado o Filho-da-Mãe-D’água, e perde o uso de razão, horas e horas.

  Mas o Barba-Ruiva não ofende a ninguém. Corre sua sina nas águas da lagoa de Parnaguá, perseguindo mulheres e fugindo dos homens.

  Um dia desencantará, se uma mulher atirar na cabeça dele água benta e um rosário indulgenciado. Barba-Ruiva é pagão, e deixa de ser encantado sendo cristão.

  Mas não nasceu ainda essa mulher valente para desencantar o Barba-Ruiva.

  Por isso ele cumpre sua sina nas águas claras da lagoa de Parnaguá.


  




   Fonte:


  CASCUDO, Luís da Câmara. Lendas Brasileiras para Jovens. São Paulo: Global Editora, 2015.

Os Quarenta Tesouros - Conto Persa

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Uma vez, na cidade real de Isfahan*, vivia um jovem chamado Ahmed, que tinha uma esposa chamada Jamell. Ele não sabia nenhum tipo de técnica e não possuía nenhuma habilidade, mas ele tinha uma pá e uma picareta - e assim como ele sempre dizia à sua esposa: “se você puder cavar buracos, você sempre pode ganhar o bastante para sobreviver”. 

  Isso era o bastante para Ahmed, mas não era o bastante para Jamell.

  Uma vez, assim como sempre fazia, Jamell foi a casa de banho da cidade para banhar-se na piscina quente e conversar com outras mulheres. Mas na entrada, a recepcionista lhe disse: “você não pode entrar agora, a esposa do vidente real do Rei reservou o lugar todo só para ela”. 

  “Quem ela pensa que é?!”, protestou Jamell. “Só porque o marido dela prevê o futuro!”. Mas tudo o que ela pode fazer foi voltar para casa furiosa.

  Naquela noite, quando Ahmed foi lhe entregar seus ganhos do dia, ela disse: “olhe só para essa mixaria! Não posso mais suportar esta situação. Amanhã, você se sentará em meio a feira e vai ser um vidente!”. 

  “Jamell, você está louca?” perguntou Ahmed. “Eu não sei nada sobre prever o futuro!”.

  “Você não precisa saber de nada”, disse Jamell. “Quando qualquer um vier lhe perguntar algo, você apenas joga os dados e murmura alguma coisa que soe inteligente. É isso, ou eu vou embora para a casa do meu pai!”.


  Então, no dia seguinte, Ahmed vendeu sua pá e sua picareta, comprou dados, uma tábua, um robe de vidente, e sentou-se em meio a feira, ao lado da casa de banho.

  Mal havia ele acabado de se estabelecer no local e já vinha correndo para ele a esposa de um dos ministros do Rei.

  “Vidente, você precisa me ajudar! Eu estava usando o meu anel mais precioso para vir ao banho hoje, e agora eu o perdi! Por favor, diga-me onde está!”.



  Ahmed engoliu seco e jogou os dados. Enquanto ele pensava desesperadamente em algo inteligente para dizer, ele acabou por observar as vestes da mulher. Percebeu que tinha uma pequena fenda, e por ela dava-se para ver parte de seu braço. 

  No Oriente Médio daquela época, aquilo era considerado impróprio para uma mulher respeitável, então Ahmed se inclinou para frente e sussurrou discreta e urgentemente: “senhora, eu vejo uma fenda”.

  “O quê?”, perguntou a mulher, se inclinando para frente.

  “Uma fenda! Uma fenda”.

  A mulher então entendeu. “Claro! Uma fenda!”.

  Ela correu de volta para a casa de banho e encontrou a fenda na parede na qual ela havia escondido seu anel para mantê-lo protegido e o esqueceu. Então ela voltou para onde estava Ahmed.

  “Deus seja louvado!”, disse ela. “Você sabia exatamente onde ele estava!”. E para a surpresa de Ahmed, ela lhe deu uma moeda de ouro.

  Naquela noite, quando Jamell viu a moeda e ouviu a história, disse: “Viu? É simples!”

  “Deus foi misericordioso hoje!”, disse Ahmed, “mas não ouso testá-lo outra vez!”.

  “Bobagem!”, disse Jamell. “Se você quer continuar casado, você voltará à feira amanhã”.


  Acontece que naquela mesma noite, os tesouros do palácio do Rei foram roubados. Quarenta pares de mãos roubaram quarenta baús de ouro e jóias.

  O roubo foi relatado para o Rei na manhã seguinte. “Tragam-me o vidente Real e seus assistentes”, comandou o Rei.

  Porém, por mais que o vidente e seus assistente jogassem os dados e murmurassem palavras sábias, nenhum deles pôde localizar nem o tesouro e nem os ladrões.

  “Fraudes!”, gritou o Rei, “joguem todos na cadeia!”.

  O Rei havia então ouvido falar sobre o vidente que recuperou o anel da esposa de um de seus ministros, por isso enviou para a feira dois guardas com a ordem de trazer Ahmed, que apareceu tremendo em seu palácio.

  “Vidente”, disse o Rei, “40 baús contendo o meu tesouro foram roubados. O que você pode me dizer a respeito dos ladrões?”.

  Ahmed pensou rapidamente sobre 40 baús sendo levados embora. “Sua Majestade, eu posso dizer-lhe que foram… 40 ladrões.”

  “Incrível!”, disse o Rei, “nenhum dos meus adivinhos sabia tanto! Mas agora você precisa encontrar os ladrões e o tesouro.”

  Ahmed sentiu que iria desmaiar. “Farei o meu melhor, Sua Majestade, mas… mas, vai levar algum tempo”.

  “Quanto tempo?”, perguntou o Rei.

  “Hmm, 40 dias, Sua Majestade”, disse Ahmed, pensando o máximo que conseguia. “Um dia para cada ladrão”.

  “Bastante tempo!”, disse o Rei. “Pois bem, então você terá 40 dias. Se conseguir, eu o farei rico. Se não, você apodrecerá com os outros na prisão!”.


  De volta em casa, Ahmed disse a Jamell: “vê o problema que você nos causou? Em quarenta dias, o Rei irá me prender!”

  “Bobagem!”, disse Jamell. “Apenas encontre os ladrões assim como encontrou o anel.”

  “Eu já te disse, Jamell, eu não encontrei nada! Aquilo foi apenas pela graça de Deus, mas desta vez não há esperança!”.

  Ahmed trouxe algumas tâmaras secas, contou quarenta, e as colocou em um jarro. “Vou comer uma dessas tâmaras a cada noite, pois isso me dirá quando os meus quarenta dias acabarão.”


  Acontece que um dos empregados do Rei era um dos ladrões, e ele havia ouvido o Rei conversar com Ahmed. Naquela mesma noite, ele correu para o local de encontro dos ladrões e contou tudo para o chefe do bando. “Há um vidente que diz que vai encontrar os tesouros e os ladrões em quarenta dias!”

  “Ele está blefando!”, disse o chefe. “Mas não podemos pagar pra ver. Vá para a casa dele e veja o que pode descobrir.”

  Então o empregado escalou a casa de Ahmed e subiu até o terraço, no telhado plano, e ficou à escuta ao lado da escada que dava para o andar de baixo. No mesmo instante, Ahmed pegou uma tâmara do jarro e comeu. Ele disse à Jamell: “Este é um.”

  O empregado ficou tão chocado que quase caiu escada abaixo. Ele correu de volta para o local de encontro dos ladrões e disse ao chefe: “esse vidente tem poderes magníficos! Sem ao menos me ver ele sabia que eu estava no telhado! Eu o ouvi dizer claramente ‘este é um’.”

  “Deve ser apenas a sua imaginação”, disse o chefe. “Amanhã à noite dois de vocês irão lá.”


  Então, na noite seguinte o empregado retornou a casa de Ahmed junto com um dos outros ladrões. Ao se posicionar ao lado da escada, Ahmed comeu a segunda tâmara e disse: “agora são dois”.

  Os ladrões quase tropeçaram um no outro ao descer do telhado e correr de volta para o local de encontro dos ladrões. “Ele sabia que havia dois de nós!”, disse o empregado. "Nós o escutamos dizer ‘agora são dois’!”.

  “Não pode ser!”, disse o chefe. Então na noite seguinte, ele mandou três dos ladrões, e na próxima noite quatro, depois cinco, depois seis.

  E assim foi até a quadragésima noite, quando o chefe disse, “desta vez, eu mesmo vou com vocês”. Então todos os quarenta ladrões escalaram o telhado de Ahmed para ficar à escuta.


  Dentro da casa, Ahmed olhou tristemente para a última tâmara do jarro, a pegou e comeu. “São quarenta. Agora o número está completo”. (Ahmed se referia ao número de dias que correspondiam ao número de tâmaras, mas claro, disso os ladrões não sabiam).

  Jamell sentou-se ao seu lado e gentilmente pegou sua mão. “Ahmed, durante estes quarenta dias, eu tenho pensado. Eu estava errada em fazer você ser um vidente. Você é o que é, e eu não deveria ter tentado fazer você ser o que não é. Você pode me perdoar?”.

  “Eu te perdoo, Jamell, mas a culpa é minha também. Eu não deveria ter feito o que eu sabia que não era certo. Mas nada disso pode nos ajudar agora.”

  No mesmo instante houveram batidas estrondosas na porta.


  Ahmed suspirou. “Devem ser os guardas do Rei!”. Ele foi até a porta, a destrancou e disse: “Tudo bem, tudo bem. Eu sei o porquê vocês estão aqui”.

  Porém, quando ele abriu a porta, para sua surpresa, encontrou quarenta homens ajoelhados diante dele, tocando o chão com a cabeça repetidamente.

  “É claro que você sabe, ó grande vidente!”, disse o chefe. “Nada pode ser escondido de ti. Mas nós imploramos para que não nos entregue!”.

  Perplexo como estava, Ahmed percebeu que aqueles deveriam ser os ladrões. Pensou rápido e disse: “muito bem, eu não vou entregar vocês. Mas vocês devem devolver todos os itens do tesouro”. 

  “Neste instante, neste instante!”, jurou o chefe dos ladrões.

   E antes do fim da noite, quarenta pares de mãos levaram quarenta baús de ouro e jóias de volta para a tesouraria do Rei.


  Bem cedo na manhã seguinte, Ahmed apareceu perante o Rei. “Sua Majestade, minha mágica só consegue encontrar ou o tesouro ou os ladrões, mas não ambos. Qual você escolhe?”. 

  “O tesouro, eu acho…”, disse o Rei, “porém é uma pena que os ladrões não possam ser encontrados. O óleo fervente está todo pronto esperando por eles. Bem, não importa. Diga-me onde está o tesouro, e eu mandarei os meus homens para buscá-lo.”

   “Não será preciso, Sua Majestade”. Ahmed balançou os braços pelo ar e disse: “Pish posh, wish wosh, mish mosh”. Então disse, “pela minha magia, o tesouro retornou ao seu devido lugar”. 

  O próprio Rei foi com Ahmed até a tesouraria e lá estava o tesouro. “Você realmente é o melhor vidente desta era!”, declarou o Rei. “Deste dia em diante, você será o meu Vidente Real!”. 

  “Obrigado, Sua Majestade”, disse Ahmed com uma reverência, “mas temo que seja impossível. Achar e restaurar o seu tesouro foi tão difícil que esgotou todos os meus poderes. Eu posso nunca mais ser um vidente outra vez.”

  “Que lástima!”, lamentou o Rei. “Então eu devo duplicar sua recompensa. Aqui, leve estes dois baús de tesouro para você”.

  Então Ahmed retornou para casa e para Jamell, a salvo, rico, e sendo um ótimo negociador. E assim como qualquer vidente poderia prever, foram felizes para sempre. 




  

*Isfahan foi declarada a capital do Irã no ano de 1598 pelo Shah Abbas o Grande, e permaneceu com este nome durante um século. Sob o poder de Abbas, a cidade se tornou conhecida como uma das mais bonitas do mundo, e se tornou o maior centro internacional de comércio e artes. Este período é considerado a Era de Ouro da cultura Persa. Pérsia é o antigo nome da região que hoje é o Irã.

  



   Fonte: SHEPARD, Aaron. Forty Fortunes: A Tale of Iran. Nova York: Clarion Books, 1999.

Elfos: Suas Origens e Características

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Arte por Brian Froud

Elfos têm sido durante muitos anos um tema bem popular entre obras de fantasia e ficção. Desde a obra “Um Sonho de uma Noite de Verão”, do dramaturgo William Shakespeare, até os clássicos romances de fantasia de J. R. R. Tolkien 300 anos depois.

  Assim como as fadas, os elfos são frequentemente caracterizados como pequenas criaturinhas metamórficas, conhecidas por pregar peças e fazer travessuras. Acredita-se que habitavam em reinos secretos nas florestas, nos campos, ou em troncos de árvore ocos.

  Em filmes e séries contemporâneas, os elfos são representados como belas criaturas sempre dispostas a ajudar as pessoas em tempos de necessidade. Porém, as características dos elfos segundo as lendas antigas mostram uma forma bem mais hostil em relação aos humanos. Frequentemente, os elfos ludibriavam os humanos levando-os à morte. 


  Os Elfos Arthurianos

  Nas lendas Arthurianas, o mago Merlin uma vez se apaixonou por uma elfa. Na verdade, ela usou seus encantos para seduzir Merlin e atraí-lo até uma floresta, para então prendê-lo e matá-lo. Foi uma questão de sorte que Merlin conseguiu se desvencilhar do encanto de sua beleza e escapar com vida.

Merlin e Nimue, 1893-1894, por Aubrey Beardsley

  Às vezes os conceitos de “fadas” e “elfos” são considerados os mesmos, porém por mais que ambas as criaturas tenham características semelhantes, o que os diferencia são os locais de origem de suas lendas. As lendas das fadas tem origem na mitologia Anglo-Saxã, tanto que há versões de histórias da Távola Redonda em que o próprio Rei Arthur é filho de uma fada. Segundo as crenças antigas, as fadas são associadas às flores, e suas asas lembram as de borboletas e libélulas. Já os elfos são associados às árvores, e têm origem na mitologia Nórdica.

  Segundo as histórias da Távola Redonda, acreditava-se que Arthur era metade fada, e Merlin era metade elfo. Elfos da era Medieval apresentavam algumas características das ninfas da mitologia Grega. A elfa do conto “Ojos Verdes” de 1861, do romancista espanhol Gustavo Adolfo Bécquer, lembra muito as ninfas d’água da mitologia Grega, por atrair um garoto humano até um lago e afogá-lo. 


   Os Elfos da Mitologia Nórdica

  As lendas mais antigas sobre elfos vêm da mitologia Nórdica, onde há os elfos da luz, e os elfos da escuridão. Elfos de luz eram estimados e apreciados pelo deus Odin. Algumas lendas dizem que a aparência dos elfos estava ligada às mudanças das estações da natureza. Elfos eram conhecidos por suas orelhas pontudas, que lhes garantia uma excelente audição. Eram em sua maioria imortais, mas poderiam morrer se sua árvore de carvalho fosse cortada. Elfos de luz, ou Ljosalfar, como os nórdicos costumavam chamá-los, eram divinamente belos e habitavam o belo mundo de Álfheimr, que faz parte da árvore Yggdrasil, conhecida como eixo do mundo.

  Elfos da escuridão, ou Dokkalfar, eram conhecidos por serem bem feios, e habitavam o mundo de Niflheim. Por mais que os elfos da escuridão fossem naturalmente maus, os elfos de luz também não eram especificamente amigáveis com os humanos, pois os consideravam criaturas inferiores. 

Älvalek, 1866, por August Malmström. 150 x 90cm. Óleo sobre tela.

   Atualmente, é comum ver na televisão e nos filmes natalinos elfos alegres e simpáticos ajudando o Papai Noel no Polo Norte, fabricando e levando brinquedos para crianças humanas. Por mais que essa imagem dos elfos seja predominante nos tempos de hoje, não podemos nos esquecer de que no passado os elfos eram conhecidos por amaldiçoar humanos, deixá-los loucos e sequestrar crianças. Essas coisas aconteciam especialmente quando algum humano se intrometia na vida dos elfos, perturbando-os. A vingança e a retaliação dos elfos era motivo de grande temor. 


Arte por Brian Froud



    Fonte:

 RORIC, Valda. Revealing the True Nature of Elves: Dangerous Beauties and Diabolical Fiends. Ancient Origins, 18 de dezembro de 2015. Disponível em: <https://www.ancient-origins.net/myths-legends/revealing-true-nature-elves-dangerous-beauties-and-diabolical-fiends-004978>. Acesso em 10 de julho de 2020.

 RADFORD, Benjamin. A History of Elves. Live Science, 1 de novembro de 2017. Disponível em <https://www.livescience.com/39689-history-of-elves.html>. Acesso em 10 de julho de 2020.

Hantu KumKum - Folclore Malaio

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Arte por Dian Permatasari

Hantu KumKum é um fantasma da Malásia, país do sudeste da Ásia, que tem aterrorizado o povo malaio por décadas, com sua insaciável sede de sangue de garotas jovens. Trata-se de uma velha senhora que veste um longo e esvoaçante jilbab* que esconde seu rosto horrendo, cheio de bolhas, feridas e cicatrizes. Ela vai de casa em casa batendo nas portas á procura de vítimas. “Hantu”, no idioma malaio, quer dizer “fantasma”; e por causa de suas deformidades faciais, não consegue pronunciar a saudação tradicional muçulmana “As-salam alaykum”, por isso quando tenta, só consegue dizer “kumkum”.

   Segundo a crença popular, a Hantu KumKum já foi uma jovem e bela mulher, porém nunca estava satisfeita com a própria aparência. Conforme foi envelhecendo, e sua beleza esvaindo-se, ela saiu á procura de uma maneira de restaurar sua juventude.

   Ela então consultou um bomoh, um tipo de “shaman” ou feiticeiro típico da Malásia, que lhe disse que através da magia negra e do ocultismo era possível dar-lhe a beleza eterna. Ele então deu-lhe uma poção para beber, e lhe disse para não olhar seu reflexo em um espelho por 30 dias.

   Apesar do aviso, a mulher ficou atormentada pela curiosidade. A cada vez que ela tocava o próprio rosto, sentia seu rosto mais macio e podia sentir suas rugas desaparecerem. Todo mundo que ela encontrava lhe dizia o quão bem ela aparentava. No 29º dia, a tentação tornou-se insuportável, e ela acabou quebrando a regra dando uma olhadela no canto de um espelho.

   O espelho então se quebrou, assim como o rosto da pobre mulher. Bolhas e feridas começaram a aparecer em sua pele, e seu rosto começou a mudar, se tornando terrivelmente deformada e horrível de se olhar.

   Em desespero, a mulher horrorizada voltou ao bomoh e implorou a ele que fizesse alguma coisa. Ele disse que não havia nada o que fazer por ela, e que a única maneira na qual o efeito poderia ser revertido, seria se ela bebesse o sangue de garotas jovens.

   Então assim começou a história da Hantu KumKum. Ninguém, nem mesmo a Hantu KumKum, sabe a quantidade de sangue necessária para restaurar sua aparência. Dizem que até os dias de hoje seu espírito continua vagando pela terra, atacando garotas para consumir seu sangue, na esperança de recuperar sua beleza.
   
 *Jilbab: vestimenta muçulmana longa e com capuz. Lembrando que a população malaia é predominantemente muçulmana, por isso lá é comum o uso de roupas tradicionais da religião.






    Fonte:

    Scary for Kids. Kumkum, 1 de novembro de 2015.Disponível em <https://www.scaryforkids.com/kumkum/>. Acesso em 8 de julho de 2020.

Ninki Nanka - Criptozoologia

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Arte por Anne E. G. Nydam

De acordo com as histórias passadas de geração á geração, o Ninki Nanka é um monstro marinho que habita os pântanos dos países do Oeste da África, como Senegal e Gâmbia. De acordo com a lenda, o Ninki Nanka é um réptil gigante, de escamas que refletem a luz, com uma cabeça que lembra a de um cavalo com três chifres. Variações da lenda dizem que se parece com um dragão, e que tem a habilidade de cuspir fogo.

  As pessoas que infortunadamente encontram essa criatura, se não morrem pelo seu ataque, acabam morrendo inexplicavelmente semanas depois. São poucos os que vêem a criatura e sobrevivem pra contar a história.

  A história do Ninki Nanka se espalhou de tribo em tribo por várias regiões da África. Há uma canção chamada “Ninki Nanka” no álbum “Casamanse au clair de La Lune”, de 1984, do grupo musical senegalês chamado “Touré Kunda”. 

  No verão do ano de 2006, um grupo de pesquisadores ingleses do Centro de Zoologia Forteana (em inglés “Center for Fortean Zoology) foi para Gâmbia procurar pela criatura e recolher testemunhos de pessoas que afirmavam tê-lo visto. No final da expedição, o grupo não encontrou nenhuma prova concreta da existência do Ninki Nanka, porém levaram para a Inglaterra uma amostra de algo que acreditavam ser uma de suas escamas. Constataram que a “escama” não era um material biológico, podendo até mesmo ser apenas um pedaço de termoplástico celuloide, material no qual são feitos os rolos de filme.

  Apesar de não terem sucesso ao procurar pelo Ninki Nanka, os pesquisadores ingleses afirmaram que ainda não há certeza se a lenda tem bases na realidade, ou se é totalmente folclórica, já que mesmo não tendo encontrado provas da existência da criatura, também não encontraram provas concretas de que não exista.






    Fonte: 

   MAX, Wilson Ken. Creatures from African Mythology. The Illustrationist. Inglaterra, 4 de maio de 2013. Disponível em: <https://theillustrationist.com/2013/05/04/african-mythological-creatures-ninki-nanka-the-dragon/>. Acesso em 2 de julho de 2020.

   TORRE, Inez. Here be Monsters: The Search for Africa’s Mythical Beasts. CNN World. Estados Unidos, 19 de dezembro de 2014. Disponível em: <https://edition.cnn.com/2014/12/19/africa/gallery/monsters-of-africa/index.html>. Acesso em 2 de julho de 2020.

   Hunt for Gambia’s Mythical Dragon. BBC News. Inglaterra, 14 de julho de 2006. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/5180404.stm>. Acesso em 2 de julho de 2020.

Fadas: Sua Origem Sobrenatural e Mística

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Arte por Brian Froud

  Introdução: As seguintes informações foram retiradas de uma das partes de um livro que é um guia para o conhecimento de criaturas místicas e sobrenaturais, das autoras:  Carol K. Mack, dramaturga e educadora norte-americana; e Dinah Mack, escritora e antropóloga. Eu apenas traduzi do inglês para o português o excerto que explica sobre as fadas, e expliquei alguns detalhes com as minhas palavras, porém o crédito deve ser dado às autoras. A fonte, com as informações sobre o livro estarão no final do post, como sempre.

Whispering Willow Lore Den • | Art Sales | Flight Rising

  Fadas encantam suas vítimas como a luz da lua, uma atratividade ilusória tão enfeitiçadora que o indivíduo embriagado pela sua magia nem imagina o que é esse torpor até que seja tarde demais. Fadas geralmente são caracterizadas como seres de luz benevolentes: sendo do sexo feminino, delicadas, atrativas, pequenas criaturas de forma humana com asas transparentes, ou iguais às de borboleta, e às vezes até mesmo angelicais. Mas ao olhar com atenção, percebe-se que têm pés iguais aos de pássaros, com dedos compridos e garras. Tendem mais a desaparecer no ar do que se transformar em animais ou objetos, porém podem adquirir outras formas por meio de metamorfose. Costumam tomar forma humana e se infiltrar em festividades locais e mercados. Não há certeza sobre sua forma natural, mas o mais provável é que sejam transparentes.

  As fadas vivem em seu próprio mundo paralelo subterrâneo, que frequentemente têm suas entradas secretas por meio de buracos no solo, montanhas, ou morros. Também em castelos subaquáticos, com acesso por rios e lagos. O mundo das fadas definitivamente não é uma experiência para qualquer um, só é visível de tempo em tempo para crianças e adultos especiais, não por sua própria vontade, mas pelo acaso de alguma forma caírem lá acidentalmente.

  Fadas, assim como demônios, podem ser o que restaram de entidades antigas, espíritos da natureza menores, e há ainda especulações de que sejam as almas dos mortos (principalmente de bebês não batizados), ou anjos caídos (anjos que não foram considerados “malignos o bastante” para serem aceitos no inferno, e por isso se estabeleceram nas camadas subterrâneas da terra). Lendas sobre fadas são frequentemente interligadas com lendas sobre demônios, por mais que demônios tenham uma reputação bem pior por serem confundidos com “diabos”. O que as pessoas chamam de Diabo provém de uma categorização diferente, que tem origem da palavra grega Diabolos, que significa “caluniador”, ou “adversário”, e se refere a Satanás, ou um Diabo. A maioria desses “diabos”, residem no inferno, e não em outras dimensões. 

   Resumindo: algumas culturas e religiões, diferentes do Cristianismo, acreditam que “demônio” e “diabo” tem significados diferentes e que são indivíduos à parte. Consideram demônios como seres menos nocivos do que os ditos “diabos”, e que possuem bem menos poder. Segundo as crenças populares, tanto fadas quanto demônios pertencem à Classe de Espíritos Sobrenaturais Subversivos, e possuem muitos hábitos, gostos e lendas em comum. Fadas, assim como demônios, são considerados como ajudantes sobrenaturais de tempo em tempo, mas suas ações variam consideravelmente, e são sempre perigosos.

   Com exceção de quando raptam bebês ou capturam homens para reproduzir e propagar a sua espécie, as fadas geralmente preferem não ter nada a ver com a espécie humana. São muito individuais, e quando são incomodadas por curiosos ou intrusos, reagem violentamente. Algumas fadas são categorizadas pelo poeta irlandês William Butler Yeats como “sociáveis” e outras como “solitárias”. As que são solitárias são sempre malevolentes, mas todas elas, apesar de seu tamanho pequeno e aparência adorável, podem ser surpreendentemente sinistras. Fadas são geralmente mais afastadas e tranquilas do que seus parentes enérgicos, que são os demônios, e acabam não tendo tanto contato com humanos, porém são igualmente vingativas quando provocadas ou rejeitadas. 

   Algumas lendas dizem que se um indivíduo ir parar no mundo das fadas e comer a comida de lá, ou se juntar com as fadas para dançar em seu círculo de dança, como as fadas Celtas que sempre dançam em círculos, não vai mais conseguir voltar para o mundo dos humanos. Uma vez que alguém é encantado por esses seres, é muito sofrido para conseguir voltar à vida normal, e as pessoas que conseguem, acabam definhando por falta de interesse em suas vidas normais.

Whispering Willow Lore Den • | Art Sales | Flight Rising

   Para mais informações, aqui estão links para alguns posts antigos do blog sobre fadas:

 Arte por Brian Froud



  Fonte:


MACK, Carol K.; MACK, Dinah. A Field Guide to Demons, Fairies, Fallen Angels, and Other Subversive Spirits. Nova York: Owl Books Henry Holt and Company, LLC, 1998.

A Viúva Fantasma - Lenda Sul-Americana

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   Em várias regiões do Chile, da Argentina, Colômbia e alguns outros países da América do Sul, há histórias sobre viúvas fantasmas. Aparentemente, não se trata do fantasma de uma viúva só e sim de várias, pois cada região tem histórias que descrevem características diferentes. As únicas características predominantes em todas as histórias são: de que as viúvas sempre estão vestidas de preto dos pés à cabeça, cobrindo o rosto com um véu igualmente preto; e de que vagam após o anoitecer em busca de homens sozinhos á cavalo. Versões recentes da lenda dizem que também pedem carona para homens que estão de carro.


   Fantasmas de viúvas são um tipo de fantasma comum nos países hispânicos da América do Sul, porém não se sabe ao certo a origem dessa lenda. Dizem que uma mulher que se torna viúva, e morre com raiva, solidão e angústia, pode não conseguir fazer a passagem para o Além e descansar em paz, por isso fica presa ao mundo terreno penando e vagando pelos lugares, descontando sua dor em qualquer homem que encontrar pela frente. Já algumas versões dizem que a mulher tomada pela raiva e o desconsolo, fez um pacto com o diabo para obter poderes sobrenaturais após a morte e poder assombrar a região. 

   Essas viúvas fantasmas costumam vagar por estradas desertas e escuras, esperando que passem homens à cavalo para aterroriza-los. Algumas delas pulam na garupa do cavalo, e apertam o torso do homem até que este desmaie asfixiado e caia do cavalo, morrendo por asfixia, ou por ferimentos da queda. Outras, possuem o poder de dominar o cavalo mesmo sem montá-lo, e guiá-lo até o penhasco, matando ambos o cavalo e o homem que o montava.

   Apesar das histórias quase sempre serem trágicas, há também as viúvas fantasma que não apresentam tanto perigo, e gostam de apenas aterrorizar os homens. Sobem na garupa do cavalo, mas se deixam cair no chão de propósito, fazendo um barulho de saco de ossos ao atingir o solo, deixando o indivíduo fugir enlouquecido de medo.

   No povoado de Amblayo, na cidade de Salta, na Argentina, há uma lenda de uma viúva fantasma que esconde um tesouro perdido, e que o descobrimento desse tesouro pode libertá-la e fazê-la descansar em paz. A viúva atrai os homens até o lugar do tesouro, porém dominada pelo ódio, os acaba matando asfixiados, dando-lhes um abraço que de início é suave e cálido, mas acaba apertado e asfixiante. E por isso a viúva fantasma do povoado de Amblayo está condenada a vagar pela terra até que alguém descubra seu tesouro.





    Fonte:

    RUEFF, Carlos Keller. Mitos y Leyendas de Chile. Santiago de Chile: Editorial Jerónimo de Vivar, 1972.

    AMORY, Dean. Las principales Leyendas, Mitos, Historias y Cuentos de Chile. Bélgica: Edgard Adriaens, 2013.