O Sampo - uma das aventuras de Vainamöinen - Mitologia Finlandesa

Author: Luiza / Marcadores: , , , , , , , , , , ,



  Quando Vainamöinen se cansou de viver sozinho, desejou uma esposa. Achou que o melhor local para procurar por uma mulher seria nas terras mais ao norte. Para atravessar o mar ele voou nas asas de uma águia. Porém, os ventos o sacudiram tanto durante a travessia, que ele chegou do lado de lá cansado demais. Não conseguia fazer nada a não ser deitar-se no chão. Também chorava de saudades da sua terra.
  Morava naquelas bandas a velha Louhi, a mulher desdentada do norte, uma grande feiticeira; ela escutou seu choro e foi falar com ele.
 - Quer que eu o mande de volta para sua casa? O que você me dará se eu fizer isso?
  Vainamöinen ofereceu-lhe ouro e prata, mas ela não aceitou.
 - Eu só quero uma coisa - a bruxa lhe respondeu. - Que você trabalhe na forja e fabrique para mim o Sampo, o moinho da abundância. Eu lhe darei uma pena de ganso, o leite de uma vaca, um grão de cevada e a lã de uma ovelha para forjar o moinho. Se fizer isso, não apenas eu o levarei de volta para sua terra, mas ainda lhe darei minha filha em casamento.
  Vainamöinen sabia que não possuía conhecimentos suficientes para forjar o Sampo, mas conhecia alguém que seria capaz de fazê-lo: Ilmarinen, o ferreiro. Pediu, então, ao vento que o trouxesse para as terras do norte. O vento concordou e soprou para lá Ilmarinen, que imediatamente se pôs a trabalhar em sua forja. Com a pena de ganso, o leite da vaca, o grão de cevada e a lã de ovelha, ele usou o martelo e trabalhou até forjar o moinho mágico. Quando ficou pronto, o Sampo tinha três lados. Em um deles moía milho; em outro lado, moía sal; do terceiro lado saía ouro. Vainamöinen então entregou o Sampo a Louhi, que ficou satisfeitíssima. Ela trancou o Sampo com nove chaves para que ninguém o pegasse, e mandou que um navio feito de cobre levasse Vainamöinen e Ilmarinen de volta para casa. Contudo, recusou-se a entregar sua filha. Os dois amigos ficaram furiosos pelo fato de a feiticeira ter rompido o trato. Planejaram então roubar o Sampo, e foram pedir a ajuda de seu amigo Lemminkainen, que tinha muitos talentos.


  Voltando às terras da bruxa, Vainamöinen começou a tocar uma música muito suave em seu kantele para fazer Louhi dormir. Enquanto isso, Ilmarinen passou manteiga nas nove chaves para abrir as fechaduras. Lemminkainen puxou o Sampo, mas não conseguia pegá-lo, pois ele tinha criado raízes mágicas e estava preso à terra. Foi preciso que Lemminkainen pegasse emprestados um boi e um arado, para puxar e cortar as raízes do Sampo. Somente então conseguiu levá-lo embora.


 Os três companheiros embarcaram no navio e se puseram em fuga para sua terra. A caminho, Lemminkainen começou a cantar uma canção de vitória, e isso despertou Louhi. Furiosa com o roubo, a feiticeira ordenou que sua filha envolvesse o navio em névoa para que eles se perdessem. Vainamöinen, porém, usou sua espada brilhante para abrir caminho no meio da neblina. Louhi então convocou uma enorme baleia das profundezas do mar para afundar o navio; Vainamöinen recomeçou a cantar e o canto fez a baleia mergulhar novamente na água.


 Pensando em criar uma tempestade, Louhi convocou o Velho dos Céus. Ele a atendeu, e em pouco tempo o navio de Vainamöinen enfrentava a fúria das águas no mar enlouquecido.
  Louhi aproveitou as dificuldades de seus inimigos e levou um navio cheio de homens para derrotar os heróis. Mas Vainamöinen viu que ela se aproximava e atirou ao mar um pedaço de madeira. A madeira transformou-se num recife, e o navio de Louhi bateu nele e afundou.


  A feiticeira, porém, não desistia. Amarrou foices em seus pés para servirem de garras e amarrou pedaços de madeira do navio naufragado em seus braços para que se tornasse asas. Usando ainda o leme do navio como cauda, virou uma águia poderosa. Assim transformada, ela voou atrás de Vainamöinen e pousou no mastro de seu navio. Vendo que Louhi o havia alcançado de novo, Vainamöinen propôs:
 - Senhora do Norte, vamos dividir o Sampo entre nós!
 - Nunca! - ela recusou - O Sampo é meu!
  Então Vainamöinen tomou um remo e a atacou, tentando derrubá-la do mastro. Mas quando ele finalmente conseguiu e Louhi estava caindo no mar, a bruxa conseguiu agarrar o Sampo e arrastá-lo consigo. Com isso, o moinho da abundância quebrou-se em três pedaços. A parte que moía milho se despedaçou, assim como a que soltava ouro.
  Louhi conseguiu ficar com um dos pedaços, que se tornou a herança do norte gelado. Vainamöinen agarrou outros dois pedaços para enriquecer a terra da Finlândia. Mas o moinho de sal não se quebrou, e até hoje ele ainda está lá no fundo do mar, moendo sal, e fará isso até o final dos tempos. Essa é a razão por que o mar é salgado.


Fonte: livro Volta ao Mundo em 80 Mitos
Ilustrações por Nicolai Kochergin

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