Kamonu, O Imitador - Folclore do Povo Lozi, Zâmbia

Author: Luiza / Marcadores: , , , , ,

 



   Quando o deus Nzambi criou a Terra e todos os seres vivos, resolveu viver no local que criara junto com todos os outros seres. Havia, porém, um homem muito inteligente chamado Kamonu, que imitava Nzambi em tudo o que este fazia. Toda vez que o deus seguiam rumo à forja para trabalhar os metais, Kamonu ia atrás. Toda vez que o deus ia para algum lugar, Kamonu também ia. E a maior preocupação veio quando Kamonu forjou uma lança e a usou para matar um antílope.
   Nzambi ficou muito zangado, pois o antílope era um irmão dos homens e não deveria ter sido morto. Repreendeu Kamonu e o expulsou da Terra. Mas tanto Kamonu se desculpou e pediu para voltar, que o deus permitiu que ele retornasse e fosse morar num pedaço de terra. Porém, Kamonu havia aprendido a matar e, na ocasião em que um búfalo invadiu sua plantação de milho, matou-o também. E quando um bando de antílopes também foi comer o milho que plantara, ele os matou a todos. Isso fez com que a má sorte caísse sobre ele e sua casa. Tudo de ruim lhe acontecia: seu cachorro morreu, seu pote de barro se partiu, e seu filho também morreu. Inconformado, Kamonu resolveu ir à presença de Nzambi queixar-se da má sorte.
   A casa do deus ficava num lugar que ninguém conhecia, mas mesmo assim Kamonu a encontrou. E teve uma grande surpresa, pois, quando chegou diante de Nzambi, viu seu filho, seu cachorro, e seu pote ao lado do deus. Pediu-lhe para levar o que era seu de volta, mas Nzambi recusou e o mandou embora. Depois disse aos familiares que, como Kamonu havia descoberto sua morada, eles teriam de mudar-se dali. Todos obedeceram, e escolheram para viver uma ilha, em meio a um grande rio. Mas Kamonu descobriu de novo o paradeiro do deus, construiu uma jangada e remou até a ilha.
   Nzambi estava ficando desanimado com a perseguição de seu imitador. Via, também, os homens se multiplicando sem parar, e a Terra se enchendo de gente que não lhe dava sossego. Chamou, então, várias aves e as mandou voar à procura de um local em que pudesse ficar sozinho, sem ser incomodado pelos seres humanos. Os pássaros, porém, voaram por toda parte e nenhum local isolado encontraram
   Nzambi convocou seu adivinho e pediu-lhe que descobrisse um lugar seguro. O adivinho jogou os ossos de adivinhação e chegou à conclusão de que apenas uma criatura teria como ajudá-los: a Aranha, que era muito sábia.
   A Aranha disse que poderia tecer uma teia ligando a Terra ao Céu. Nzambi e todos os seus familiares poderiam, então, subir por essa teia e chegar ao mundo celeste, onde nada nem ninguém os incomodaria. O deus concordou, mas pediu à Aranha que tecesse a teia de olhos fechados, para que nem mesmo ela ficasse sabendo onde seria sua morada. Foi o que aconteceu. Ela vendou os olhos e teceu a teia, por onde Nzambi subiu, para não mais voltar à Terra.
   Quando soube do que acontecera, Kamonu ficou inconsolável. Resolveu reunir outros homens e pedir sua ajuda para chegar ao Céu. Eles começaram a cortar árvores e empilhar seus troncos um sobre o outro. Aquela torre começou a crescer, crescer, e os homens iam subindo cada vez mais alto. Contudo, o peso dos troncos era muito grane, e chegando a certa altura tudo desabou, arrastando consigo os homens que estavam lá em cima.
   Desde então, Nzambi vive em paz no Céu e não se mistura mais com os homens. E estes aprenderam a saudar Nzambi quando nasce o Sol.




  * Nzâmbi (Zâmbi) ou Nzambi Mpungu (Zambiapongo), o Grande Nzâmbi, é o deus supremo e Criador nos candomblés de Nação Angola, equivalente a Olorun do Candomblé Ketu. Alguns povos bantu o chamam Sukula, outros Kalunga. É sincretizado com o Senhor do Bonfim.
   O culto a Nzâmbi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas se reza a Nzâmbi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios, embaixo de árvores, ao redor de fogueiras. Não tem representação física, pois os Bantu o concebe como o incriado e representá-lo seria um sacrilégio, uma vez que Ele não tem forma. Não recebe nenhum sacrifício ou oferenda, só podendo ser objeto de devoção abstrata.
   No final de todo ritual Nzâmbi é louvado, pois Nzâmbi é o princípio e o fim de tudo. É a força suprema, inacessível e nunca materializada. Ele rege a ordem do mundo e o curso das vidas. Vê tudo e tudo comanda. Deu aos homens as leis fundamentais do universo.



      Sobre Zâmbia

   O Território da Zâmbia, localizado na porção centro-sul do continente africano, não possui saída para o oceano e limita-se com a República Democrática do Congo (ao norte), Angola (a oeste), Namíbia (a sudoeste), Zimbábue (ao sul e a sudoeste), Tanzânia (a nordeste), Moçambique e Malauí (a leste). A maioria da sua área é coberta por savanas e o país também abriga extensos rios, como por exemplo, Luangwa, Kafue e Zambezi, onde estão as famosas cataratas de Vitória.
   Ex-colônia britânica, a Zâmbia (antiga Rodésia do Norte) conquistou a independência no dia 24 de outubro de 1964. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco formado pelo Reino Unido e suas antigas colônias.

   
    Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Dias, de Rosana Rios

1 comentários:

Unknown disse...

gostei da mitologia deste povo

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