Os habitantes da tribo se alimentavam apenas com farinha de mandioca, jabutis e cobras sucuri. Certa vez, capturaram uma grande sucuri que havia atacado muitos dos moradores da aldeia. Eles a queimaram, e se surpreenderam ao ver que, das cinzas da cobra queimada, começaram a surgir diversas plantas: a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas árvores de frutas que ninguém ali conhecia. Não sabiam o que fazer com aquilo, até que apareceu do céu um estranho pássaro que lhes ensinou a prepará-los como alimentos e também a plantar suas sementes para que se multiplicassem. A partir daquele dia, o povo começou a fazer as roças.
Algum tempo depois, houve uma grande chuva, que ameaçava inundar o mundo. Sinaá, o sábio pajé, viu que todos iam morrer na enchente, e resolveu construir uma enorme canoa, para que seu povo sobrevivesse e tivesse como se sustentar. Ele tinha razão em se preocupar: as chuvas aumentaram, o rio transbordou, e a inundação cobriu toda a Terra. Mas Sinaá havia embarcado não apenas seu povo na canoa, levara também uma muda de cada espécie das plantas que cultivavam nas roças. Assim, quando a enchente passou, eles puderam plantar de novo aquelas mudas e viveram livres da fome.
Sinaá era reverenciado por todos, mas vivia sozinho. Somente quando já estava bem velho foi que decidiu se casar: escolheu então como esposa uma grande aranha, que lhe teceu belas vestes para se aquecer.
Dizem que até hoje ele percorre as matas, com suas barbas longas e roupas tecidas pela aranha. Por mais velho que fique, Sinaá não morre; tem o poder de remoçar cada vez que toma um banho de cachoeira, porque deseja viver até que seu povo chegue ao fim. Quando isso acontecer, Sinaá será aquele que vai ajudar o mundo a terminar. Para isso, ele irá derrubar o tronco da árvore que sustenta o céu. Sem seu suporte, o céu vai desabar sobre todos os povos, e é assim que a Terra irá acabar.
Sobre a tribo Kamayurá:
Os Kamayurá contando com cerca de 467 indivíduos pertencentes a família linguística Tupi-Guarani, constituem uma etnia indígena brasileira, e estão localizados no Mato Grosso. São habitantes do Parque Indígena do Xingu, às margens da zona de confluência entre dois importantes rios da microbacia xinguana São conhecidos pela sua grande importância cultural, fato identificado nas diversas relações intergrupais que eles estabelecem com etnias semelhantes em suas características mas com linguagens diferentes.
Os Kamayurá possuem um sistema tradicional caracterizado pela heterogeneidade, fruto do intenso processo de matrimônio intertribal e dos enérgicos laços de coesão que mantêm com outras sociedades indígenas do mesmo espaço geográfico.
2 comentários:
Acho que, além das lindíssimas histórias, a melhor parte é a apresentação histórica e geográfica que você faz dos povos que cultuam com estas lendas e influenciam tanto na civilização humana. Sinceramente, um dos melhores blogs que eu já li, independentemente do tema (que por sinal é de escolha fascinante!).
Muuuuito obrigada ❤ Gratidão pelo seu carinho e pela sua atenção. Fico feliz que goste!
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