A Ponte de Zhaozhou - Conto Popular Chinês

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , , , , , , ,

  

   A pedido de um leitor, que pediu para que eu postasse mais sobre a mitologia chinesa, eis aqui um conto Han, bem popular na China:


   Na cidade Zhazhou havia duas pontes, uma do lado sul e outra do lado oeste. A maior era a do sul e foi construída por Lu Ban, e a mais pequena, ou seja, a do oeste foi construída pela sua irmã Lu Jiang.
   Lu Ban e a sua irmã andavam a viajar pela China até que chegaram a Zhaozhou. Lá ao longe viram as muralhas douradas da cidade, mas, quando se aproximaram, viram que um rio, cujas águas brilhavam com a luz do sol, lhes barrava o caminho. Na margem havia uma multidão de pessoas que gritavam e se empurravam para ver quem é que conseguia passar primeiro para entrar na cidade. O rio tinha uma corrente bastante forte e só havia dois barquinhos para fazer a travessia. Por isso levava muito tempo a passar e além disso levava poucas pessoas de cada vez. Entre a multidão havia comerciantes de arroz, de palha, carregadores de sal, vendedores de tâmaras, camponeses que levavam algodão para fiação, comerciantes de tecidos que iam para a feira do templo... Uns levavam toda a carga aos ombros, outros levavam-na em burros ou em carroças.
   Muitas vezes alguns perdiam a paciência e provocavam cenas de desacato. Ao ver isto, Lu Ban perguntou aos que estavam à sua volta:
  - Por que é que não constroem uma ponte sobre o rio?
   Perguntou a várias pessoas e todas responderam:

   Dez lis tem o rio de largura,
   Há areias movediças na fundura.
   Muitos o têm projetado
   Nenhum o levou de acabado.

   Então Lu Ban e Lu Jiang examinaram o terreno e a força da água e resolveram construir duas pontes.
   Lu Jiang estava farta de ouvir gabar a habilidade do irmão, mas, como não estava muito convencida disso, quis desafiá-lo e por isso disse-lhe:
  - Cada um de nós vai construir uma ponte e havemos de ver quem é que a acaba primeiro. Começamos a obra ao cair da noite e quando o galo cantar, a ponte tem de estar construída. Quem não conseguir acabar, deve dar-se por vencido.
   Lu Ban aceitou. E ficou então decidido que iria construir a ponte do lado sul da cidade e Lu Jiang do lado oeste.
   Mal Lu Jiang chegou ao local escolhido para a construção da ponte, começou logo a fazer os preparativos necessários e pôs mão à obra. Ainda não era meia noite e já tinha acabado. Pensou então que desta vez iria passar à frente do irmão e querendo ver como é que lhe corriam as coisas, sem que ninguém a visse, foi espiá-lo. Mas qual não foi o seu espanto ao chegar lá e ver que estava tudo na mesma. Não viu nem sombras de nenhuma ponte e o seu irmão também não estava por ali. "onde é que ele se meteu?", interrogou-se admirada. Mas logo viu ao longe um pastor com um rebanho de carneiros que vinham a descer o monte Taihang. Rolavam pela encosta abaixo, ás cambalhotas, e vinham na sua direção.
   Quando chegaram perto de onde ela estava, viu que o pastor era o seu irmão e que o rebanho eram pedras de mármore, lisinhas e brancas como a neve. Ao ver isto sentiu um aperto no coração. Com tais pedras o seu irmão iria decerto construir uma ponte sólida e muito bela. O que seria da sua em comparação com esta? Era preciso encontrar uma maneira de a embelezar. Teve uma ideia, correu logo para a sua ponte e pôs-se a ornamentar os resguardos da ponte com esculturas. Ao fim de certo tempo, esta estava já toda decorada com esculturas de um guardador de gado, de uma tecelã, de uma fênix a voar em direção ao sol, de flores, de plantas raras, etc. Admirou sua obra e sentiu-se feliz. E não aguentando mais estar ali, correu de novo para junto do lugar onde seu irmão devia construir a ponte para ver se ele já tinha terminado. E desta vez sim, a ponte estava já quase acabada, só faltava pôr mais duas pedras. Então cheia de impaciência, Lu Jiang imitou por duas vezes o canto do galo, o que fez com que todos os galos da aldeia acordassem e se pusessem a cantar: có, có, có, có, có!... Ao ouvi-los, Lu Ban apressou-se a colocar as pedras que faltavam e assim a sua ponte ficou concluída até o cantar do galo como tinha sido combinado.
   Das suas pontes, uma era grande e a outra era pequena. A ponte que Lu Ban construíra era de uma grandeza imponente e tinha um aspecto sóbrio, por isso ficou conhecida por "a grande ponte de pedra".
   A que Lu Jiang tinha construído estava decorada com belas esculturas. Ficou conhecida por "a pequena ponte". A partir de então, sempre que as moças queriam bordar almofadas, pantufas, etc., as mães aconselhavam-nas a ir até a ponte oeste da cidade para copiar um daqueles bonitos arbustos de flores que ornamentavam os resguardos da pequena ponte.

Ilustração retratando Lu Ban e sua irmã Lu Jiang

   A notícia de que em Zhaozhou tinham sido construídas numa só noite uma ponte tão sólida e outra tão bonita correu rapidamente por todas as cidades da região e chegou aos ouvidos dos *Oito Imortais, que viviam nas grutas de Penlai. Um deles, Zhang Guolao, cheio de curiosidade, mal ouviu a notícia foi buscar o seu burro de crina negra e pôs-lhe às costas um saco no qual tinha colocado do lado esquerdo o Sol e do lado direito a Lua. E convidou o rei Chai para o acompanhar, o qual levou um carrinho cujo estrado era de ouro e as pegas de prata. Puseram em cima do carrinho as quatro grandes montanhas e lá foram para Zhazhou. Assim que chegaram junto da ponte, Zhang Guloao perguntou em voz alta:
  - Quem é que construiu essa ponte?
   Lu Ban, que estava ali a verififcar a solidez dos resguardos e do vão da ponte, respondeu:
  - Fui eu. O que aconteceu? Há alguma coisa de errado?
   Zhang  Guolao apontou para o burro e para o carrinho de mão e disse:
  - Nós queríamos atravessar a ponte, julgas que ela pode aguentar este peso todo?
   Lu Ban desatou a rir e respondeu:
  - Se mulas e cavalos passam por ela, por que é que um burro e um carrinho de mão não haviam de poder passar? Vá! Passem!
   Zhang Guolao e o rei Chai trocaram um sorriso entre eles e começaram a atravessar a ponte. Mas lhe puseram o pé em cima, esta começou a abanar como se fosse desmoronar-se. Lu Ban correu para debaixo dela para a aguentar, segurando-a com os braços e só assim os dois puderam passar sem problemas. A ponte não só aguentou bem como ficou ainda mais sólida. Só que do lado sul ficou um pouco fora do lugar. Hoje podem-se ver lá sinais dos cascos do burro de Zhang Gulao e o rodado deixado pelo carrinho de mão do rei Chai que ficou marcado numa distância de um metro. Por baixo da ponte vêem-se ainda também as marcas das mãos de Lu ban. Houve tempo em que se vendiam pinturas de Ano Novo que representavam Lu Ban a segurar a ponte.
   Depois de passar para o lado de lá, Zhang Gulao voltou-se para Lu Ban e disse:
  - É uma pena que a tua vista seja tão má!
   Lu Ban só então viu quem eles eram. Reconhecendo que seus olhos não foram capazes de identificar logo tão importantes personagens, envergonhado, arrancou um dos seus olhos, pousou-o atrás da ponte e foi-se embora sem dizer nada. Pouco depois, o rei dos escudeiros passou por ali e vendo o olho de Lu Ban, apanhou-o e pô-lo na testa. E é por isso que em todas as pinturas e desenhos o rei dos escudeiros aparece sempre com três olhos.
  Lu Ban hoje é o patrono dos carpinteiros e é por isso que estes fecham um olho quando querem verificar se uma linha está direita.
  Durante várias gerações, os habitantes de Zhaozhou recordaram Lu Ban com reconhecimento pela construção da grande ponte de pedra e ainda hoje os guardadores de gado cantam esta canção:

   Quem construiu a ponte de Zhaozhou? 
   E quem foi que, qo passar lá com burro,
   a fez inclinar um pouco para o oeste?
   E quem é que lá passou com um carrinho de mão,
   e deixou bem marcado o rodado?
   Foi Lu Ban que fez esta ponte.
   E Zhang Gulao, ao passar lá com o seu burro,
   fê-la inclinar para o lado oeste.
   E foi o rei Chai que, com o seu carrinho,
   Aí deixou bem marcado um rodado.




Foto da ponte de Zhaozhou

   *Os Oito Imortais são um grupo de deidades mitológicas chinesas que aparecem em lendas e textos tradicionais da doutrina taoista. Eles agem como super-heróis santos e atuam na vida de seus devotos de várias maneiras. Diferentemente dos deuses de mitologias politeístas, os Oito Imortais são pessoas comuns que chegaram à iluminação e se tornaram imortais e etéreas. Todos eles estão ligados a figuras históricas (que realmente existiram ou não) das dinastias reais chinesas entre 206 a.C. e 1279. Podem ser, por exemplo, um primo de um imperador da dinastia Tang ou um general sem nome do exército dos Song.




  Fonte: livro Contos Populares Chineses, traduzido pelo Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim, República Popular na China.
 http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-sao-os-oito-imortais

1 comentários:

a disse...

História emocionante

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