Os Karajás do rio Araguaia contam que, na época de seus antepassados, a estrela vespertina brilhava tanto, que a jovem e bela Imaherô se apaixonou por ela, julgando que fosse um bravo guerreiro vivendo lá no céu. Tanto ela pediu à estrela que descesse à Terra que um dia isso aconteceu.
Mas Imaherô se decepcionou muito, pois a estrela vespertina, que se chamava Tahina-Can, veio na forma de um homem velho e fraco. Quando ele disse que viera do céu para casar-se com ela, a moça fugiu espavorida, dizendo que não poderia aceitar um esposo como ele. Porém a irmã de Imaherô, Denakê, sentiu piedade do velho e disse que se casaria com ele. Os dois então passaram a viver juntos, e eram muito felizes.
Tahina-Can foi um dia ao rio Araguaia e de suas águas retirou as sementes de mandioca, milho e abacaxi. Plantou as primeiras roças; graças a ele, as plantas cresceram para alimentar a tribo. Contudo, quando ia trabalhar na roça ia sempre sozinho, pois para plantar e colher ele se transformava em um belo e forte rapaz, mas não queria que ninguém o visse. Um dia, como ele demorava a voltar, Denakê saiu para procurar pelo esposo e teve a maior surpresa de sua vida, encontrando-o sob aquela forma.
Depois daquele dia ele não mais se transformou como um velho homem, o que deixou Imaherô desejosa de ser sua esposa. Porém, quando ela lhe pediu que deixasse sua irmã para casar-se com ela, que era mais bela, Tahina-Can negou, pois Denakê o aceitara antes, e somente ela merecia seu amor.
Imaherô ficou muito triste por ter assim perdido o amor que tanto esperava. Entrou na floresta e nunca mais voltou. Dizem que ela foi transformada no pássaro urutau, e que desde então solta seus lamentos na mata, chorando pela estrela perdida.
Sobre os Índios Karajá
Os Karajá ou Iny, como se auto denominam, vivem na região dos rios Araguaia e Javaés, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Hoje contam com cerca de quatro mil indivíduos que apesar de toda a socialização com os não-índios ainda mantêm firme sua cultura, tradições, língua e ensinamentos. A denominação Karajá é datada do ano de 1908, quando foi consagrada após sofrer diversas modificações, mas a auto denominação original dessa etnia sempre foi Iny, que na língua deles significa “Nós”. Em relação a língua original da etnia, classificamos ela como pertencente ao tronco Macro-Jê que engloba também o Javaé e o Xambioá, que apesar de algumas diferenças na pronuncia são facilmente entendidos entre si. Hoje em dia grande parte das tribos Karajá já tiveram contato com o português e o utilizam no seu cotidiano, como forma de facilitar o contato com os não-índios.
Os Karajá têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional, o que, no entanto, não os impediu de manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face. Ao mesmo tempo, buscam a convivência temporária nas cidades para adquirir meios de reivindicar seus direitos territoriais, o acesso à saúde, educação bilingue, entre outros.
Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios
1 comentários:
Cara... que muito foda.
Postar um comentário