O Macaco Ancestral - Mitologia Tibetana

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , ,



  Há muito tempo, um macaco começou a escalar as altas montanhas nas terras do Himalaia. Ele tinha apenas a forma de macaco: na verdade era um discípulo de Buda que fora enviado ao país das neves para preparar a vinda dos primeiros seres humanos naquela região.
  Por vários dias o macaco subiu pelas escarpas, até que a vegetação desapareceu e o terreno pedregoso surgiu. Subiu mais, e viu a neve cobrir as pedras e o gelo brilhar. Com muito esforço, alcançou os picos mais altos: o teto do mundo. Ele sabia que, naquelas plagas, viviam apenas demônios malignos. Procurou uma caverna para se abrigar do vento gelado e, na entrada, sentou-se em posição de lótus, mantendo-se em meditação.
  Durante muito tempo, permaneceu ali, meditando, desligando-se de todo frio, fome ou medo. Até que começou a ser perturbado por ruídos estranhos e ventos fortes. Abriu os olhos e viu que diante dele havia uma horrenda e assustadora criatura. Era a demônia dos rochedos, que começou a pular ao redor do macaco, fazendo caretas e soltando guinchos horríveis.
  O maco ordenou-lhe que fosse embora, mas a demônia sumia e tornava a aparecer. Até que ela lhe disse:
 - Eu me apaixonei por você. Case-se comigo!
  O macaco não tinha a menor intenção de casar-se com uma demônia, mas ela ameaçou:
 - Se não me aceitar como esposa, terei de casar-me com um demônio. E nós teremos muitos filhos, que irão atormentar o mundo e devorar as criaturas lá embaixo!
  Apesar das recusas do macaco, durante sete dias a demônia voltou e , todas as vezes, propunha-se a casar com o macaco. Preocupado com as ameaças que ela fizera, resolveu consultar seu mestre, o Buda. E o conselho do mestre foi estranho...
 - Case-se com ela - foi a resposta do Iluminado.
  Mesmo sem entender por que, o macaco acatou a palavra do Buda e casou-se com a demônia. Do casamento nasceram seis filhos, que herdaram o corpo peludo do pai e os cabelos longos da mãe. Os seis possuíam o dom da fala, mas apenas o mais velho tinha bom coração: os outros eram cheios de inveja e estupidez.
  O macaco resolveu levá-los para uma região menos fria, e desceu a montanha com os filhos. Deixou-os na floresta onde viviam macacos reais. E tornou a subir a montanha, voltando a meditar em sua caverna. Meses depois, achou que deveria descer e verificar como estavam os seis filhos. Que surpresa! Havia agora mais quinhentos de sua raça vivendo na floresta. Alguns deles eram amáveis, mas muitos eram violentos e selvagens; estes provavelmente seriam os descendentes dos filhos estúpidos. Todos, porém, sentiam muito frio. Preocupado com a sobrevivência deles, o macaco foi mais uma vez consultar seu mestre, o Buda.
 - Se tiver paciência, verá que eles irão se transformando em seres humanos aos poucos, e se mudarão para terras mais quentes. Mas eu não quero ver o seu sofrimento, e vou ajudá-los.
  Então o Buda foi até o centro do mundo, onde fica a montanha sagrada. Lá, no coração da montanha, pegou três coisas: três fios de lã, um punhado de cevada e alguns pedaços de metais preciosos. Sobre o país das neves ele espalhou tudo aquilo, para determinar o destino dos descendentes do macaco e da demônia.
  Uma parte deles foi viver onde havia caído os fios de lã: esses se tornaram pastores. Os outros se dirigiram aos locais onde haviam caído os grãos de cevada, e se tornaram agricultores. Por fim, outros foram para as plagas em que caíram os pedaços de metais, e se tornaram ferreiros.
  E foi assim que os homens, descendentes daquele macaco, povoaram o teto do mundo, terra das neves eternas, e foram os ancestrais do povo tibetano.


Fonte: livro A Volta ao Mundo em 80 Mitos, de Rosana Rios

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