O Reino Petrificado - Folclore Eslavo

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , , , ,

Castles of Time - Nemtsev Yuriy. Óleo sobre tela. 70x100cm. 2016.


 Era uma vez um soldado muito cuidadoso e disciplinado.
 Um dia, quando lhe faltava já pouco tempo para terminar o serviço militar, os superiores começaram a embirrar com ele e a dar-lhe bengaladas. O soldado que não os podia aturar, resolveu fugir. Pôs a mochila ás costas e a espingarda ao ombro, e começou a despedir-se dos camaradas. Um deles perguntou-lhe:
   - Aonde vais?
 O soldado respondeu:
   - Não me façam essa pergunta. Passem muito bem.
 Foi andando, andando, até que chegou a outro reino. Aí viu uma sentinela e quis saber:
   - Não haverá por aqui algum lugar onde eu possa descansar?
 A sentinela foi perguntar ao sargento, o sargento ao oficial, este ao general, e o general perguntou ao próprio czar:
 O czar mandou chamar o soldado e perguntou-lhe:
   - Quem és tu, donde vens e aonde vais?
 O soldado confessou tudo e pediu ao rei que o tomasse ao seu serviço.
 O czar disse-lhe:
   - Está bem, ficas aqui de guarda ao jardim. Tem havido aqui coisas estranhas: alguém tem vindo partir as minhas árvores prediletas. Trata pois de guardar bem o jardim, que te hei de recompensar bem.
 O soldado aceitou e pôs-se a guardar o jardim.
 Durante dois anos tudo correu bem. Mas no terceiro ano, o soldado foi um dia ver todo o jardim. E viu que metade das melhores árvores estavam todas partidas. Ficou muito assustado, pois tinha medo que o czar o mandasse enforcar.


 Agarrou na espingarda e encostou-se a uma árvore, pensativo.
 De repente, ouviu-se um grande barulho. Era uma ave enorme e medonha que vinha partir árvores. O soldado deu-lhe um tiro, mas não a matou. Apenas a feriu na asa direita. A ave deixou cair da asa três penas e fugiu. O soldado persegui-a, mas como a ave corria muito depressa, safou-se para um abismo onde ele nunca lhe poderia deitar a mão.
 O soldado não teve medo e atirou-se também. Feriu-se e ficou sem sentidos durante um dia. Quando voltou a si, levantou-se e olhou em volta, vendo um mundo igual ao de cima.
 Pensou que lá também devia haver gente. Foi andando até que chegou a uma grande cidade. À porta estava uma sentinela.
 O soldado começou a fazer perguntas ao colega, mas este calava-se e não se mexia. Tocou-o então com uma mão e viu que era de pedra. O soldado foi ver o regimento da guarda e reparou em muita gente, uns de pé e outros sentados, mas todos petrificados.
 Depois foi passear pelas ruas, e viu em toda a parte a mesma coisa: ninguém era vivo, todos estavam petrificados. Foi dar em um balcão muito bonito, entrou e viu comidas e bebidas. Todavia, em volta estava tudo silencioso e deserto. O soldado comeu e bebeu, e depois sentou-se descansando.
 De repente sentiu que havia alguém na escada. Agarrou de novo na espingarda e pôs-se à porta.
 Então entrou no quarto uma bela princesa com aias e criadas. O soldado fez-lhe continência e ela cumprimentou-o carinhosamente, dizendo:
   - Bom dia, soldado. Conta-me como te achas aqui.
 O soldado assim fez:
   - Fiquei de guarda ao jardim do czar. Veio uma grande ave e começou a partir árvores. Dei-lhe um tiro e tirei-lhe três penas de uma asa. Corri atrás dela e cheguei aqui.
 Disse-lhe a princesa:
   - Essa ave é minha irmã. Tem feito muito mal e até prejudicou o meu reino: petrificou todo o povo. Mas olha, pega neste livrinho, põe-te aqui a lê-lo desde o anoitecer até os galos cantarem. Por mais medo que tenhas, não faças caso, lê o livrinho e segura-o bem para não o tirarem de ti, senão morres. Se estiveres assim três noites, caso contigo.
 O soldado aceitou.
 Ao anoitecer, pegou o livrinho e começou a ler. De súbito ouviu-se um grande barulho e entrou no palácio um exército inteiro, apareceram diante do soldado os seus antigos superiores e começaram a repreendê-lo e a ameaçá-lo de morte por ter fugido. Carregaram as espingardas e apontaram-nas ao moço. Mas ele não lhes ligou, continuando a ler.
 Cantaram então os galos e tudo se sumiu de repente.
 A noite seguinte foi mais medonha e a terceira pior ainda. Vieram algozes com serras, machados e martelos e queriam tirar-lhe o livro das mãos e dar cabo dele. Custou-lhe muito aguentar aquilo.
 Mas assim que os galos cantaram sumiu-se tudo, na segunda e na terceira noite, tal como na primeira.
 No mesmo dia ressuscitou o reino. Havia grande movimento nas ruas e nas casas. A princesa apareceu o palácio com os seus generais e todo o séquito. Agradeceram muito ao soldado, tratando-o por majestade.
 No dia seguinte o moço casou com a bela princesa e viveram muito felizes.


    Fonte:

MOUTINHO, Viale. Contos Populares Russos. São Paulo: editora Landy, 2000.

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