Anansi, a Aranha - Mitologia Africana - Povo Ashanti

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , , , ,


 O mais esperto de todos os seres da Terra foi Kwaku-Anansi, a Aranha, que era filho de Nsia e casado com a mulher chamada Aso, Anansi recebeu esse nome do próprio deus do Céu, Nyankompong, por sua esperteza.
 Dizem que Anansi queria conhecer todas as histórias que apenas o deus sabia, e por isso um dia ele foi pedir a Nyankompong que lhe vendesse suas histórias. Mas o deus disse que, se muitos já tinham tentando comprá-las e não puderam pagar o preço, Anansi também não poderia. Pressionado para saber quanto custariam as histórias, o deus do Céu revelou:
  - Traga para mim a jiboia Onini, o leopardo Osebo, o enxame de vespas Mmoboro e o espírito Mmoatia. Então eu lhe venderei minhas histórias.
 Anansi prometeu que não só traria todos eles, mas ainda sua mãe Nsia, como pagamento ao deus. Foi para casa e consultou a esposa. Aso lhe disse que, para apanhar a jiboia, ele precisaria cortar um galho de palmeira e um pedaço de trepadeira. Anansi fez isso, e foi com Aso para a beira do rio. Lá, os dois começaram a discutir.
  - É maior! - dizia Aso.
  - Não é maior! - respondia Anansi.
 Onini ouviu a discussão e foi ver do que se tratava. Anansi lhe disse:
  - Minha mulher diz que esta folha de palmeira é maior do que você. Eu digo que você é maior que a folha da palmeira! Quem está certo?
 Para fazer a prova, a jiboia se estendeu sobre a folha, e, sem perder tempo, Anansi a amarrou na haste, usando a trepadeira. Onini não podia escapar. Aso, então, ensinou ao marido:
  - Para pegar Mmoboro, arrume uma cabaça com água e uma folha de bananeira.
 Anansi fez o que a mulher dissera. Tomou uma cabaça, encheu-a de água e andou até achar o enxame de vespas. Então jogou metade da água sobre si mesmo e a outra metade sobre as vespas, e deixou a cabaça no chão, dizendo:
  - Está chovendo! Precisamos nos proteger. Eu tenho uma folha de bananeira para me esconder, mas as vespas não têm! Deviam entrar na cabaça, ali a chuva não vai molhá-las...
 As vespas acharam mesmo que estava chovendo e voaram todas para dentro da cabaça. Mais que depressa, Anansi tapou o recipiente com a folha de bananeira. Depois disso, Aso mostrou ao marido como cavar um grande buraco e cobrir a abertura com folhas, bem no meio do caminho entre a cova do leopardo Osebo e o riacho onde ele ia beber água. No dia seguinte, os dois foram até lá e viram que Osebo havia caído dentro do buraco, e podia ser facilmente aprisionado.
 Anansi estava feliz com as capturas, mas ainda faltava apanhar Mmoatia, o espírito, e não é nada fácil prender os espíritos. Aso e Anansi então esculpiram uma boneca de madeira e a cobriram com a seiva de uma planta muito grudenta. Deixaram-na perto do lugar em que os espíritos costumavam passear, e junto da boneca puseram uma cuia cheia de um delicioso mingau de mandioca. Quando Mmoatia, o espírito, passou por ali, teve vontade de comer o mingau e pediu à boneca se podia experimentar. Como a boneca nada dissesse, ele deu-lhe um tabefe e sua mão ficou presa à seiva. Tentou bater na boneca com a outra mão, que também ficou presa. E acabou sendo capturado por Anansi, que o levou junto com o leopardo, a jiboia e as vespas à presença de Nyankompong.
 O deus ficou impressionado, pois até agora ninguém tinha conseguido pagar o preço que ele cobrara, e Anansi levara também ao deus sua mãe Nsi. Deu, então, a Anansi todas as sua histórias, e até hoje elas são conhecidas como Histórias da Aranha.
  Anansi viveu inúmeras outras aventuras e enganou muitos deuses, homens e animais. Porém, certa vez, sua própria esperteza se voltou contra ele. Aconteceu que, não muito longe das terras de Anansi, vivia um rei muito poderoso, e que possuía um bode enorme, invejado por todas as pessoas. O rei não permitia que ninguém sequer tocasse em seu bode, que podia andar por onde quisesse e comer de tudo o que quisesse. Pois o bode, certo dia, saiu das terras em que morava e se pôs a comer os rebentos do milho da plantação de Anansi.
 Não demorou e a Aranha foi conferir sua lavra de milho, mas descobriu que ela estava devastada; desesperado, percorreu o milharal e deu com o bode do rei, lá no meio, ainda mastigando o milho que fora tão cuidadosamente cultivado. Furioso, Anansi pegou uma pedra e jogou na cabeça do bode, que caiu morto no meio dos pés de milho.
 Quando a raiva passou, Kwaku-Anansi olhou para o bode morto e soube que estava perdido. O rei condenava à morte quem tocasse seu animal, e logo descobriria quem o matara... Sentou-se então sob uma árvore e se pôs a pensar em algum estratagema que o livrasse da fúria do rei. De repente, um fruto muito suculento caiu dos galhos lá em cima, bem sobre sua cabeça, e aquilo lhe deu uma ideia.
 Anansi pegou o corpo do bode morto e o pendurou em um dos galhos da árvore. Saiu à procura de um vizinho,, outra aranha, maior e mais forte que ele. Disse ao vizinho que sabia de um lugar onde se podiam colher frutos saborosos, apenas sacudindo-se o tronco da árvore. E, quando as duas aranhas chegaram junto à árvore, pediu ao vizinho que sacudisse o tronco. De fato, quando os galhos balançaram pela força da outra aranha, muitos frutos caíram, mas junto deles veio também o bode morto.
  - Você matou o bode do rei! - exclamou Anansi, deixando apavorado o vizinho. - Bem, se for ao rei e confessar o que fez, talvez ele não se importe.
 A outra aranha achou que não tinha outra coisa a fazer senão confessar o acontecido ao rei. Tomou o corpo do bode e, a caminho da casa do soberano, parou para falar com sua mulher sobre o que acontecera. A mulher chamou o marido de imbecil: desde quando bodes sobem em árvores? Ele havia caído em alguma armadilha.
 A conselho da mulher, o vizinho então foi ao palácio do rei, mas nem levou o bode e nem falou com o soberano. Quando voltou do passeio, foi dizer a Anansi que ele estava certo, o rei não tinha se importado nem um pouco com a morte do animal, e ainda lhe tinha dado uma parte da carne do bode! Anansi ficou inconformado, achando que aquilo não era justo: se ele é que tinha matado o bode, ele é quem deveria ganhar uma porção de sua carne! Ao ouvir aquilo, o vizinho e sua mulher arrastaram Kwaku- Anansi á presença do rei e lhe contaram tudo. A aranha não teve outro jeito senão confessar e pedir o perdão do rei.
 Mas este ficou tão furioso que caiu de pontapés sobre Anansi, e foram tantos golpes que a aranha se dividiu em muitos pedacinhos; cada um fugiu para se esconder em um canto. E é por isso que os descendentes da aranha, que antes era enorme, hoje são bem pequenos e se escondem pelos cantos das casas...


Fonte: Livro "Volta ao Mundo em 80 Mitos", por Rosana Rios.

0 comentários:

Postar um comentário