Ijiraq - Mitologia Inuíte

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 O Ijiraq é uma criatura transmorfa da mitologia Inuíte. É um espírito que tem a habilidade de se transformar em qualquer animal ártico para se disfarçar. Normalmente aparece como um monstro meio homem, meio caribou (um animal ártico parecido com um alce), mas ele pode se transformar em o que quiser. É mais comum se transformar em um corvo, urso, lobo, ou homem. A única parte de seu corpo que não pode transformar são seus olhos, que são vermelhos brilhantes. Não importa qual forma ele adquirir, seus olhos continuarão vermelhos. Acredita-se que esses tipos de espíritos são cercados de miragens e quando uma montanha ou ilha no horizonte aparenta estar maior ou mais perto que o normal é porque um Ijiraq está lá por perto. Acredita-se também que um Ijiraq é criado quando um grupo de Inuítes viajam por muito longe ao Norte enquanto caçam e acabam sendo capturados entre o domínio dos mortos e o domínio dos vivos. E assim se tornam o Ijiraq.

 Os Ijiraqs são espíritos maliciosos e altamente enganadores. Eles mudam sua forma para enganar viajantes e fazer com que se percam na neve. Eles também raptam crianças e as escondem, ou as abandonam na selva. Em uma lenda, uma mãe e um pai deixam seus filhos em uma tenda enquanto saem para caçar. Os pais acabam se perdendo após encontrarem um Ijiraq, e quando eles finalmente conseguem encontrar o caminho de volta para sua tenda, eles descobrem que seus filhos foram comidos por um Ijiraq na forma de um urso polar gigante. Qualquer um que entrar em contato com um Ijiraq sofre um tipo de perda de memória e esquece rapidamente o que aconteceu.


 Há uma teoria entre os Inuítes anciãos de que o Ijiraq não é perverso, e sim incompreendido. Eles atacam humanos e os desorienta para impedi-los de invadir seu território. O que se pode fazer a respeito da perda de memória causada pelo Ijiraq é contar para o maior número de pessoas possível sobre os acontecimentos antes de perder totalmente a memória. Crianças raptadas podem retornar pra casa se houver uma pilha de moledros, (pedras usadas por povos antigos para marcar túmulos ou trajetos de viajantes), chamada pelos Inuítes de Inuksuk, ali perto. Se o Ijiraq passar perto de um ele muda de ideia e leva a criança de volta pra casa.

Isto é uma pilha de moledros:


Tam Lin - Mitologia Celta - Folclore Escocês

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 Quem vivia em Carternaugh, nas fronteiras da Escócia, sabia que os elfos e as fadas habitavam as matas das redondezas. Era muito perigoso vaguear por lá, especialmente quem fosse mulher e jovem, pois poderia ser encontrado por Tam Lin. Uma lenda dizia que ele era humano, mas que fora raptado pelas fadas ainda no berço e substituído por um changeling, um filho do povo mágico. E que ele enfeitiçaria qualquer moça que entrasse na Terra das Fadas, o povo de Faërie.
 Havia uma bela moça de cabelos dourados chamada Janet, filha do Lord de Carternaugh, que desprezava tais lendas tais lendas e passeava o quanto queria nas matas proibidas. Certo dia, ela encontrou um poço junto ao qual crescia uma roseira. Colheu uma rosa para enfeitar o vestido e, no mesmo instante, viu surgir diante de si Tam Lin, um belo rapaz de olhos verdes e cabelos negros.
  - Não deves colher flores nas terras das fadas - disse-lhe o rapaz.
  - Estas terras pertencem a meu pai - respondeu ela.
 Conversaram por um tempo, sentindo-se atraídos um pelo outro, até que Tam Lin a convidou para passear pela região mágica da floresta. O passeio foi agradável e, quando ela voltou para casa, percebeu que sua falta não fora notada.


 Era inevitável que Janet se apaixonasse por Tam Lin. Voltava sempre ao poço para encontrá-lo e eles se tornaram amantes. Um dia, o rapaz lhe contou sua história.
  - Não é verdade que fui raptado quando bebê - ele explicou. - Sou neto do conde de Roxburgh, e a rainha das fadas me capturou já crescido, porque entrei sozinho na terra encantada. Desde então sou seu escravo, e embora seja um de seus prediletos, ela irá me entregar aos infernos quando chegar a véspera do Halloween.
  - Isso não pode acontecer! - exclamou Janet. - Temos de impedi-la.
  - Não é possível impedir - Tam Lin lhe disse. - A cada sete anos a rainha das fadas paga um tributo aos infernos, entregando-lhes alguém. Este ano será a minha vez, e a única forma de me libertar é tão perigosa que não posso pedir-te para tentar. 
  - Deixa-me tentar! - Janet pediu. - Eu conseguirei libertar-te.
 Ele explicou que, na véspera de Halloween, as fadas costumavam sair em procissão pelas matas, e que ela as veria, mas não o reconheceria entre todas. Ele seria o terceiro cavaleiro da fila, usando uma luva na mão direita e nenhuma na esquerda.
  - Deves tirar-me do cavalo - continuou ele - e abraçar-me com toda a tua força, apesar de não me reconheceres. Eu me transformarei em muitas coisas que te causarão dor. Se realmente me amares, nada poderá te ferir. Quando eu me transformar num peso de chumbo incandescente, terás de jogar-me nas águas de um poço, para que eu volte a ser humano. Ao sair do poço, devo ser coberto com um manto verde. Isso me libertará.
 Assim que chegou a noite, na véspera de Halloween, Janet tomou um manto verde e foi para mata. Esperou junto ao poço até ver a assustadora procissão das fadas, a cavalo, coma rainha de Faërie à frente: levavam a vítima para pagar o tributo aos infernos. Janet saltou num impulso e agarrou-o com toda a sua força, e viu que ele se transformava em salamandra. Continuou abraçada ao animal, que em seguida virou uma serpente viscosa. Teve asco da criatura, mas conteve-se. No instante seguinte, ela estava abraçada a um urso, e depois a um leão feroz. Mesmo assim, não o soltava.



 O pior foi quando ele se transformou numa barra de ferro incandescente, que queimava seus braços; e logo o ferro se transformou em um peso de chumbo incendiado. Então ela o atirou dentro do poço. Ouviu o chiado da água, e viu Tam Lin sair do poço. Estava totalmente nu, mas havia-se tornado humano outra vez, livre do domínio de Faërie. Janet o cobriu com a capa verde e o velou para fora da floresta, ainda ouvindo os lamentos da rainha das fadas por ter perdido o escravo que a servia.
 Eles se casaram e, tempos depois, tiveram um filho que viria a herdar as terras de Caternaugh.


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", de Rosana Rios.

Anansi, a Aranha - Mitologia Africana - Povo Ashanti

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 O mais esperto de todos os seres da Terra foi Kwaku-Anansi, a Aranha, que era filho de Nsia e casado com a mulher chamada Aso, Anansi recebeu esse nome do próprio deus do Céu, Nyankompong, por sua esperteza.
 Dizem que Anansi queria conhecer todas as histórias que apenas o deus sabia, e por isso um dia ele foi pedir a Nyankompong que lhe vendesse suas histórias. Mas o deus disse que, se muitos já tinham tentando comprá-las e não puderam pagar o preço, Anansi também não poderia. Pressionado para saber quanto custariam as histórias, o deus do Céu revelou:
  - Traga para mim a jiboia Onini, o leopardo Osebo, o enxame de vespas Mmoboro e o espírito Mmoatia. Então eu lhe venderei minhas histórias.
 Anansi prometeu que não só traria todos eles, mas ainda sua mãe Nsia, como pagamento ao deus. Foi para casa e consultou a esposa. Aso lhe disse que, para apanhar a jiboia, ele precisaria cortar um galho de palmeira e um pedaço de trepadeira. Anansi fez isso, e foi com Aso para a beira do rio. Lá, os dois começaram a discutir.
  - É maior! - dizia Aso.
  - Não é maior! - respondia Anansi.
 Onini ouviu a discussão e foi ver do que se tratava. Anansi lhe disse:
  - Minha mulher diz que esta folha de palmeira é maior do que você. Eu digo que você é maior que a folha da palmeira! Quem está certo?
 Para fazer a prova, a jiboia se estendeu sobre a folha, e, sem perder tempo, Anansi a amarrou na haste, usando a trepadeira. Onini não podia escapar. Aso, então, ensinou ao marido:
  - Para pegar Mmoboro, arrume uma cabaça com água e uma folha de bananeira.
 Anansi fez o que a mulher dissera. Tomou uma cabaça, encheu-a de água e andou até achar o enxame de vespas. Então jogou metade da água sobre si mesmo e a outra metade sobre as vespas, e deixou a cabaça no chão, dizendo:
  - Está chovendo! Precisamos nos proteger. Eu tenho uma folha de bananeira para me esconder, mas as vespas não têm! Deviam entrar na cabaça, ali a chuva não vai molhá-las...
 As vespas acharam mesmo que estava chovendo e voaram todas para dentro da cabaça. Mais que depressa, Anansi tapou o recipiente com a folha de bananeira. Depois disso, Aso mostrou ao marido como cavar um grande buraco e cobrir a abertura com folhas, bem no meio do caminho entre a cova do leopardo Osebo e o riacho onde ele ia beber água. No dia seguinte, os dois foram até lá e viram que Osebo havia caído dentro do buraco, e podia ser facilmente aprisionado.
 Anansi estava feliz com as capturas, mas ainda faltava apanhar Mmoatia, o espírito, e não é nada fácil prender os espíritos. Aso e Anansi então esculpiram uma boneca de madeira e a cobriram com a seiva de uma planta muito grudenta. Deixaram-na perto do lugar em que os espíritos costumavam passear, e junto da boneca puseram uma cuia cheia de um delicioso mingau de mandioca. Quando Mmoatia, o espírito, passou por ali, teve vontade de comer o mingau e pediu à boneca se podia experimentar. Como a boneca nada dissesse, ele deu-lhe um tabefe e sua mão ficou presa à seiva. Tentou bater na boneca com a outra mão, que também ficou presa. E acabou sendo capturado por Anansi, que o levou junto com o leopardo, a jiboia e as vespas à presença de Nyankompong.
 O deus ficou impressionado, pois até agora ninguém tinha conseguido pagar o preço que ele cobrara, e Anansi levara também ao deus sua mãe Nsi. Deu, então, a Anansi todas as sua histórias, e até hoje elas são conhecidas como Histórias da Aranha.
  Anansi viveu inúmeras outras aventuras e enganou muitos deuses, homens e animais. Porém, certa vez, sua própria esperteza se voltou contra ele. Aconteceu que, não muito longe das terras de Anansi, vivia um rei muito poderoso, e que possuía um bode enorme, invejado por todas as pessoas. O rei não permitia que ninguém sequer tocasse em seu bode, que podia andar por onde quisesse e comer de tudo o que quisesse. Pois o bode, certo dia, saiu das terras em que morava e se pôs a comer os rebentos do milho da plantação de Anansi.
 Não demorou e a Aranha foi conferir sua lavra de milho, mas descobriu que ela estava devastada; desesperado, percorreu o milharal e deu com o bode do rei, lá no meio, ainda mastigando o milho que fora tão cuidadosamente cultivado. Furioso, Anansi pegou uma pedra e jogou na cabeça do bode, que caiu morto no meio dos pés de milho.
 Quando a raiva passou, Kwaku-Anansi olhou para o bode morto e soube que estava perdido. O rei condenava à morte quem tocasse seu animal, e logo descobriria quem o matara... Sentou-se então sob uma árvore e se pôs a pensar em algum estratagema que o livrasse da fúria do rei. De repente, um fruto muito suculento caiu dos galhos lá em cima, bem sobre sua cabeça, e aquilo lhe deu uma ideia.
 Anansi pegou o corpo do bode morto e o pendurou em um dos galhos da árvore. Saiu à procura de um vizinho,, outra aranha, maior e mais forte que ele. Disse ao vizinho que sabia de um lugar onde se podiam colher frutos saborosos, apenas sacudindo-se o tronco da árvore. E, quando as duas aranhas chegaram junto à árvore, pediu ao vizinho que sacudisse o tronco. De fato, quando os galhos balançaram pela força da outra aranha, muitos frutos caíram, mas junto deles veio também o bode morto.
  - Você matou o bode do rei! - exclamou Anansi, deixando apavorado o vizinho. - Bem, se for ao rei e confessar o que fez, talvez ele não se importe.
 A outra aranha achou que não tinha outra coisa a fazer senão confessar o acontecido ao rei. Tomou o corpo do bode e, a caminho da casa do soberano, parou para falar com sua mulher sobre o que acontecera. A mulher chamou o marido de imbecil: desde quando bodes sobem em árvores? Ele havia caído em alguma armadilha.
 A conselho da mulher, o vizinho então foi ao palácio do rei, mas nem levou o bode e nem falou com o soberano. Quando voltou do passeio, foi dizer a Anansi que ele estava certo, o rei não tinha se importado nem um pouco com a morte do animal, e ainda lhe tinha dado uma parte da carne do bode! Anansi ficou inconformado, achando que aquilo não era justo: se ele é que tinha matado o bode, ele é quem deveria ganhar uma porção de sua carne! Ao ouvir aquilo, o vizinho e sua mulher arrastaram Kwaku- Anansi á presença do rei e lhe contaram tudo. A aranha não teve outro jeito senão confessar e pedir o perdão do rei.
 Mas este ficou tão furioso que caiu de pontapés sobre Anansi, e foram tantos golpes que a aranha se dividiu em muitos pedacinhos; cada um fugiu para se esconder em um canto. E é por isso que os descendentes da aranha, que antes era enorme, hoje são bem pequenos e se escondem pelos cantos das casas...


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", por Rosana Rios.

Cuchullain - Mitologia Celta - Folclore Irlandês

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 Na região do Ulster, do Norte da Irlanda, durante o reinado de Conchobar, a irmã do rei deu à luz uma criança que recebeu o nome de Sétanta. Acreditava-se que era filho do deus Lugh. O menino cresceu entre os guerreiros do rei, e aos sete anos, já demonstrando força fora do comum, matou o feroz cão de guarda do ferreiro Cullan; propôs-se a tomar o lugar do cão de guarda e foi, por isso, chamado "Cão de Cullan", ou Cuchullain.
 Depois disso, sua força só aumentou, e começou a realizar feitos notáveis, como matar três gigantes que ameaçaram os guerreiros de sua terra. Mas era sujeito à loucura da guerra, sendo quase o que os nórdicos chamavam de "berserker": um homem que, em batalha, entrava numa espécie de transe, frenesi que o levava a matar descontroladamente. E uma profecia dizia que ele seria famoso por toda Terra, mas que teria vida breve.
 Foi enviado para aprender as artes de guerra da feiticeira Scáthach, chamada rainha das trevas, em distantes terras escocesas. Lá também se destacou como guerreiro e, ao voltar, trazia armas poderosas e conhecimentos mágicos. O povo de Ulster havia planejado casá-lo com a princesa Emer, filha do poderoso Forgal Manach. Porém o pai negou-se a dar-lhe a filha em casamento, o que disparou o frenesi do herói, que destruiu a fortaleza em que a moça estava, exterminou os soldados de Forgal e causou a própria morte deste. Mas levou Emer para Ulster, e casou-se com ela.
 Os feitos de Cuchullain são inúmeros, e talvez suas aventuras mais conhecidas sejam relacionadas com a guerra do Ulster contra a rainha Maeve, que mergulhou a Irlanda em uma longa e sangrenta campanha. Foi graças aos feitos do invencível filho de Lugh que Maeve teve que desistir de suas investidas, porém ela sempre desejou vingança, e a obteve anos depois, com a ajuda dos guerreiros Lugaid e Erc, cujos pais Cuchullain havia matado.
 Usando um estratagema, Maeve fez com que ele fosse recebido como hóspede e que lhe oferecessem uma refeição contendo carne de cachorro. A tradição dizia que nenhuma pessoa podia recusar a refeição oferecida por um anfitrião, mas dizia também que era tabu comer tal carne. Ele cumpriu a lei da hospitalidade; porém, ao comer a carne proibida, enfraqueceu: e com isso pôde ser ferido pela lança mágica que Lugaid levara. Vendo que ia morrer, amarrou o próprio corpo em um pilar de pedra, para morrer de pé. Dizem que essa pedra ainda existe, na cidade de Knockbridge, marcando o local em que morreu o grande herói do Ulster.


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", por Rosana Rios.

O Nome Secreto de Rá

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 Ísis, a grande deusa das terras do Egito, era a protetora das crianças e sabia muitas fórmulas mágicas para curar doenças ou picadas de animais venenosos. Feiticeira hábil, conhecia tudo o que vivia sobre a Terra e tudo o que habitava no Céu. Havia, porém, uma única coisa que Ísis ignorava: o nome secreto de Rá, o antigo deus do Sol. Conhecer os nomes das coisas é poder, e a deusa lamentava não saber esse nome, pois tal conhecimento lhe daria parte da força do deus que era considerado senhor do universo, e cujo calor proporcionava vida aos seres da Terra.
 Ísis não desanimou, e veio com um estratagema para descobrir o nome sagrado. Passou a visitar Rá durante a noite, quando ele se deixava tomar pelo sono; viu que ele dormia de boca aberta e babava sem parar. Silenciosamente, a deusa se aproximou dele certa noite e recolheu a baba do senhor do Sol numa vasilha. Usando seus conhecimentos de magia, ela misturou a baba do deus com a terra, e da lama surgida ela modelou uma serpente, que logo adquiriu vida. Durante o dia, Rá percorria o céu como deus solar, passando pelos dois países, o Baixo e o Alto Egito. Ísis então colocou a serpente no caminho que ele iria percorrer, e foi-se reunir à comitiva de Rá. Como ela previra, o idoso deus não viu a serpente e pisou nela, que o mordeu no pé. O veneno da serpente casou dores terríveis ao senhor do Sol, e ele se pôs a gritar de dor. 
 Os deuses da comitiva acorreram em seu socorro, mas não sabiam como fazer para que a dor passasse. Ísis, fingindo-se tão surpresa quanto todos os outros, propôs-se a usar seus famosos dons de cura para amenizar a dor. Porém, astutamente, disse a Rá que, para preparar um encantamento que funcionasse, ela precisaria incluir na fórmula a ser recitada o nome verdadeiro da vítima. Rá não desejava revelar seu nome sagrado, mas as dores aumentavam e Ísis insistia tanto que ele não teve como recusar-se. Disse a ela o nome secreto. A deusa, mais que depressa, preparou seus encantamentos e curou completamente a mordida da serpente, fazendo a dor cessar. Rá pôde retomar sua caminhada pelo céu dos dois países... e desde então Ísis se tornou mais poderosa que antes, pois conhecia o segredo que poderia suplantar até o próprio deus-Sol.


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", de Rosana Rios

Ísis, Osíris e Hórus

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 Um mito cosmogônico de Heliópolis diz que o primeiro deus foi Aton. Ele criou Chu, o ar, e Tefnut, a umidade. Foram esses dois que criaram Geh, a Terra, e Nut, o Céu. Da união do Céu e da Terra nasceram quatro deuses: Osíris, ísis, Seth, Néftis.
 Osíris e Ísis já se amavam antes de nascer, e mais tarde tornaram-se marido e mulher. Porém, enquanto Osíris personificava o bem, seu irmão Seth representava a maldade, que ele demonstrou já ao nascer, pois veio à luz rasgando o ventre da mãe.
  Osíris foi o primogênito e, portanto, tinha direito a herdar o reino do pai na Terra. Seu reinado foi uma época de felicidade para a humanidade, pois ele e sua esposa e irmã Ísis eram soberanos bons e puros. Para ajudar o povo, que vivia primitivamente, á mercê dos cataclismas e dos animais selvagens, Osíris lhes ensinou a cultivar a terra e lhes apresentou todas as artes. Foi ainda um grande conquistador, que viajou por vários países com seu exército, expandindo o império do Egito.
 Seu irmão Seth, porém, invejava-o e desejava o trono do Egito para si. Então traçou um plano para acabar com Osíris. Acompanhado por um grupo de conspiradores, mandou construir uma urna preciosa, toda decorada, cujo interior tinha exatamente as medidas do irmão. Durante um banquete, Seth exibiu sua urna e, diante da admiração de todos os convidados por aquele objeto belíssimo, disse que a daria de presente à pessoa que coubesse com exatidão dentro dela. Todos experimentaram, mas ninguém cabia lá dentro. Assim que Osíris entrou na caixa, ajustando-se perfeitamente, Seth e seus aliados a fecharam com chumbo derretido, lançaram a urna no rio Nilo e o deus morreu sufocado.
 No momento em que Osíris foi assassinado, Ísis, que estava distante, sentiu uma dor alucinante, e soltou um grito desesperado que chegou até o céu. Rá, o Deus-Sol, a ouviu e enviou um vento para informar a Ísis sobre a morte de seu amado irmão e esposo. Em luto, ela cortou os cabelos, vestiu-se de preto e saiu a procurar o corpo do amado.
 Sua procura durou muito tempo, e a deusa sofreu muitas humilhações e dores enquanto procurava o corpo de Osíris. Diz-se que ela chorava tanto, que suas lágrimas foram responsáveis pela cheia do rio; desde então o povo passou a acreditar que as cheias, que aconteciam todos os anos, fertilizando as terrar ao redor das margens do rio, eram as lágrimas de Ísis.
 A urna desceu o Nilo até a Fenícia, onde ficou presa a uma árvore e re enredou em seu caule. A árvore cresceu em torno da urna, e algum tempo depois seu tronco foi usado para construir uma coluna no palácio do rei de Biblos.
 Após várias desventuras, Ísis conseguiu afinal encontrar a urna em Biblos, e voltou ao Egito levando o corpo de Osíris. Contudo, temia a ira de Seth, que a essa altura havia usurpado o trono que pertencia a seu irmão. Assim, a deusa escondeu a urna em uma plantação de papiro. Não pôde, porém, evitar que Seth a encontrasse.
 O irmão maligno então cortou o corpo de Osíris em quatorze pedaços, que espalhou pelo Egito. Ajudada pela irmã, Néftis, Ísis saiu em busca dos pedaços. Custou muito, mas ela encontrou quase todas as partes do esposo. Graças aos seus poderes e à ajuda do deus Anúbis, reuniu os pedaços e os embalsamou. Foi assim que surgiu  a primeira múmia do Egito, e a urna foi o primeiro sarcófago.
 Mas Ísis precisava de um filho que a vingasse da morte do marido, e usou um encantamento para se transformar em falcão. Pairando sobre a múmia de Osíris, com o vento mágico de suas asas, ela pôde fazer o marido voltar à vida por um tempo, para que ele a fecundasse. Infelizmente, Seth logo descobriu que Ísis estava grávida, e tentou de tudo para impedir que ela tivesse o filho. Prendeu-a no palácio, mas ela teve a ajuda do deus Thot e fugiu para os campos de Khemmis, onde deu  á luz um menino: Hórus.
 Para escapar da fúria de Seth, a deusa se disfarçou de mendiga e perambulou com o filho por várias regiões, sofrendo inúmeras perseguições. Protegido pela mãe, Hórus cresceu e se tornou um belo jovem. Foi chamado o Deus-Falcão, pois tinha poder sobre os céus e os ares, e seus olhos eram o Sol e a Lua. Quando o filho tinha idade suficiente, Ísis apresentou-se diante dos grandes deuses, e Hórus queixou-se do tio, Seth, reclamando para si a herança do pai, Osíris: o trono do Egito.
 A luta entre Seth e Hórus pelo poder foi longa e difícil. Às vezes um vencia, às vezes o outro se sobressaía. Mas Osíris se tornara o deus que recebe as almas após a morte, e convocou Rá, o Deus-Sol, com um tribunal de deuses para resolver o assunto.
 Os deuses decidiram que a sucessão ao trono deveria ser hereditária, e assim Hórus, o filho de Ísis e Osíris, pôde reinar no trono do Egito. Rá decretou também que Seth passasse a reinar sobre o deserto e tudo que fosse estéril. Desde então, Ísis e Osíris são os juízes dos mortos no mundo inferior, enquanto Hórus e seus filhos, que reinaram em harmonia, mantinham a prosperidade no Vale do Nilo. Acredita-se ainda que, quando Hórus derrotar Seth e o mal for expulso da Terra, Osíris voltará a viver e será rei novamente.


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", de Rosana Rios.

Kahukura e as Fadas do Mar

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  Nos tempos antigos, os pescadores pescavam usando apenas linha e anzol, porque não sabiam confeccionar e usar as redes. Eles só pegavam um peixe de cada vez, e nem sempre conseguiam pesca bastante para alimentar as suas famílias as suas famílias. Nessa época, nas terras que hoje constituem a Nova Zelândia, vivia um rapaz muito inteligente, chamado Kahukura.
  Um dia, pela manhã, ele chegou à praia e encontrou vários peixes caídos na areia. Eram muitos mesmo, precisaria ter havido vários homens para pescar tudo aquilo. Kahukura foi investigar e só achou algumas poucas pegadas na areia. Como aquilo seria possível? Então chegou à conclusão de que tal pesca só podia ser coisa das fadas do mar, pois nenhum mortal seria capaz de pescar tanto numa única noite.
  No dia seguinte, o rapaz decidiu ficar na praia vigiando para ver se solucionava o mistério: se fossem mesmo as fadas que pescavam todos aqueles peixes, ele queria descobrir de que forma elas faziam isso! Quando chegou a noite, ele se escondeu atrás de um tronco seco e ficou esperando. Era madrugada, quando ele começou a ouvir uma cantiga estranha, mais ou menos assim: 

"Puxem a parede! Trabalhem para valer!
 Os filhos do mar se debatem
 Lutando para não se render!"

  Kahukura não estava entendendo nada. Ele se ergueu de trás do tronco para ver o que estava acontecendo... e viu as fadas do mar embarcadas em várias canoas, na água. Elas cantavam e pareciam estar muito alegres. Dos seus barcos, seguravam cordas presas a várias redes. Depois de algum tempo, elas se aproximaram da praia, desceram das canoas, e puxaram as redes para a areia:  Kahukura percebeu que cada rede estava cheia de peixe.
 E as fadas começaram a pegar os peixes, um por um, sempre cantando e enfiando-os em fieiras. Estavam tão distraídas que nem notaram o rapaz se aproximando. Ele começou também a recolher alguns peixes. Mas o tempo passou e aproximava-se a hora do nascer do Sol. A líder das fadas então disse às outras que precisavam trabalhar mais depressa, porque o dia ia clarear, e elas morreriam se a luz do Sol tocasse suas peles sensíveis!
 Começaram a recolher a pesca mais depressa; porém Kahukura não era fada, e continuou a enfiar os peixes em um ritmo bem mais vagaroso que o delas. Então o rapaz viu que o Sol ia nascer... As fadas começaram a ir para a água, e só quando a areia ficou quase vazia foi que perceberam que havia um homem mortal no meio delas; pois ele continuava ali, parado, enfiando os peixes na fieira!
  Ficaram tão apavoradas, que largaram todos os peixes e correram para o mar. Logo, suas canoas desapareceram nas ondas eo rapaz fiou sozinho na praia.
  Kahukura chamou as outras pessoas da aldeia e, todos juntos, eles recolheram os peixes que as fadas haviam deixado. Aquilo ia alimentar suas famílias por muito tempo. Ele então explicou a todos a forma de pescar que elas usavam, jogando redes no mar e depois puxando-as, quando estavam cheias de peixe. Foi assim que os homens aprenderam a confeccionar redes e a pescar com elas, e nunca mais as pessoas da aldeia passaram fome.
 As fadas do mar, porém, jamais voltaram àquela praia.


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", de Rosana Rios.

Os Tuatha dé Danaan

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 O povo celta habitou muitas regiões da Europa, onde mais tarde se consolidariam as nações da Gália, Bretanha, Germânia; estiveram também na Península Ibérica e nas ilhas Britânicas. A maior incidência de seus mitos concentrou-se provavelmente nas terras de Érin, como era chamada a Irlanda.
 Um dos povos míticos mais importantes, para os celtas, foram os Thuata dé Danaan, expressão que significa "O Povo da Deusa Dana". Era Dana a deusa-mãe do panteão celta. Dizem as tradições que essa tribo chegou à ilha de Érin durante um festival do verão, chamado Beltaine. Essa era a época dos "fogos de Bel", em que se acendiam fogueiras em honra do deus Bel, o Sol. Na Gália, esse deus foi conhecido como Belenos.
 Os Thuata, o povo da deusa Dana, chegaram por mar, seus navios envoltos em uma névoa encantada. Assim que desembarcaram, queimaram os próprios navios, isso significando que tinham vindo para ficar. Consta que suas moradas anteriores tinham sido as misteriosas cidades de Falias, Gorias, Findias e Murias. De cada uma delas eles haviam trazido para as novas terras um tesouro precioso.
 De Falias trouxeram a Lia Fáil, chamada Pedra do Destino, que pertencia ao elemento Terra. Foi usada para a confirmação dos reis da Irlanda, pois quando os pretendentes ao trono de Érin se colocavam sobre a Lia Fáil, ela soava, confirmando o direito do rei. De Gorias trouxeram a Gáe Assail, a Lança de Assal, que foi usada pelo deus Lugh, senhor das artes, uma arma do elemento Fogo. De Findias eles trouxeram a Espada de Nuada, que pertenceu a um rei mítico e que é associada ao elemento Ar. E de Murias foi trazido o Caldeirão de Dagda, o deus que é senhor da vida e da morte - o caldeirão está ligado ao elemento Água e é chamado O Inesgotável, pois contém a Fonte da Vida. Esse recipiente sagrado é o Graal, e foi buscado por muito tempo pelos descendentes dos celtas.
 Os Tuatha dé Danaan se estabeleceram na Irlanda, e tiveram várias lutas com outro povo que lá habitava, os Fomoire. Foram eles que estabeleceram a Idade de Ouro nas terras de Érin, e governaram tendo por capital Tara, o local mais mágico da Ilha.
 Além de Dana, Bel, Lugh e Dagda, tinham também por deuses Brighid, deusa tríplice; Llyr, deus marinho; Mórrighan, deusa da guerra, e ainda outras divindades.
 Foram os celtas os criadores do druidismo; sua mitologia é profundamente espiritual e traduz enorme respeito à Natureza.



Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", de Rosana Rios.