Havia vários dias que o curandeiro se desesperava, afundado em sua dor: sua única filha acabava de morrer e, por isso, a existência ficara insuportável para ele. reuniu todos os amigos e lhes participou que desejava ir se reunir à filha no mundo dos Espíritos. Cinco homens se ofereceram para acompanhá-lo. No entanto, não conheciam a estrada que levava àquele país longínquo. Primeiro tinham de encontrar Winabojo, o único que poderia lhes indicar o caminho.
Winabojo era um Manitu dotado de poderes extraordinários. Antigamente, já havia viajado pela Terra, realizando inúmeras proezas. Agora, já havia muitas luas que, sentindo que estava envelhecendo, resolvera se retirar para longe dos olhares dos homens. Mas para onde? Esse era um novo problema! O curandeiro foi até o túmulo de seus ancestrais. Invocou seus espíritos, que não demoraram a lhe responder: Winabojo estava morando numa ilha, situada na direção do sol nascente. E lá ficaria, enquanto os rios corressem e o capim fosse verde. Satisfeito com essa resposta, o curandeiro reuniu seus companheiros e partiram todos.Lançando suas canoas no maior dos lagos, remaram vigorosamente. Após uma longa travessia, finalmente desembarcaram na ilha que buscavam. Lá estava Winabojo. Sua altura e robustez eram impressionantes. Estava perfeitamente imóvel. Sobre sua cabeça crescia um cedro magnífico que lhe servia de cabeleira - as raízes cobriam suas costas perfeitamente e rodeavam todo o seu corpo. Após cumprimentá-lo respeitosamente, os seis homens explicaram o que desejavam. Winabojo lhes indicou o caminho do país dos Espíritos, e os advertiu sobre os perigos que iam enfrentar:
- Aqui estão os colares contra as serpentes. Vocês devem usá-los. Não os retirem, a pretexto de nada. Quando estiverem entre os espíritos, não demorem mais de quatro dias e quatro noites. De dia, os Espíritos não se mostram. Mas de noite, reunidos na maior das tendas, eles dançam. Juntem-se a eles, sentem-se entre eles. Quando a moça aparecer, seu pai deve agarrá-la, fechá-la num saco e guardá-la lá dentro com firmeza, até voltarem ao país dos homens. Boa sorte!
O curandeiro e seus amigos agradeceram a Winabojo e seguiram seu caminho. Não tardaram a entrar no mundo Espíritos e a descobrir qual era a maior tenda de lá. Quando a noite caiu, os Espíritos entraram na tenda e nossos heróis se sentaram no meio deles. Passaram a noite toda assistindo à dança dos Espíritos, mas a moça não apareceu. Voltaram na noite seguinte. Apesar dos conselhos expressos de Winabojo, um dos índios tirou o colar que o protegia das serpentes. Na mesma hora, transformou-se em Espírito. Os sobreviventes continuaram a procurar a moça na multidão, mas não a encontraram. Aconteceu o mesmo na terceira noite. Só no decorrer da quarta noite, quando já estava quase amanhecendo, o pai reparou numa mulher com o rosto coberto. Pelo andar, reconheceu que era sua filha. Esperou que ela passasse perto dele, deu um salto e a agarrou. A jovem tentou escapar dos braços que a agarravam mas, ajudado pelos amigos, ele conseguiu metê-la num saco, que fechou hermeticamente. E já era hora de partir, pois vinha chegando o amanhecer e aquela estada não podia durar mais. Carregando seu fardo, os índios se afastaram de pressa.
No caminho de volta, deram uma parada junto a Winabojo e este disse:
- Toda noite vocês devem deixar o saco num lugar bem protegido. Cuidem para que fique bem amarrado. Em seguida, andem para trás, à distância de um grito, e instalem seu acampamento. Façam isso todas as vezes que o sol se puser, até chegarem em casa.
Os índios respeitaram essas recomendações, o que lhes permitiu voltar à aldeia sem maiores problemas. O pai então construiu uma bela moradia e preparou lá dentro um lugar, de galhos de cedro, para depositar o saco. Depois saiu, e ficou lá fora esperando. Daí a pouco, ouviu a voz da filha chamando:
- Pai, venha cá me soltar!
Louco de esperança, o curandeiro correu para a cabana e soltou os nós com mãos febris. A jovem apareceu, bem viva e resplandecente de saúde. Graças ao amor paterno e com a ajuda de Winabojo, ela ressuscitara!
* Manitu: entre os índios algonquinos, é uma espécie de força mágica pertencente não só aos seres vivos em geral, mas também aos fenômenos naturais. Algumas outras vezes, "Manitu" pode significar, também, uma entidade ou uma divindade segundo as crenças e religiões desses povos.
Sobre a tribo Chippewa
São uma tribo de índios algonquinos, cujo nome provém de adaawe “comerciante” ou de ahtuhwuh. Originariamente viviam nas margens dos rios Ottawa e French, na baía Georgian, na orla setentrional do Lago Hurón e ao Norte de Michigan. Atualmente vivem em Ontário , Kansas, e Oklahoma.
São o terceiro maior grupo de nativos americanos nos Estados Unidos, superado apenas por Cherokee e Navajo.
Os Chippewa, são um importante grupo de nativos americanos, dividido igualmente entre os Estados Unidos e Canadá. O nome popular é uma modificação de Ojibwa, porém também se chamam Anishinabek, ou “homens originais”, e porque tinham a sua residência principal em Sault Sainte Marie, na saída do Lago Superior, os franceses os conheciam pelo nome de Saulteurs. Pertencem ao grande grupo dos algonquinos e estão relacionados com as tribos Ottawa e Cree. Vieram do leste, avançando ao longo da região dos Grandes Lagos, e tiveram sua primeira morada em Sault Sainte Marie e Shaugawaumikong (Chegoimegon francês) na costa sul do Lago Superior, perto da atual Lapointe Bayfield, Wisconsin.
Fonte: livro Índios da América do Norte - Mitos e Lendas, série dirigida por Gilles Ragache, texto de Alain Quesnel, tradução por Ana Maria Machado.
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